Sunday, February 02, 2014

Alabama Monroe

Difícil dizer o que é mais belo e triste em Alabama Monroe, filme poderoso de Felix Van Groeningen e candidato belga ao Oscar de Filme estrangeiro em 2014. Já na abertura, ao som da belíssima Will the cirle be unbroken, o espectador é preparado de maneira quase imperceptível para o que está por vir. A canção é uma metáfora que reverbera no título original da obra e no destino dos personagens, além de ser a primeira estratégia do longa para desarmar o público.

A trama, escrita por Carl Joos em parceria com o próprio Van Groeningen acompanha a trajetória do casal Didier e Elise (ele, um músico apaixonado por Country Music; ela, uma tatuadora) e sua luta para cuidar da filha Maybelle, diagnosticada com leucemia aos 6 anos de idade. As consequências da doença da menina são percebidas em como o casal se desestrutura com a situação, de repente percebendo que o amor pode não ser tudo o que une uma família.

Após estabelecer personagens e trama (através de cenas devastadoras como a que exibe uma indefesa Maybelle sendo tratada com uma injeção contra o câncer), o diretor lança mão de outras estratégias para conseguir o controle sobre nossas emoções. Uma delas é a montagem, elegante em como viaja no tempo de maneira fluida, do presente para o passado, mostrando o início do relacionamento de Didier e Elise, como eles saem de um trailer para uma casa após a gravidez de Elise, e de novo para o presente, quando presenciamos a destruição daquele lar.

Merece destaque também justamente a maneira como o romance entre os protagonistas é filmado por Van Groeningen sem pudores ou vergonha de exibir a sintonia e o total conforto dos dois em relação aos seus corpos. O sexo, muito bem encenado, tem importância fundamental para estabelecer a relação de proximidade e o tamanho do amor do casal.

Na tarefa de tornar verossímeis os sentimentos expressados em cena os atores Johan Heldenbergh e Veerle Baetens merecem destaque por comporem Didier e Elise com entrega, impressionando principalmente nas sequências em que ele ataca o cristianismo e a Igreja Católica por se posicionar contra o uso de células-tronco para o tratamento de doenças.

Essa questão, aliás, é ponto chave na segunda metade da projeção e enriquecida pela construção de personagens cuidadosa do texto, que não se priva de apostar em protagonistas tridimensionais e, como qualquer ser humano, cheios de traços fascinantes por suas naturezas paradoxais. Entre tais características, a que mais me fascina é a paixão do ateu Didier pelo Bluegrass, vertente do Country que faz diversas menções a Deus e à importância da fé.

Por isso não é exagero dizer que Alabama Monroe é uma obra que se utiliza da trilha sonora, belíssima por sinal, para se aprofundar nas relações das pessoas que habitam aquele universo repleto de amor e dor. O realismo da abordagem de Van Groeningen impressiona e a música desempenha papel fundamental na narrativa, acompanhando a todos, do início ao fim, o fim da projeção e o fim da vida, nesse filme que prova que nem sempre sabemos o que a frase “até que a morte nos separe” quer dizer.

The Broken Circle Breakdown, Felix Van Groeningen, 2012 

2 comments:

Raquel Raposo said...

Lindo demais!
Simplesmente amei e chorei horrores.

joao said...

pensando em assistir, mas to em duvida ainda