Se tem algo que muitos fãs (e grande parte
da imprensa) não entendem é o motivo pelo qual Christopher Nolan não é
exatamente bem-sucedido em premiações. Apesar de fazer filmes inegavelmente
populares e que são alvo de hype imediato, o cineasta britânico não consegue empilhar
troféus. O que seus adoradores parecem não notar é que ele não molda seus
filmes para o agrado da Academia, nem de sindicatos, ou mesmo de júris de
festivais mundo afora. Sua filmografia, coerente em tom e estética, não atende
a exigência alguma que não seja as do próprio Nolan, mesmo que isso lhe custe
boa parte do público.
E Dunkirk,
apesar de acadêmico em linhas gerais, jamais se realiza como tal, a não ser por
seus aspectos técnicos. A trama, que adapta para as telas o cerco alemão às
tropas inglesas e a evacuação de mais de 300.000 soldados britânicos da cidade
francesa de Dunquerque em plena II Guerra Mundial (episódio também conhecido
como Operação Dínamo), não segue modelos diferentes dos que seu diretor adota
desde Following (1998), seu primeiro
longa-metragem: é, entre acertos e erros, mais uma produção de execução
habilidosa, mas com um roteiro que apresenta soluções preguiçosas e personagens
cujos dramas carecem de um tratamento mais cuidadoso.
A trama, escrita pelo próprio diretor
(dessa vez sem a companhia de Jonathan Nolan, seu irmão e frequente
colaborador), adota múltiplos pontos de vista dos últimos dias do exército
britânico em Dunquerque. Todos os personagens ganham bom tempo de tela, dos
jovens soldados (Harry Stiles, Fionn Whitehead, Aneurin Barnard) tentando
embarcar em algum navio que os levará para casa, passando pelo Sr. Dawson de
Mark Rylance – dono de um barco que se torna microcosmo no núcleo mais frágil da trama, até o piloto Farrier, vivido por Tom Hardy. Entretanto, sem serem
desenvolvidos, parecem mais estereótipos de soldados e civis já vistos em
inúmeros filmes do gênero do que pessoas com as quais o espectador deva se
importar.
A crueza das explosões (cujo estrondo faz
bom par com a trilha intrusiva de Hans Zimmer) até poderia servir para que o
público se preocupasse e investisse nos personagens, mas novamente, como já
ocorrido em A Origem (2010) e Interestelar (2014), Nolan não consegue
fazer com que sua precisão seja aliada de um cinema que se destaque de maneira
menos superficial. Quase tudo em Dunkirk
é um primor de realização, da fotografia de Hoyte Van Hoytema ao design de
produção de Nathan Crowley, e evoca o pavor dos soldados ingleses naqueles
dias, acuados na praia à espera do resgate, mas o diretor quase põe tudo a
perder com um texto calculado e que gasta muito tempo com contextualizações,
através principalmente dos militares interpretados por Kenneth Branagh e James
D’Arcy.
É inegável que o diretor é obstinado,
determinado sempre a entregar obras que encham os olhos das plateias. Por isso,
não é surpresa que Dunkirk é filmado
da maneira meio realista, meio espetaculosa que caracterizou trabalhos
anteriores, como sua trilogia que atualizou o Batman nas telas. O cineasta
conseguiu aviões originais da época, e instalou câmeras IMAX nas cabines para
filmar os confrontos aéreos, tudo para dar ao longa um ar de experiência real
no campo de batalha. É uma pena que suas ambições não vão muito além das
aparências.
Por isso, por mais que declare suas
inspirações a cada novo lançamento (Michael Mann em O Cavaleiro das Trevas, Kubrick em Interestelar, Hitchcock como exemplo maior), ele jamais se
equiparou a seus ídolos. Fazer parecer incrível e impressionar os olhos não é a
mesma coisa que ser, de fato, incrível. Enquanto as suas pretensões não
transcenderem a beleza das imagens que ele consegue, seus filmes serão sempre
como esculturas de gelo, imponentes, bem feitos, mas sem cores, frios e intransponíveis.
Sem esse esforço de fazer filmes que não só sejam imediatos, mas que cresçam na memória, não há maneira de
emocionar, seja através de super-heróis, ladrões, astronautas ou soldados
encurralados. Até aqui, apesar dos esforços (e de alguns acertos, é verdade),
Christopher Nolan ainda dá a impressão de não saber a diferença entre sensação
e sentimento.
Dunkirk,
Christopher Nolan, 2017 ½
1 comment:
Achei cansativo.
Ótimo texto!
Post a Comment