Friday, December 08, 2006

Cinema - Os Infiltrados

Taxi Driver, Touro Indomável, Os Bons Companheiros, Cassino. Com esse currículo, não seria espantoso se Martin Scorsese resolvesse pendurar as chuteiras e apenas desfrutar de sua carreira brilhante. Mas, graças a Deus, não foi isso que ele fez. Com mais de trinta anos de estrada, Scorsese prova ser o melhor diretor da atualidade ao emplacar, no século XXI, dois de seus melhores filmes: O Aviador, em 2004, e Os Infiltrados, em 2006. Esse último, que tive a felicidade de assistir no cinema na semana passada, é uma proeza considerável, ainda mais por se tratar de um inspiradíssimo roteiro baseado em um pequeno clássico recente do cinema oriental (o aclamado Conflitos Internos, de 2002), e não se deixar, por isso, ser referencial demais, nem inferior a outros trabalhos de Scorsese que, tal como vinho, só melhora com o tempo.

Frank Costello (Jack Nicholson) é o todo-poderoso do crime em South Boston, caçado há muito pelas autoridades, que tem a seu dispor as dicas de todos os passos dos policiais através de Colin Sullivan (Matt Damon), seu pupilo infiltrado na polícia e em quem o mafioso deposita muita confiança. Para conseguir pegar Costello de uma vez, o Chefe de Polícia de South Boston resolve recrutar Billy Costigan (Leonardo DiCaprio), recém-formado na Academia de Polícia para uma perigosa missão: entrar na gangue de Costello. Quando os boatos da existência de informantes de ambas as partes tornam-se realidade, começa uma “caça ao rato” sem precedentes, realizada tanto por Costelo quanto por Oliver Queenan (Martin Sheen), o chefe da Polícia.

O cinema de Scorsese é algo realmente singular: fonte de inspiração de muitos cineastas das décadas de 80 e 90, seu estilo de filmar é algo fascinante. E esse estilo fica ainda mais notável quando ele pisa em terreno conhecido e tantas vezes explorado por ele: o submundo do crime organizado americano, a máfia, as drogas, e tudo que um bom filme policial deve ter. Temos em Os Infiltrados uma obra carregada de sentimento e individualidade há mais de dez anos não vista, desde Fogo Contra Fogo, a obra-prima de Michael Mann. O diretor consegue arrancar de seu elenco o melhor e realizar uma obra intimista onde o importante não é a velha forma “mocinho caça bandido” tradicional, e sim o choque de valores entre “o bandido que está na polícia e está sendo caçado pelo policial que virou bandido”. Frank Costello (por que diabos Nicholson demorou tanto a entrar em um trabalho de Scorsese?) assiste às ações em vão da polícia para capturá-lo, enquanto se esforça para pegar em sua gangue o informante da polícia. Em determinado momento do filme, Billy se questiona se um dia conseguirá prender Costello e concluir de vez sua missão. Basta uma pequena reflexão para constatarmos que mesmo que saia vivo, Billy jamais vai se livrar da sombra do tráfico, da vida que experimentou a contragosto por tempos. Como vocês podem ver, estou babando por Os Infiltrados.

O melhor filme do ano, ao lado de O Novo Mundo e A Máquina, e candidato ao Oscar 2007, Os Infiltrados eleva os nomes de Matt Damon, Leonardo DiCaprio e Mark Wahlberg a um patamar mais alto, além de proporcionar a Jack Nicholson uma de suas melhores performances, e ressuscitar Martin Sheen. Martin Scorsese prova ser o diretor em melhor fase de Hollywood (apesar do escorrego em Gangues De Nova York) e agora leve, só esperando pela definição da Academia. Mais uma injustiça? Tomara que não. Martin Scorsese merece. Ele é o cara.
Nota 10

1 comment:

Anonymous said...

como eu disse no meu blog scorcese e nem esse filme precisa do oscar. mas também estou torcendo muito