Sunday, August 12, 2007

Cinema - Cão Sem Dono

Ciro é um jovem que mora sozinho, mas recebe a ajuda dos pais. Se incomoda por ainda depender tanto deles, mas não consegue definir sozinho os rumos de sua própria vida. Ele mantém uma relação, quase um namoro, com Marcela, jovem aspirante a modelo, linda, inteligente, e muito mais decidida que Ciro. Ele cuida de um cachorro que encontrou na rua, mas não lhe deu nem ao menos um nome. Prefere dizer que é um amigo do animal a ser chamado de dono. O novo filme dirigido por Beto Brant (em parceria com Renato Ciasca) é sobre um cara que não tem coragem de começar a viver por sua conta, a andar com suas próprias pernas, passa por uma crise existencial, e só consegue consolo nos braços da garota com quem divide a "parte boa" da vida.

Brant faz aqui um dos melhores trabalhos de direção de 2007. Sem se apoiar em trilha sonora romântica ou dramática, a trajetória de Ciro é mostrada de modo seco, imparcial, sem pender para o lado do protagonista. A câmera, apesar de estar o tempo todo na mão, permanece imóvel, quase como se o espectador estivesse escondido em um canto, espiando a vida alheia, mas sem se meter. A direção opta por diálogos sobrepostos, para realçar o clima de verdade, e acha por esse caminho o grande trunfo do longa, que tem oitenta minutos, mas num corpinho de trinta. Mas não pense em Cão Sem Dono como um filme curto. Na verdade, ele é redondinho, tem a duração necessária, nem um minuto a mais, e quando um filme encontra a duração perfeita para conseguir tratar seus assuntos sem se esticar nem encurtar, ele se torna muito mais eficiente.

Com um maravilhoso roteiro, que dá a falsa sensação de um "filme sobre nada", Cão Sem Dono é uma das melhores produções do ano, que encontra na singeleza e na sinceridade suas maiores forças. Pequeno sim, mas grandioso.
Nota 10,0

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