Sunday, April 21, 2013

A Morte do Demônio




Quando Sam Raimi anunciou que estava preparando um remake de The Evil Dead (seu primeiro longa-metragem, e um dos filmes de horror mais amados da História) junto com Bruce Campbell, houve uma espécie de racha entre os fãs da série. Afinal, não se duvidava de que um novo Uma Noite Alucinante seria algo bom de ver no cinema, mas sempre havia o risco de que esse novo diretor (o responsável pelo clássico de 1981 declarou rapidamente que não seria ele o comandante) fosse mais um Marcus Nispel ou Patrick Lussier.
                                                              
Mas Raimi sabe o que faz. Tal qual Guillermo Del Toro e seus protegidos, recrutou Fede Alvarez, que era um estreante nas telonas. O cineasta ficou conhecido há alguns anos graças ao fascinante curta Ataque de Pánico!, no qual robôs gigantes invadiam Montevidéu, em cinco minutos dramáticos e eletrizantes. Alvarez recebeu carta branca para levar seu Evil Dead para a direção que quisesse, e o resultado é espetacular, além de surpreendentemente refrescante nesse momento de quase estagnação do terror nos cinemas.

Logicamente, como em qualquer filme de terror, A Morte do Demônio depende dos seus personagens e das decisões idiotas dos mesmos para funcionar (se um livro está dentro de um saco preto, amarrado com arame farpado, com uma capa feita de pele humana, desenhos demoníacos e ainda sujo de sangue, isso significa que você deve lê-lo em voz alta). Quando digo que o longa é uma brisa refrescante no gênero, isso se dá à sua coragem de apostar em novos personagens, novas cenas, novos destinos para seus protagonistas sempre fazendo rimas interessantes com a série original. A serra elétrica está lá, os desmembramentos também, mas nada é copiado, na clara intenção de se tentar algo novo para uma geração que descobrirá as desventuras de Ash após assistir ao filme de Alvarez, e ao mesmo tempo “molhar o bico” de seus fãs mais antigos.

Existem, é claro, algumas semelhanças com o original de Raimi. Aqui, cinco amigos também vão parar em uma cabana, e lá acabam encontrando o livro cuja leitura desencadeará toda a cadeia horrenda de acontecimentos, mas as razões e os personagens são modificados, e dessa vez não há nada da trupe em busca de diversão. Os jovens se alojam na cabana para ajudar uma amiga a se desintoxicar. Mia, a viciada, está lá com uma enfermeira, um amigo, seu irmão e a cunhada para o que parece uma espécie de intervenção. Ela reclama do cheiro forte do lugar, os outros acham que é efeito da abstinência. Quando o grupo encontra o livro, e coisas começam a acontecer com Mia (em uma cena que fará os apaixonados pela franquia chorarem), eles novamente acham que sua mudança de comportamento se dá devido ao fato de a garota estar longe das drogas. Só que nós sabemos que abstinência alguma é responsável por aquilo, e logo eles descobrem também.

Extremamente gráfico e com visual convincente, Alvarez prova estar certo ao decidir não utilizar a computação gráfica (um recurso geralmente perigoso no gênero, tendo comprometido, por exemplo, os recentes Mama e Não Tenha Medo do Escuro). Existe em todo o longa uma sensação de filme feito na raça, de baixo orçamento, mas tudo é muito bem acabado. Talvez essa seja a maior homenagem desse A Morte do Demônio ao seu irmão mais velho: mais do que personagens, cenas e sangue (o que, acredite, existe em abundância aqui, pois poucas vezes me lembro de ver tanto sangue escorrer, jorrar e pingar nos últimos anos), o maior legado que a seminal obra-prima de Sam Raimi pode deixar é o seu espírito guerreiro, sua aura cult conquistada no grito.

Não é fácil ser o responsável por um remake, principalmente de um dos pilares do terror. Deve ser extremamente difícil decidir qual abordagem escolher: pegar o original e fazer algo novo, levando a obra para um caminho perigoso, inesperado, mas quem sabe gratificante (apesar de correr o risco de receber de presente o ódio dos xiitas), ou fazer quase um quadro a quadro, preocupado em apresentar o filme para um novo público sem invencionices? De qualquer jeito, existem bons e maus exemplos nos dois tipos de refilmagens. O que sobra de lição é que independente de qual caminho seguir, o mais importante é tratar o material original (e seus amantes) com carinho, seja com a mesma história ou com a criação de uma nova franquia.

Fede Alvarez aprendeu direitinho, e seu emocionante A Morte do Demônio hoje pinta os cinemas de vermelho.

Evil Dead, Fede Alvarez, 2013  ou 

2 comments:

Raquel Raposo said...

Filme muito bom!!
Que sensação aterrorizante mais gostosa! Aahahahaah...

joão said...

gostei muito. e acho os personagens menos idiotas que a média dos filmrs de terro. é claro que não se deve brincar com aquele livro, mas o cara não sabia que estava em um filme

4 estrelas