Saturday, October 20, 2018

O Primeiro Homem


Uma característica de Damien Chazelle, marcante e que o diferencia de alguns dos seus contemporâneos, é sua inquietação enquanto artista. Seja dirigindo (Whiplash, La La Land) ou na autoria de roteiros (O Último Exorcismo – Parte II, Toque de Mestre, Rua Cloverfield, 10), é notória a sua busca pela novidade, ao sempre investir em gêneros diferentes ou ao adaptar sua linguagem à história que deve contar. Isso demonstra mais do que vontade de se destacar dos demais: mostra que o cineasta se preocupa em evoluir ao testar soluções estéticas e narrativas para suas obras, mesmo que o resultado nem sempre atinja um nível de excelência.

O Primeiro Homem, seu quarto trabalho na direção de longas-metragens, gerou expectativa desde o início, devido ao sucesso recente de Chazelle, e porque era o diretor se debruçando sobre uma cinebiografia, subgênero ainda mais acadêmico do que seus últimos filmes. O roteiro, escrito por Josh Singer a partir do livro de James R. Hansen, segue um recorte de aproximadamente uma década de vida de Neil Armstrong, o primeiro astronauta a pisar na lua. O foco, no entanto, não está apenas na conquista maior de sua carreira, mas também na sua vida familiar, e nos pequenos eventos que o levaram ao comando da Apollo 11.

Sobram qualidades a O Primeiro Homem. A reconstituição de época é precisa, e os figurinos de Mary Zophres e o design de produção a cargo de Nathan Crowley impressionam pela exatidão. Não existem exageros na construção dos cenários, sejam os corredores da Nasa ou os lares de Neil (Ryan Gosling) e sua esposa Janet (Claire Foy), ou de Ed (Jason Clarke) e Pat White (Olivia Hamilton), o que contribui para a sobriedade que o recorte exige, pela abordagem de um momento histórico tão importante do Século XX. Além disso, a fotografia granulada de Linus Sandgren e trilha sonora de Justin Hurwitz compõem a moldura ideal para a trama.

O texto de Singer, no entanto, é quadrado. Não compromete o resultado, mas jamais é de grande ajuda também, com seus diálogos expositivos e sua pouca inspiração nas passagens em que o longa precisava de mais intensidade, como na tragédia que se abate sobre os Armstrong ou nos dois momentos em que Neil ouve notícias graves que envolvem seus amigos Elliott See (Patrick Fugit) e Ed White. Com um texto limitado na transposição (apesar de inegavelmente competente na pesquisa e rico em detalhes sobre o período em que acompanha seu protagonista), o elenco não tem muito material com que trabalhar. O resultado é frio, de Gosling aos ótimos atores que embarcaram em papéis coadjuvantes, como Kyle Chandler e Corey Stoll, que vivem Deke Slayton e Buzz Aldrin, além dos já citados Clarke e Foy.

A apatia do elenco está também ligada à direção desapaixonada de Damien Chazelle. Com uma edição que falha em dar à narrativa um ritmo mais fluido (problema que fica mais evidente a cada letreiro que aparece na tela, a fim de situar o espectador no tempo e espaço), o trabalho de Chazelle parece preguiçoso, como se o diretor tentasse emular outros filmes hollywoodianos que foram bem-sucedidos ao retratar a corrida espacial, de Os Eleitos (Philip Kaufman, 1983) a Apollo 13 (Ron Howard, 1995), mas jamais conseguisse a força daquelas obras, mesmo com uma história tão conhecida e personagens tão presentes no imaginário popular.

A consequência é um longa blasé, que desaponta ao não conseguir transmitir emoção nem mesmo quando Armstrong, Aldrin e Mike Collins chegam à lua. Uma das maiores conquistas norte-americanas na Guerra Fria e peça-chave na trajetória do Homem no século passado, que precisava de um pouco de cada qualidade dos outros filmes de seu diretor, a intensidade de Whiplash e o lirismo de La La Land. Quando começam os créditos e as luzes se acendem, a sensação é de decepção. O Primeiro Homem poderia ter sido o grande salto da carreira de Damien Chazelle, mas não passou de um pequeno passo.

First Man, Damien Chazelle, 2018 ½

1 comment:

Unknown said...

Gostei, mas como ja te disse, achei cansativo e sem muita emoção.