Difícil dizer o que é mais belo e triste
em Alabama Monroe, filme poderoso de
Felix Van Groeningen e candidato belga ao Oscar de Filme estrangeiro em 2014.
Já na abertura, ao som da belíssima Will
the cirle be unbroken, o espectador é preparado de maneira quase
imperceptível para o que está por vir. A canção é uma metáfora que reverbera no
título original da obra e no destino dos personagens, além de ser a primeira
estratégia do longa para desarmar o público.
A trama, escrita por Carl Joos em
parceria com o próprio Van Groeningen acompanha a trajetória do casal Didier e
Elise (ele, um músico apaixonado por Country Music; ela, uma tatuadora) e sua
luta para cuidar da filha Maybelle, diagnosticada com leucemia aos 6 anos de
idade. As consequências da doença da menina são percebidas em como o casal se
desestrutura com a situação, de repente percebendo que o amor pode não ser tudo
o que une uma família.
Após estabelecer personagens e trama
(através de cenas devastadoras como a que exibe uma indefesa Maybelle sendo
tratada com uma injeção contra o câncer), o diretor lança mão de outras estratégias
para conseguir o controle sobre nossas emoções. Uma delas é a montagem,
elegante em como viaja no tempo de maneira fluida, do presente para o passado, mostrando
o início do relacionamento de Didier e Elise, como eles saem de um trailer para
uma casa após a gravidez de Elise, e de novo para o presente, quando
presenciamos a destruição daquele lar.
Merece destaque também justamente a maneira
como o romance entre os protagonistas é filmado por Van Groeningen sem pudores
ou vergonha de exibir a sintonia e o total conforto dos dois em relação aos
seus corpos. O sexo, muito bem encenado, tem importância fundamental para estabelecer
a relação de proximidade e o tamanho do amor do casal.
Na tarefa de tornar verossímeis os
sentimentos expressados em cena os atores Johan Heldenbergh e Veerle Baetens
merecem destaque por comporem Didier e Elise com entrega, impressionando
principalmente nas sequências em que ele ataca o cristianismo e a Igreja
Católica por se posicionar contra o uso de células-tronco para o tratamento de
doenças.
Essa questão, aliás, é ponto chave na
segunda metade da projeção e enriquecida pela construção de personagens
cuidadosa do texto, que não se priva de apostar em protagonistas
tridimensionais e, como qualquer ser humano, cheios de traços fascinantes por
suas naturezas paradoxais. Entre tais características, a que mais me fascina é
a paixão do ateu Didier pelo Bluegrass, vertente do Country que faz diversas
menções a Deus e à importância da fé.
Por isso não é exagero dizer que Alabama Monroe é uma obra que se
utiliza da trilha sonora, belíssima por sinal, para se aprofundar nas relações
das pessoas que habitam aquele universo repleto de amor e dor. O realismo da
abordagem de Van Groeningen impressiona e a música desempenha papel fundamental
na narrativa, acompanhando a todos, do início ao fim, o fim da projeção e o fim
da vida, nesse filme que prova que nem sempre sabemos o que a frase “até que a
morte nos separe” quer dizer.
The Broken Circle Breakdown, Felix Van Groeningen, 2012
2 comments:
Lindo demais!
Simplesmente amei e chorei horrores.
pensando em assistir, mas to em duvida ainda
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