Friday, October 11, 2013

Gravidade

Alfonso Cuarón sempre foi um cineasta interessante de se acompanhar. Dono de uma linguagem adaptável e cronista das relações humanas (como comprovam alguns de seus longas anteriores, ...E Sua Mãe Também e Filhos da Esperança, por exemplo), o diretor trafega por narrativas e gêneros diversos, geralmente com sucesso, em trabalhos de competência técnica inegável.

Entretanto, mesmo que tenha construído uma carreira sólida e repleta de acertos, não há palavras para descrever o feito do mexicano e seu Gravidade, que lança Sandra Bullock no mais inóspito dos ambientes, o espaço sideral. O cineasta, afeito de montanhas-russas emocionais, constrói seu melhor trabalho ao apaixonar-se pela humanidade e pelo medo de sua protagonista.

A trama (escrita por Alfonso e seu filho Jonás) se mostra simples no início, mas se descortina em frente ao espectador conforme passam os minutos e percebemos as reais intenções do diretor. O experiente astronauta Matt Kowalski está acompanhando a doutora Ryan Stone em uma missão espacial para a manutenção do telescópio Hubble, quando uma chuva de destroços resultantes da destruição de um satélite russo causa um acidente e deixa os dois à deriva no espaço. Um fiapo de história que ganha contornos trágicos e de tensão cada vez maior conforme Cuarón revela, pouco a pouco, seu amor pela solidão da novata Dra. Stone.

Para dar vida à heroína da empreitada, Sandra Bullock apresenta-se de forma memorável como Ryan Stone. Conhecida pelas comédias fáceis e um ou outro momento de vergonha alheia, a atriz de 49 anos parece ter enfim chegado ao ponto máximo de sua carreira, entregando uma composição belíssima de uma personagem complexa que se desmancha em frente à plateia enquanto baila pelo espaço. Ainda que George Clooney surja convincente como Kowalski, Gravidade é mesmo de Sandra e de Ryan. E Cuarón, apreciador do belo e do frágil, foi o primeiro a perceber isso.

Dono de uma concepção elevada acerca da estética no Cinema, o cineasta aposta todas as suas fichas na combinação cuidadosa dos elementos técnicos para compor seus quadros. Cada segundo de projeção é um deleite, graças à fama de esteta de Cuarón, construída desde o início, lapidada em Filhos da Esperança e comprovada em Gravidade. A fotografia do grande Emmanuel Lubezki (O Novo Mundo, A Árvore da Vida e, é claro, Filhos da Esperança) ajuda a direção de arte, e o fantástico design de som, talvez o ponto mais alto da produção, emoldura cada plano sequencia (um traço recorrente na filmografia do diretor) de forma a criar uma narrativa homogênea e fluida.

Fluidez que encontra ecos na direção sensível, humana, de Cuarón, que aproxima sua protagonista do espectador enfocando, com domínio absurdo, o drama de Ryan, sua fragilidade, e seu desespero no suor, nos gritos e em lágrimas que, suspensas pela falta de gravidade, se aproveitam do eficiente 3D para quase beijarem a face do espectador.

Gravity, Alfonso Cuarón, 2013 

2 comments:

joão said...

Bom filme. mas nao é um estilo que me fascina

Raquel Raposo said...

Que filminho absurdo de bom!!
Animal! kkk