Uma característica de Damien
Chazelle, marcante e que o diferencia de alguns dos seus contemporâneos, é sua
inquietação enquanto artista. Seja dirigindo (Whiplash, La La Land) ou
na autoria de roteiros (O Último
Exorcismo – Parte II, Toque de Mestre,
Rua Cloverfield, 10), é notória a sua
busca pela novidade, ao sempre investir em gêneros diferentes ou ao adaptar sua
linguagem à história que deve contar. Isso demonstra mais do que vontade de se
destacar dos demais: mostra que o cineasta se preocupa em evoluir ao testar
soluções estéticas e narrativas para suas obras, mesmo que o resultado nem sempre
atinja um nível de excelência.
O Primeiro Homem, seu quarto trabalho na direção de
longas-metragens, gerou expectativa desde o início, devido ao sucesso recente
de Chazelle, e porque era o diretor se debruçando sobre uma cinebiografia, subgênero
ainda mais acadêmico do que seus últimos filmes. O roteiro, escrito por Josh
Singer a partir do livro de James R. Hansen, segue um recorte de aproximadamente
uma década de vida de Neil Armstrong, o primeiro astronauta a pisar na lua. O
foco, no entanto, não está apenas na conquista maior de sua carreira, mas
também na sua vida familiar, e nos pequenos eventos que o levaram ao comando da
Apollo 11.
Sobram qualidades a O Primeiro Homem. A reconstituição de
época é precisa, e os figurinos de Mary Zophres e o design de produção a cargo
de Nathan Crowley impressionam pela exatidão. Não existem exageros na
construção dos cenários, sejam os corredores da Nasa ou os lares de Neil (Ryan
Gosling) e sua esposa Janet (Claire Foy), ou de Ed (Jason Clarke) e Pat White
(Olivia Hamilton), o que contribui para a sobriedade que o recorte exige, pela
abordagem de um momento histórico tão importante do Século XX. Além disso, a
fotografia granulada de Linus Sandgren e trilha sonora de Justin Hurwitz compõem
a moldura ideal para a trama.
O texto de Singer, no entanto, é
quadrado. Não compromete o resultado, mas jamais é de grande ajuda também, com
seus diálogos expositivos e sua pouca inspiração nas passagens em que o longa precisava
de mais intensidade, como na tragédia que se abate sobre os Armstrong ou nos dois
momentos em que Neil ouve notícias graves que envolvem seus amigos Elliott See
(Patrick Fugit) e Ed White. Com um texto limitado na transposição (apesar de
inegavelmente competente na pesquisa e rico em detalhes sobre o período em que
acompanha seu protagonista), o elenco não tem muito material com que trabalhar.
O resultado é frio, de Gosling aos ótimos atores que embarcaram em papéis
coadjuvantes, como Kyle Chandler e Corey Stoll, que vivem Deke Slayton e Buzz
Aldrin, além dos já citados Clarke e Foy.
A apatia do elenco está também ligada
à direção desapaixonada de Damien Chazelle. Com uma edição que falha em dar à
narrativa um ritmo mais fluido (problema que fica mais evidente a cada letreiro
que aparece na tela, a fim de situar o espectador no tempo e espaço), o
trabalho de Chazelle parece preguiçoso, como se o diretor tentasse emular outros
filmes hollywoodianos que foram bem-sucedidos ao retratar a corrida espacial,
de Os Eleitos (Philip Kaufman, 1983)
a Apollo 13 (Ron Howard, 1995), mas
jamais conseguisse a força daquelas obras, mesmo com uma história tão conhecida
e personagens tão presentes no imaginário popular.
A consequência é um longa blasé, que
desaponta ao não conseguir transmitir emoção nem mesmo quando Armstrong, Aldrin
e Mike Collins chegam à lua. Uma das maiores conquistas norte-americanas na Guerra
Fria e peça-chave na trajetória do Homem no século passado, que precisava de um
pouco de cada qualidade dos outros filmes de seu diretor, a intensidade de Whiplash e o lirismo de La La Land. Quando começam os créditos
e as luzes se acendem, a sensação é de decepção. O Primeiro Homem poderia ter sido o grande salto da carreira de Damien
Chazelle, mas não passou de um pequeno passo.
First Man, Damien Chazelle, 2018 ½
1 comment:
Gostei, mas como ja te disse, achei cansativo e sem muita emoção.
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