Friday, February 02, 2007

Cinema - Babel

O diretor Alejandro González Iñárritu tornou popular, com seu aclamado Amores Brutos, um novo estilo de cinema: os épicos sobre falta de comunicação. Filmes que fazem as vidas de várias pessoas distintas se cruzarem devido a um acontecimento (geralmente envolvendo a morte ou a proximidade dela), e através do encontro dessas vidas tratarem de um assunto muito discutido nesses últimos anos pós-11 de setembro: o egoísmo, o medo do próximo, a carência humana, e a intolerância. Iñárritu, após o sucesso de 21 Gramas, resolveu conceber uma obra que batesse nas mesmas teclas de seus longas anteriores, mas dessa vez abordando histórias em quatro países diferentes, criando uma espécie de mega efeito borboleta. Mas falhou ao criar, mesmo que inconscientemente, uma muralha que nos impede de um envolvimento com os personagens, apesar das excelentes performances do elenco, que faz de tudo para emocionar.

Tudo começa com a venda de um rifle no Marrocos. Um homem compra a arma para dar aos seus dois filhos, pois acha que eles vão conseguir matar chacais mais facilmente. Brincando de atirar, os meninos acabam acertando uma mulher americana dentro de um ônibus, gerando desespero em seu marido que tenta salvá-la a todo custo. Acompanhamos também uma senhora mexicana que trabalha de babá de duas crianças nos EUA. Ela quer ir ao casamento de seu filho no México, mas não tem com quem deixar os pequenos. Resolve, inconseqüentemente, levá-los ao casório do outro lado da fronteira. E por último, no Japão, uma jovem surda-muda tenta aliviar a dor de ter perdido a mãe há pouco tempo oferecendo seu corpo para os homens.

Babel começa a mil, mas se perde quando constatamos que as tramas não são tão interessantes assim, e que a melhor delas, a da deficiente auditiva Chieko (Rinko Kikuchi, dando um show de interpretação), não tem muito a ver com as outras. Em algum momento, o roteiro de Iñárritu e Guillermo Arriaga tenta dar uma explicação do motivo da inclusão da japonesa no enredo, mas acaba soando mais como uma tentativa de amarrar os fatos do que qualquer outra coisa.

O elenco é o ponto forte do longa. Com atuações amargas, todos os atores desenvolvem muito bem seus papéis, com destaque para Brad Pitt e Rinko Kikuchi. Pitt encarna o marido desesperado Richard de forma incrivelmente real, ficando mais desesperado a cada minuto. O momento do telefonema para casa é uma belíssima cena, emocionante pela tentativa de Richard de manter o controle enquanto conversa. E Kikuchi faz por merecer os elogios. A grande revelação dos últimos dois, talvez três anos.

Babel é na verdade a última parte de uma trilogia que começou com Amores Brutos, e seguiu com 21 Gramas. O desfecho, embora decepcionante, não é ruim, e é um fortíssimo candidato ao Oscar 2007.

Nota 6,5

P.S. Os boatos são verídicos. Babel tem sim muitas coisas em comum com Crash. Ambos tratam da intolerância, da falta de comunicação e da multiplicidade étnica do mundo. E tanto um quanto o outro oferecem uma visão de indiferença; Iñárritu e Haggis parecem não fazer questão nenhuma de sensibilizar o espectador, limitando-se apenas a mostrar, de forma quase voyeurística, os fatos. Preferi Crash a Babel, mas ao meu ver, o grande clássico sobre o assunto é 21 Gramas.

2 comments:

Anonymous said...

o filme tem ate boa ideia mas é cansativo

eu prefiro bem mais crash

Anonymous said...

ótima crítica !!! concordo, o elenco salva o filme !!! mas ainda acho q 2006 foi ano de bons filmes... bons o suficiente para vencer Babel no Oscar... mas o ano é dos mexicanos assim como 2002 foi dos negros... não há mto como lutar contra esta maré !!! hehehe