Lee
Daniels é obstinado em sua cruzada em favor do retrato das injustiças sofridas
pelo negro na América. Preciosa e Obsessão tentavam, ao mesmo tempo em
que as tramas principais se desenvolviam, traçar visões acerca da via crúcis dos
negros após a abolição da escravidão nos EUA. Uma luta justíssima e digna de
aplausos. No entanto, falta sutileza ao cineasta. Daniels recorre
constantemente a definições simplistas e generalizações que enfraquecem seus
argumentos, além de lançar mão de imagens fortes, sensacionalistas que em vez de
contribuírem para o caminho adotado, acabam distraindo o espectador e tirando o
foco da discussão.
Em
O Mordomo da Casa Branca, o diretor
decide mudar um pouco seu modus operandi. No lugar de usar a trama para paralelamente
comentar a situação dos afro-americanos, resolve transformar o próprio negro em
protagonista. Tal estratégia até poderia dar certo se Daniels fosse um pouco
mais sutil. Ao contar nas telas a trajetória de Cecil Gaines, mordomo da Casa
Branca durante 33 anos que serviu oito presidentes durante o período e viu o
Vietnã e as lutas pelos direitos sociais e contra o preconceito abalarem sua
vida, o cineasta acaba confundindo biografia com propaganda política e realiza
seu pior filme.
Desde
o início da projeção, percebe-se as intenções do longa. O negro sofreu, mas é
vencedor no roteiro de Danny Strong. Como se o desenrolar da narrativa não
fosse o suficiente, Daniels conta com a ajuda de Lenny Kravitz e Oprah Winfrey,
afro-americanos que venceram com seus esforços e talentos e são hoje
celebridades, em papéis de pessoas pobres, mas trabalhadores e honrados. A
honra é extremamente importante por aqui (em certo momento, um personagem dá em
cima da mulher de um amigo, e é assassinado alguns dias depois; não foi o tal
amigo, negro honrado, que o matou, evidentemente). Esse é um exemplo da falta
de discrição de O Mordomo da Casa Branca.
Mas
não é o único: a narração em off de Gaines (muito bem interpretado por Forest
Whitaker, diga-se de passagem) que permeia todos os 132 minutos do
longa-metragem também incomoda por seu tom e pela fato irritante de reproduzir
em palavras o que as imagens já mostravam. Após a morte de Kennedy, por
exemplo, ouvimos a voz de Cecil: “Mataram nosso homem.” O problema é que o
espectador já tinha visto e ouvido o choro do mordomo, mostras suficientes de
sua tristeza. Alguns diálogos são também extremamente expositivos. O cúmulo é a
cena em que, em uma plantação de algodão (o que por si só já geraria uma bela
metáfora), um pai fala para o seu filho: “É o mundo dele. Nós apenas vivemos
nele.” O discurso seria vencedor se contasse apenas com “É o mundo dele”, mas
Daniels e Strong sempre precisam esticar mais suas cenas, e é aí que mora o
perigo.
Mesmo
com todos esses problemas na realização, O
Mordomo da Casa Branca irrita mesmo é pela sua concepção. A escalada do
negro começa nas plantações de algodão, passa pela cozinha, e acaba no comando
da nação mais poderosa do planeta. No fim de sua jornada, os últimos minutos de
projeção revelam mais uma triste faceta de seu diretor. Ao que parece, Daniels
preparou seu filme como uma defesa a Barack Obama, como se sua etnia fosse argumento
para ficarmos a favor de um governo que, como muitos outros antes dele, também
foi cheio de decisões discutíveis. Como dito em meu texto sobre Obsessão, as
ambições do diretor são inversamente proporcionais a seu talento. O que deveria
ser sensível acabou reacionário. Não sei se Obama ficou muito feliz com isso.
Eu não ficaria.
The Butler,
Lee Daniels, 2013 

1 comment:
se se chamasse o filho do mordomo da casa branca e fosse sobre o filho dele seria melhor. ali sim tem historia mais interessante
e o negro de obsessão só parece tá por lá pra sofrer um insulto racista
Lee daniels é nego e homossexual. ja deve ter sofrido pra cacete e usa o cinema como catarse. so que ele está é se revelando um chato que faz denuncias com pouco conteudo
e como revi frox/nixo ha pouco tempo que frank lhanguela está brilhante, fiquei constrangido com o nixon de John cusack
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