Tuesday, October 15, 2013

O Cavaleiro Solitário

É sintomático que, em um curto espaço de tempo, John Carter – Entre Dois Mundos e esse O Cavaleiro Solitário tenham sido fracassos tão retumbantes de público. O naufrágio de duas potenciais franquias fez a Disney, responsável pelos dois longas-metragens, acender o sinal de alerta e provou que os mais jovens se identificam pouco ou nada com heróis de outras gerações (as aventuras de Zorro e Tonto no velho oeste foram criadas no início dos anos 30, enquanto o ex-combatente Carter é uma criação de Edgar Rice Burroughs que data de 1912). Entretanto, existe um traço que diferencia o insucesso dos dois projetos: a qualidade.
                                                                                                                
Sim, porque enquanto Entre Dois Mundos era um bom filme, com um visual interessante e com a direção inspirada de Andrew Stanton (e foi aqui que Stanton se tornou o meu diretor dos sonhos para comandar Star Wars: Episódio VII, antes da escalação de J. J. Abrams), O Cavaleiro Solitário se revela, durante seus arrastados 150 minutos, uma experiência pouco divertida, com efeitos visuais extremamente previsíveis, apesar de competentes como em qualquer arrasa-quarteirão e que, para completar o quadro, ainda revive a parceria Gore Verbinski-Jerry Bruckheimer, como se a franquia Piratas do Caribe (da qual a dupla participou junta nos três primeiros filmes da série, A Maldição do Pérola Negra, O Baú da Morte e No Fim do Mundo) fosse a mais divertida do Cinema.

Mas não foi só Verbinski e Bruckheimer que voltam a trabalhar em equipe: Ted Elliott e Terry Rossio, responsáveis pelo texto de Piratas do Caribe, escrevem novamente o roteiro, juntamente com Justin Haythe. Rocambolesca, a narrativa se alterna entre 1933 e 1869 para contar a origem do Cavaleiro Solitário e sua dupla com o índio Tonto, quando os dois precisam combater o vilão feio, sujo e malvado Butch Cavendish, em tempos de expansão da via férrea para o Oeste dos EUA. A trama é mais complicada do que deveria para um longa supostamente infanto-juvenil, e parece querer abraçar o mundo com as pernas, sendo um filme de origem ao mesmo tempo em que comenta e revê a História sangrenta da América.

Por falar em sangrento, essa é uma das poucas características que diferem o longa das aveturas de Jack Sparrow & Cia. O Cavaleiro Solitário conta como alguns momentos bem violentos, incluindo canibalismo em uma curta cena, mais sugerida do que mostrada, na qual um personagem come o coração de outro. Tirando isso, Verbinski, Elliott e Rossio seguem a cartilha da franquia estabelecida, com basicamente o mesmo arco dramático, como se as emoções do espectador fossem acionadas por botões, e inclusive reeditando estratégias que deram certo, as cenas de ação cheias de malabarismos e a transformação do coadjuvante em protagonista, graças à escalação de Johnny Depp como Tonto, mais um personagem de rosto maquiado para a cansada galeria do ator (e é um fato revelador que minha composição favorita de Depp nos últimos dez anos, o John Dillinger de Inimigos Públicos, seja justamente aquela na qual ele não contou com excentricidades). Armie Hammer, ator responsável por encarnar o hipotético protagonista, não pode competir.

São muitos problemas, mas O Cavaleiro Solitário não é feito apenas deles. Apreciador do Western (como a ótima animação Rango já havia provia provado), Verbinski inclui algumas sacadas que entram na lista de bons momentos de sua filmografia, com citações que vão desde Rastros de Ódio até Era Uma Vez no Oeste. Alguns traços da composição clássica do herói, como a mira certeira (até sem querer) e a bala de prata, também são respeitados. O chato é que, no fim, o que fica na memória é a barriga imensa causada pela duração inexplicavelmente longa e o sono causado pela ação com gosto de “já vi esse filme antes, e ele não era bom”.

OBS.: John Reid, o Cavaleiro Solitário, é tio-avô de Britt Reid, mais conhecido como o Besouro Verde, personagem que também gerou uma adaptação bem fraca para as telas. Os dois heróis são criações de George W. Trendle.

The Lone Ranger, Gore Verbinski, 2013 

1 comment:

João said...

não vi e acho que nem pretendo ver