Friday, January 28, 2011

Biutiful


Biutiful, Alejandro González Iñárritu, 2010

Não é fácil assistir aos filmes de Iñárritu. Todos os filmes do diretor, sem exceção, tratam de temas fortes, personagens problemáticos, doenças, mortes, atividades ilícitas e uma melancolia terrível. Biutiful foi vendido como uma espécie de virada na carreira do diretor. Voltaria após quase uma década a filmar em espanhol. Não teria a trama das histórias paralelas que rodam em torno do mesmo tema, o que nos leva ao mais importante: pela primeira vez não trabalharia com o roteirista Guillermo Arriaga, seu antigo braço direito, com quem rompeu após Babel. Então tudo seria diferente, não é?

Não é bem assim. O rompimento com Arriaga não trouxe nada de diferente ao novo filme de Iñárritu, além do fato de que agora não existem mais as tramas paralelas, e os vários personagens. O resto, as dores, a violência, a tristeza, a proximidade da morte, tudo acontece com apenas um protagonista. Isso mesmo, se antes três ou quatro pessoas sofriam, agora cabe a apenas um cara toda a desgraceira do roteiro.

Em Biutiful, o grande Javier Bardem é Uxbal, portador de um câncer de próstata que evoluiu até chegar aos ossos. Não conheceu o pai, e perdeu a mãe enquanto era criança. A bipolaridade e o alcoolismo de sua ex-esposa o força o criar seus dois filhos sozinho. Ganha dinheiro através de uma sociedade que mantém com seu irmão, em que explora imigrantes asiáticos na construção civil e em manufaturas e africanos como camelôs, e para que seus negócios funcionem sem intromissão, tem que pagar propina à polícia. Como se isso não bastasse, Uxbal é médium, e por vezes, se vê visitado por espíritos.

As qualidades da produção, como o elenco que se entrega de maneira espetacular, a fotografia (que arrisca ao apostar em uma paleta fria para retratar a tradicionalmente quente Barcelona), e a trilha sonora de Gustavo Santaolalla, não são suficientes para fazer com que seus defeitos sejam ignorados. A câmera tremida incomoda muito, e Iñárritu já deveria ter percebido que a câmera tremida e o formato quase documental funcionam para aprofundar e dar um tom de veracidade aos roteiros, mas conspiram contra o sucesso artístico de uma produção se forem usadas em demasia em um drama tão carregado como esse. Além disso, algumas soluções visuais, como as cenas da neve, por exemplo, parecem exageros estilísticos, ao invés de servirem à narrativa.

Mas o maior problema de Biutiful está no fato de que seu roteiro, escrito pelo próprio Iñárritu, já não impressiona quase ninguém. A insistência do diretor, inegavelmente um cineasta talentoso, em fazer sempre o mesmo filme, em rodar sempre sobre as mesmas coisas, independente do idioma ou do número de personagens, já cansou. Talvez essa fosse a hora do artista rever o seu objeto de observação, tentar algo novo e escapar da mesmice que se abateu sobre suas obras. Ou talvez essa hora já tenha passado, mas eu não sou um personagem, não fui escrito por Arriaga ou Iñárritu, e por isso, me dou ao direito de ter esperança.

1 comment:

joao said...

bom..ainda quero ver