Uma
das características mais marcantes de Damien Chazelle enquanto roteirista é sua
tendência à subversão. O fraco O Último
Exorcismo – Parte 2 buscava construir um terror real ao desconstruir a
farsa que era o primeiro filme, no qual as coisas não eram realmente o que
aparentavam. Já em Toque de Mestre,
ele buscava as referências a Alfred Hitchcock para transformar o filme em uma
experiência hitchcockiana em todos seus atributos.
Outro
traço do cinema de Chazelle reside em sua paixão pela música, utilizada como
forma de libertação em O Último
Exorcismo 2 e convertida em MacGuffin
em Toque de Mestre. Seu primeiro filme na direção, inclusive, Guy and Madeline
on a Park Bench, possuía uma trompetista de jazz como protagonista. Por isso, Whiplash: Em Busca da Perfeição soa
como um próximo passo natural do cineasta ao retornar ao jazz para buscar sua
nova subversão fílmica: não existe, afinal, ritmo mais transgressor do que
aquele que lançou Buddy Rich, Jo Jones e Charlie Parker à eternidade.
O
objeto que o diretor busca transformar perante o espectador é a expectativa.
Desavisados podem pensar em Whiplash
como mais um longa que revive a dinâmica de mestre-aprendiz vista tantas vezes
e eternizada em longas como Ao Mestre,
com Carinho e Karatê Kid. É
justamente aí que entra a sagacidade de uma direção que, econômica, em vez de
investir em emoção e redenção com o auxílio da trilha sonora, aproxima seu
olhar dos protagonistas, testando os limites de seu público com um suspense
palpável e a esperteza de um texto que estabelece a relação entre dois homens
falhos com nada em comum exceto pelo amor e a dedicação à música.
O
desenho tridimensional dos personagens fica muito claro em diversos momentos,
mas dois deles são dignos de nota. No primeiro, Andrew (Miles Teller) coloca
seus estudos sob a batuta do maestro Fletcher (J.K. Simmons) no Conservatório
Shaffer, uma das melhores escolas de música do planeta, e sua futura carreira
como baterista de jazz acima de seu namoro e resolve terminar seu
relacionamento com a jovem Nicole (Melissa Benoist) de modo duro. No segundo,
Fletcher, respeitado e temido pelo seu conhecimento e por seus métodos de
trabalho (mais parecidos com o Sargento Hartman de Nascido Para Matar do que com o Mestre Miyagi), derrama lágrimas ao
noticiar a morte de um ex-aluno.
Cenas
chocantes que fazem o espectador questionar suas opiniões acerca dos
personagens e revelam a inteligência de Whiplash.
De repente, um não é mais tão doce e indefeso, e o outro não é totalmente
desprovido de sentimentos, o que contrasta com traços antes mostrados (a
relação de Andrew com o pai vivido por Paul Reiser, o fato de Fletcher
claramente preferir para si músicos que não eram titulares em suas respectivas
bandas) e compõe de maneira verossímil os homens que vemos na tela.
A
direção de Damien Chazelle é eficaz em estabelecer as humilhações a que o
professor submete Andrew em busca da excelência, com seus close-ups e planos
fechados em mãos e bateria encharcadas de sangue e suor, e com o auxílio do
excelente trabalho de som, digno de prêmios, que é um dos grandes responsáveis
pela impressão de que o longa só será completamente compreendido se assistido
em uma sala de cinema.
Ao
lado, claro, de J.K. Simmons, cuja performance é para ser apreciada em tela
grande. Seu Terence Fletcher é um achado, uma versão insana do Mr. Holland de Adorável Professor, e parece engolir o
filme em cada cena (apesar de Miles Teller responder à altura em muitos
momentos). No fim das contas, a crueldade e a paixão do maestro (que chega a
dizer que “não há duas palavras mais danosas do que ‘bom trabalho’”) acabam por
se encaixarem na visão do jovem cineasta, que aos 29 anos parece ter muito a
dizer sobre o papel dos filmes na sociedade. Para ele, o Cinema não teria
ajudado tanto a transformar o mundo se fosse apenas composto por obras
chapa-branca. Ninguém se torna mestre se for complacente o tempo todo.
Whiplash,
Damien Chazelle, 2014
1 comment:
Amei o filme!
O filme é tão bom que dá vontade de assistir de novo na próxima sessão.
Post a Comment