Alfonso
Cuarón sempre foi um cineasta interessante de se acompanhar. Dono de uma linguagem
adaptável e cronista das relações humanas (como comprovam alguns de seus longas
anteriores, ...E Sua Mãe Também e Filhos da Esperança, por exemplo), o diretor
trafega por narrativas e gêneros diversos, geralmente com sucesso, em trabalhos
de competência técnica inegável.
Entretanto,
mesmo que tenha construído uma carreira sólida e repleta de acertos, não há palavras
para descrever o feito do mexicano e seu Gravidade, que lança Sandra Bullock no
mais inóspito dos ambientes, o espaço sideral. O cineasta, afeito de
montanhas-russas emocionais, constrói seu melhor trabalho ao apaixonar-se pela humanidade
e pelo medo de sua protagonista.
A
trama (escrita por Alfonso e seu filho Jonás) se mostra simples no início, mas
se descortina em frente ao espectador conforme passam os minutos e percebemos
as reais intenções do diretor. O experiente astronauta Matt Kowalski está
acompanhando a doutora Ryan Stone em uma missão espacial para a manutenção do
telescópio Hubble, quando uma chuva de destroços resultantes da destruição de
um satélite russo causa um acidente e deixa os dois à deriva no espaço. Um
fiapo de história que ganha contornos trágicos e de tensão cada vez maior conforme
Cuarón revela, pouco a pouco, seu amor pela solidão da novata Dra. Stone.
Para
dar vida à heroína da empreitada, Sandra Bullock apresenta-se de forma
memorável como Ryan Stone. Conhecida pelas comédias fáceis e um ou outro
momento de vergonha alheia, a atriz de 49 anos parece ter enfim chegado ao
ponto máximo de sua carreira, entregando uma composição belíssima de uma
personagem complexa que se desmancha em frente à plateia enquanto baila pelo
espaço. Ainda que George Clooney surja convincente como Kowalski, Gravidade é
mesmo de Sandra e de Ryan. E Cuarón, apreciador do belo e do frágil, foi o
primeiro a perceber isso.
Dono
de uma concepção elevada acerca da estética no Cinema, o cineasta aposta todas
as suas fichas na combinação cuidadosa dos elementos técnicos para compor seus
quadros. Cada segundo de projeção é um deleite, graças à fama de esteta de
Cuarón, construída desde o início, lapidada em Filhos da Esperança e comprovada
em Gravidade. A fotografia do grande Emmanuel Lubezki (O
Novo Mundo, A Árvore da Vida e, é claro, Filhos da Esperança) ajuda a direção de arte, e o fantástico design de
som, talvez o ponto mais alto da produção, emoldura cada plano sequencia (um traço
recorrente na filmografia do diretor) de forma a criar uma narrativa homogênea
e fluida.
Fluidez
que encontra ecos na direção sensível, humana, de Cuarón, que aproxima sua
protagonista do espectador enfocando, com domínio absurdo, o drama de Ryan, sua
fragilidade, e seu desespero no suor, nos gritos e em lágrimas que, suspensas
pela falta de gravidade, se aproveitam do eficiente 3D para quase beijarem a
face do espectador.
Gravity,
Alfonso Cuarón, 2013
2 comments:
Bom filme. mas nao é um estilo que me fascina
Que filminho absurdo de bom!!
Animal! kkk
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