Sunday, November 03, 2013

O Mordomo da Casa Branca

Lee Daniels é obstinado em sua cruzada em favor do retrato das injustiças sofridas pelo negro na América. Preciosa e Obsessão tentavam, ao mesmo tempo em que as tramas principais se desenvolviam, traçar visões acerca da via crúcis dos negros após a abolição da escravidão nos EUA. Uma luta justíssima e digna de aplausos. No entanto, falta sutileza ao cineasta. Daniels recorre constantemente a definições simplistas e generalizações que enfraquecem seus argumentos, além de lançar mão de imagens fortes, sensacionalistas que em vez de contribuírem para o caminho adotado, acabam distraindo o espectador e tirando o foco da discussão.

Em O Mordomo da Casa Branca, o diretor decide mudar um pouco seu modus operandi. No lugar de usar a trama para paralelamente comentar a situação dos afro-americanos, resolve transformar o próprio negro em protagonista. Tal estratégia até poderia dar certo se Daniels fosse um pouco mais sutil. Ao contar nas telas a trajetória de Cecil Gaines, mordomo da Casa Branca durante 33 anos que serviu oito presidentes durante o período e viu o Vietnã e as lutas pelos direitos sociais e contra o preconceito abalarem sua vida, o cineasta acaba confundindo biografia com propaganda política e realiza seu pior filme.

Desde o início da projeção, percebe-se as intenções do longa. O negro sofreu, mas é vencedor no roteiro de Danny Strong. Como se o desenrolar da narrativa não fosse o suficiente, Daniels conta com a ajuda de Lenny Kravitz e Oprah Winfrey, afro-americanos que venceram com seus esforços e talentos e são hoje celebridades, em papéis de pessoas pobres, mas trabalhadores e honrados. A honra é extremamente importante por aqui (em certo momento, um personagem dá em cima da mulher de um amigo, e é assassinado alguns dias depois; não foi o tal amigo, negro honrado, que o matou, evidentemente). Esse é um exemplo da falta de discrição de O Mordomo da Casa Branca.

Mas não é o único: a narração em off de Gaines (muito bem interpretado por Forest Whitaker, diga-se de passagem) que permeia todos os 132 minutos do longa-metragem também incomoda por seu tom e pela fato irritante de reproduzir em palavras o que as imagens já mostravam. Após a morte de Kennedy, por exemplo, ouvimos a voz de Cecil: “Mataram nosso homem.” O problema é que o espectador já tinha visto e ouvido o choro do mordomo, mostras suficientes de sua tristeza. Alguns diálogos são também extremamente expositivos. O cúmulo é a cena em que, em uma plantação de algodão (o que por si só já geraria uma bela metáfora), um pai fala para o seu filho: “É o mundo dele. Nós apenas vivemos nele.” O discurso seria vencedor se contasse apenas com “É o mundo dele”, mas Daniels e Strong sempre precisam esticar mais suas cenas, e é aí que mora o perigo.

Mesmo com todos esses problemas na realização, O Mordomo da Casa Branca irrita mesmo é pela sua concepção. A escalada do negro começa nas plantações de algodão, passa pela cozinha, e acaba no comando da nação mais poderosa do planeta. No fim de sua jornada, os últimos minutos de projeção revelam mais uma triste faceta de seu diretor. Ao que parece, Daniels preparou seu filme como uma defesa a Barack Obama, como se sua etnia fosse argumento para ficarmos a favor de um governo que, como muitos outros antes dele, também foi cheio de decisões discutíveis. Como dito em meu texto sobre Obsessão, as ambições do diretor são inversamente proporcionais a seu talento. O que deveria ser sensível acabou reacionário. Não sei se Obama ficou muito feliz com isso. Eu não ficaria.

The Butler, Lee Daniels, 2013 

1 comment:

joao said...

se se chamasse o filho do mordomo da casa branca e fosse sobre o filho dele seria melhor. ali sim tem historia mais interessante

e o negro de obsessão só parece tá por lá pra sofrer um insulto racista

Lee daniels é nego e homossexual. ja deve ter sofrido pra cacete e usa o cinema como catarse. so que ele está é se revelando um chato que faz denuncias com pouco conteudo

e como revi frox/nixo ha pouco tempo que frank lhanguela está brilhante, fiquei constrangido com o nixon de John cusack