Tuesday, January 22, 2019

Top 20: os melhores filmes de 2018

20. O Terceiro Assassinato, de Hirokazu Koreeda

19. Ponto Cego, de Carlos López Estrada

18. A Câmera de Claire, de Hong Sang-soo

17. Amante por um Dia, de Philippe Garrel

16. A Morte de Stalin, de Armando Iannucci

15. Um Lugar Silencioso, de John Krasinski

14. Zama, de Lucrecia Martel

13. Arábia, de João Dumans e Affonso Uchoa

12. Uma Noite de 12 Anos, de Álvaro Brechner

11. O Dia Depois, de Hong Sang-soo

10. Confronto no Pavilhão 99, de S. Craig Zahler

9. Hereditário, de Ari Aster

8. Em Chamas, de Lee Chang-dong

7. As Boas Maneiras, de Marco Dutra e Juliana Rojas

6. Aniquilação, de Alex Garland

5. Visages Villages, de Agnès Varda e JR

4. Me Chame pelo Seu Nome, de Luca Guadagnino

3. Projeto Flórida, de Sean Baker

2. Roma, de Alfonso Cuarón

1. Trama Fantasma, de Paul Thomas Anderson

Wednesday, January 02, 2019

Melhores filmes de 2018: menções honrosas

Em ordem alfabética:

Com Amor, Simon, de Greg Berlanti

Deixe a Luz do Sol Entrar, de Claire Denis

A Ganha-Pão, de Nora Twomey

Infiltrado na Klan, de Spike Lee

Lady Bird, de Greta Gerwig

Missão: Impossível - Efeito Fallout, de Christopher McQuarrie

Pantera Negra, de Ryan Coogler

Três Anúncios para um Crime, de Martin McDonagh

Vingadores: Guerra Infinita, de Anthony e Joe Russo

Você Nunca Esteve Realmente Aqui, de Lynne Ramsay

Monday, December 31, 2018

Top 10: os piores filmes de 2018

10. No Olho do Furacão, de Rob Cohen

9. O Predador, de Shane Black

8. O Paradoxo Cloverfield, de Julius Onah

7. A Freira, de Corin Hardy

6. A Maldição da Casa Winchester, de Michael e Peter Spierig

5. Verdade ou Desafio, de Jeff Wadlow

4. A Casa que Jack Construiu, de Lars von Trier

3. Fahrenheit 451, de Ramin Bahrani

2. Venom, de Ruben Fleischer

1. Uma Dobra no Tempo, de Ava DuVernay

Sunday, December 30, 2018

Top 5: os filmes mais subestimados de 2018

5. Arranha-Céu: Coragem Sem Limite, de Rawson Marshall Thurber

4. Colette, de Wash Westmoreland

3. Operação Overlord, de Julius Avery

2. O Passageiro, de Jaume Collet-Serra

1. Vingança, de Coralie Fargeat

Top 5: os filmes mais superestimados de 2018

5. O Primeiro Homem, de Damien Chazelle

4. The Square, de Ruben Östlund

3. Jogador N° 1, de Steven Spielberg

2. O Destino de uma Nação, de Joe Wright

1. Bohemian Rhapsody, de Bryan Singer

Saturday, October 20, 2018

O Primeiro Homem


Uma característica de Damien Chazelle, marcante e que o diferencia de alguns dos seus contemporâneos, é sua inquietação enquanto artista. Seja dirigindo (Whiplash, La La Land) ou na autoria de roteiros (O Último Exorcismo – Parte II, Toque de Mestre, Rua Cloverfield, 10), é notória a sua busca pela novidade, ao sempre investir em gêneros diferentes ou ao adaptar sua linguagem à história que deve contar. Isso demonstra mais do que vontade de se destacar dos demais: mostra que o cineasta se preocupa em evoluir ao testar soluções estéticas e narrativas para suas obras, mesmo que o resultado nem sempre atinja um nível de excelência.

O Primeiro Homem, seu quarto trabalho na direção de longas-metragens, gerou expectativa desde o início, devido ao sucesso recente de Chazelle, e porque era o diretor se debruçando sobre uma cinebiografia, subgênero ainda mais acadêmico do que seus últimos filmes. O roteiro, escrito por Josh Singer a partir do livro de James R. Hansen, segue um recorte de aproximadamente uma década de vida de Neil Armstrong, o primeiro astronauta a pisar na lua. O foco, no entanto, não está apenas na conquista maior de sua carreira, mas também na sua vida familiar, e nos pequenos eventos que o levaram ao comando da Apollo 11.

Sobram qualidades a O Primeiro Homem. A reconstituição de época é precisa, e os figurinos de Mary Zophres e o design de produção a cargo de Nathan Crowley impressionam pela exatidão. Não existem exageros na construção dos cenários, sejam os corredores da Nasa ou os lares de Neil (Ryan Gosling) e sua esposa Janet (Claire Foy), ou de Ed (Jason Clarke) e Pat White (Olivia Hamilton), o que contribui para a sobriedade que o recorte exige, pela abordagem de um momento histórico tão importante do Século XX. Além disso, a fotografia granulada de Linus Sandgren e trilha sonora de Justin Hurwitz compõem a moldura ideal para a trama.

O texto de Singer, no entanto, é quadrado. Não compromete o resultado, mas jamais é de grande ajuda também, com seus diálogos expositivos e sua pouca inspiração nas passagens em que o longa precisava de mais intensidade, como na tragédia que se abate sobre os Armstrong ou nos dois momentos em que Neil ouve notícias graves que envolvem seus amigos Elliott See (Patrick Fugit) e Ed White. Com um texto limitado na transposição (apesar de inegavelmente competente na pesquisa e rico em detalhes sobre o período em que acompanha seu protagonista), o elenco não tem muito material com que trabalhar. O resultado é frio, de Gosling aos ótimos atores que embarcaram em papéis coadjuvantes, como Kyle Chandler e Corey Stoll, que vivem Deke Slayton e Buzz Aldrin, além dos já citados Clarke e Foy.

A apatia do elenco está também ligada à direção desapaixonada de Damien Chazelle. Com uma edição que falha em dar à narrativa um ritmo mais fluido (problema que fica mais evidente a cada letreiro que aparece na tela, a fim de situar o espectador no tempo e espaço), o trabalho de Chazelle parece preguiçoso, como se o diretor tentasse emular outros filmes hollywoodianos que foram bem-sucedidos ao retratar a corrida espacial, de Os Eleitos (Philip Kaufman, 1983) a Apollo 13 (Ron Howard, 1995), mas jamais conseguisse a força daquelas obras, mesmo com uma história tão conhecida e personagens tão presentes no imaginário popular.

A consequência é um longa blasé, que desaponta ao não conseguir transmitir emoção nem mesmo quando Armstrong, Aldrin e Mike Collins chegam à lua. Uma das maiores conquistas norte-americanas na Guerra Fria e peça-chave na trajetória do Homem no século passado, que precisava de um pouco de cada qualidade dos outros filmes de seu diretor, a intensidade de Whiplash e o lirismo de La La Land. Quando começam os créditos e as luzes se acendem, a sensação é de decepção. O Primeiro Homem poderia ter sido o grande salto da carreira de Damien Chazelle, mas não passou de um pequeno passo.

First Man, Damien Chazelle, 2018 ½

Sunday, October 14, 2018

A Primeira Noite de Crime


O esgotamento de ideias é um problema grave do qual muitas franquias não conseguem escapar. A partir de certo episódio, a série dá sinais de estagnação ao apostar em soluções já aplicadas antes, a fim de garantir a) o interesse do público ou b) uma narrativa amarrada. O terror, gênero consideravelmente mais barato do que outros que também permitem a criação de franquias de sucesso, encontra esse percalço com muita frequência e, em 2018, um caso deixa isso bem evidente: A Primeira Noite de Crime. Não se trata de um filme que seja exatamente ruim, mas que aparenta desgaste não só perante o horror contemporâneo, mas também dentro de sua própria marca.

O quarto capítulo de The Purge é escrito por James DeMonaco, diretor dos três longas anteriores, e aborda o surgimento de um novo partido político para rivalizar com Republicanos e Democratas. O NFFA (New Founding Fathers of America) ascende ao poder com a promessa de reduzir a violência e, como parte desse plano, anuncia um novo experimento social: 12 horas em que o governo incentiva o povo a extravasar de todas as formas, e todo tipo de crime, inclusive assassinato, será permitido. A participação das pessoas não é obrigatória, mas uma compensação de cinco mil dólares é dada aos que decidirem ficar para o Expurgo (nome pelo qual a noite ficou conhecida).

A oferta monetária pesa na comunidade escolhida para a primeira experiência da noite de crime. Staten Island, em Nova York, comunidade com forte presença de negros e latinos, assolada pelo tráfico e pela falta de recursos. Muitos cidadãos aceitam o dinheiro e ficam na comunidade, outros tantos saem para as ruas. Entre essas pessoas, está Isaiah (Joivan Wade), que vai atrás de revide, mentindo para sua irmã, Nya (Lex Scott Davis), ativista anti-Expurgo e ex-namorada de Dmitri (Y’lan Noel), chefe do tráfico local.

É surpreendente a melhora das três sequências em relação ao longa original. Lançado em 2013, Uma Noite de Crime jamais se decidia a favor de suas vítimas, o que transformava aquele longa em um projeto de moral muito questionável. Parte daquela impressão se dava pela escolha de uma família branca e rica como protagonista, o que dava ao espectador a sensação de que, para James DeMonaco, os pobres atrasavam o progresso da nação e que devíamos nos preocupar apenas com quem tinha condições de reerguer os Estados Unidos. Ao mudar o foco para o efeito que o Expurgo tem sobre as camadas mais baixas da sociedade e transferir seu terror de sobrevivência para as ruas, as continuações redimiram a franquia e, apesar das suas limitações financeiras, a transformaram em uma fantasia de horror que encontra ecos na realidade.

A Primeira Noite de Crime continua a crítica ao racismo e ao abismo social existentes nos EUA. Faz de seus três protagonistas vetores de um povo que, ao se ver sem esperanças, precisa se decidir entre resistir às tentações de viver à margem da lei ou tomar à força o que a falta de atenção dos governos tirou deles. A crítica funciona, e parece bem equilibrada dentro do caos abordado pelo texto. Porém, o comentário poderia ter sido muito melhor aproveitado, sem tantos personagens secundários e subtramas desnecessárias, como a da loja comandada por três amigos ou a central de controle que monitora a eficácia do experimento (com a participação de Marisa Tomei como o nome famoso que ajuda a ancorar o projeto).

Outro problema, um pouco mais grave, diz respeito às barreiras técnicas que A Primeira Noite de Crime precisa superar. Não que James DeMonaco fosse um diretor muito versado, mas ele pelo menos tinha uma malandragem de cineasta de filmes B, para mascarar a falta de recursos do projeto, ao muitas vezes aproximar a câmera dos personagens e fazer o espectador prestar mais atenção neles do que nos ambientes. Gerard McMurray, diretor desse quarto capítulo, não parece entender as suas restrições orçamentárias, investindo em planos abertos, semiabertos e plongée que dão aos cenários uma artificialidade que ainda não tinha sido percebida com tanta clareza, como na cena das explosões dos brinquedos, por exemplo.

Entretanto, o mais grave por aqui é falta de qualquer originalidade. É aí que entra a sensação de bloqueio criativo mencionado no primeiro parágrafo. Se Uma Noite de Crime: Anarquia (2014) levava a narrativa para o lado de fora e 12 Horas Para Sobreviver: O Ano da Eleição (2016) adicionava uma dose ainda mais forte de um componente de cinema de ação, A Primeira Noite de Crime não apresenta quase nada para fazer o longa ser mais do que uma crítica bem-vinda, mas com cara de repetido. The Purge não dá sinais de estar perto de qualquer fim, mas já está na hora de uma injeção de novidade. A reflexão proposta pela série merece muito mais do que mais uma pá de obras requentadas.

The First Purge, Gerard McMurray, 2018 

Thursday, January 11, 2018

O Destino de uma Nação

A concepção de uma cinebiografia é sempre um momento de escolhas. Afinal, qual caminho seguir, a fim de abordar qualquer personagem, principalmente os controversos? Logicamente, o questionamento é sempre bem-vindo, pois como forma de arte que atinge as massas, o Cinema sempre se beneficiará da problematização e do ato de suscitar o pensamento crítico. Como disse o escultor britânico Antony Gormley há alguns anos, “a arte que faz você se sentir cômodo provavelmente é artesanato, não arte. Ela se enquadrará naturalmente nas convenções; não vai evoluir, não desafiará”. Por esse viés, uma obra que não provoca nada é no mínimo frustrante.

Infelizmente, promover discussões não parece ser o objetivo de O Destino de uma Nação, que retrata um dos momentos mais difíceis da vida pública de Winston Churchill. O longa de Joe Wright, que aborda o primeiro mês de Churchill como primeiro-ministro (após renúncia de Neville Chamberlain), em plena Segunda Guerra Mundial e durante o momento de maior poderio de Hitler, é um decepcionante retrato chapa-branca, que busca apenas mitificar o líder político britânico mais polêmico do século passado sem se preocupar em debater alguns de seus traços mais marcantes e discutíveis.

De fato, a abordagem favorece mesmo a idolatria. A insistência de Churchill em traçar um acordo de paz com a Alemanha em maio de 1940 o colocou em cheque perante o parlamento e o Império britânico, mas o sucesso da Operação Dínamo, que salvou quase 300.000 soldados do cerco a Dunquerque o transformou em símbolo, aumentou seu prestígio e restaurou sua imagem, desgastada desde uma estratégia mal executada ainda na Primeira Guerra. É durante esse mesmo mês de maio que Churchill faria alguns de seus mais célebres discursos e provaria seu valor também como figura midiática.

A questão é que o recorte histórico feito por Joe Wright e o roteirista Anthony McCarten os coloca em posição extremamente confortável ao ignorar solenemente características contestáveis de seu protagonista, que impossibilitam a elevação do ex-primeiro-ministro à condição de lenda. Passando de maneira superficial por seu isolamento político (sem deixar que o espectador entenda suas trocas de partido) e sem citar, por exemplo, seu posicionamento contrário ao voto feminino e sua fama de supremacista branco, O Destino de uma Nação não passa de uma fantasia sobre Winston Churchill (líder feroz, estrategista genial e marido apaixonado), quase como alguém que ignora possíveis desvios de caráter da pessoa amada.

Entretanto, se o tratamento que o roteiro dá a seu protagonista (mostrado como um homem contestado por todos os lados que lutou sozinho contra um bando de pacifistas medrosos) carece de algumas verdades, o mesmo não pode ser dito sobre a reconstituição de época. Wright é um cineasta conhecido por trabalhar com direções de arte competentes (mais latentes em suas adaptações de clássicos da literatura), e aqui não é diferente. O design de produção de Sarah Greenwood casa perfeitamente com os figurinos de Jacqueline Durran para recriar a Inglaterra de 1940 de maneira completamente verossímil. E a fotografia de Bruno Delbonnel, que lança mão de uma paleta mais fria para retratar a tristeza que o mundo enfrentava na época, se não é exatamente original, funciona.

Um outro talento do diretor inglês é a condução de seus atores, e O Destino de uma Nação não foge à regra, com seu elenco coeso, formado por experientes intérpretes britânicos do porte de Kristin Scott Thomas (que encarna a resignada esposa Clemmie), Ronald Pickup e Stephen Dillane (que vivem Neville Chamberlain e Viscount Halifax, principais rivais políticos do protagonista), além da jovem Lily James e do australiano Ben Mendelsohn. O forte time de coadjuvantes, no entanto, empalidece diante de Gary Oldman, irreconhecível – a não ser pelos olhos – sob uma maquiagem digna de prêmios. Sua composição domina a tela, engole a todos em cena e acaba por casar perfeitamente com a imagem inegavelmente magnética que Winston Churchill realmente possuía.

O tempo dirá como O Destino de uma Nação será lembrado. Como um longa de técnica quase irrepreensível e com uma das melhores atuações de Gary Oldman, ou como uma representação parcial de uma figura das mais discutidas do Século XX. É difícil se sentir emocionado por um longa cujo texto, encantado por sua figura central, deixa de fora todas as possíveis falhas morais do retratado. Nesse contexto, todas as suas outras qualidades criam uma cortina, não de ferro, mas de fumaça, sobre o filme de Joe Wright.

Darkest Hour, Joe Wright, 2017