DVD - Antes Do Amanhecer

Existe uma grande diferença entre fazer algo e faze-lo com competência. E Antes do Amanhecer é um trabalho de muita, mas muita competência mesmo. E de amor. Não só o amor pelo cinema que move qualquer cinéfilo, como Richard Linklater ou eu mesmo, mas o amor pela vida e, acima de tudo, o amor pelo amor, na melhor e mais simples das concepções. E é esse tipo de sentimento que faz com que pérolas como essa, que nasceu e se tornou um dos melhores filmes da década de 90, e um dos mais românticos também, encham nossas cabeças e corações de sonhos, ou lindas recordações.

Um americano, em seu último dia de viagem na Europa, conhece uma francesa em um trem. Após um gostoso papo no interior da locomotiva, a jovem Celine aceita um convite para passear com Jesse (esse é o nome do americano) por Viena e faze-lo companhia no dia que o separa do retorno aos EUA. Durante as andanças do casal, eles acabam por descobrir no outro o amor de suas vidas, mas eles só têm menos de 24 horas para ficarem juntos. O que lhes resta então é apenas aproveitar este dia (e esta noite), como se fosse o último de suas vidas.Se você está pensando que esta é uma história boba de amor à 1ª vista, você acertou em cheio. Nada de roteiros mirabolantes. Em Antes do Amanhecer prevalece a simplicidade como o maior trunfo, aliados ao esmero profissional de Richard Linklater, Kim Krizan, Ethan Hawke e Julie Delpy. Talvez seja por isso até que eu o considere um clássico. A direção impecável de Linklater nos transporta de nossa poltrona para Viena, e impressiona pela capacidade de fazer-nos sentir ao lado dos protagonistas, “segurando vela” durante uma hora e quarenta minutos. E Hawke e Delpy? Ah, dá gosto de assistir a química existente entre os dois enquanto seus personagens caminham pela cidade austríaca. O talento e naturalidade transbordam, mesmo com a responsabilidade de “serem o filme”, literalmente. Sim, pois com exceção de uma cigana e um poeta, é ao casal que assistimos por todo o longa, entre conversas simples e momentos mais emocionantes propiciados por um roteiro maravilhosamente bem escrito.

E por falar em roteiro, como poderíamos esquecer essa jóia rara de script? Os diálogos construídos por Richard Linklater e Kim Krizan beiram a perfeição, como na seqüência em que eles fingem que estão no telefone conversando com seus amigos (quem já assistiu sabe do que falo, e da sensibilidade que esta cena possui). O final, bem, o final é bem sugestivo, e deixa a dúvida no ar: como será que eles ficaram, será que eles...(eu acho que já fui longe demais), perguntas essas que seriam respondidas nove anos depois com o maravilhoso Antes do Pôr-do-sol, mas isso é papo para outra conversa. Antes do Amanhecer é um filme magnífico, esplêndido, um clássico para os amantes do cinema romântico. Indispensável para quem já viveu, vive, ou viverá uma linda história de amor. Ou seja: aconselhável para todos que têm um mínimo de sensibilidade, pois amolecer o coração só um pouquinho não faz mal a ninguém.
Nota 10

Mudando de Assunto: Assisti ontem à noite o documentário Hype!, que trata de maneira bastante sensível e respeitosa a cena roqueira de Seattle, EUA, entre o início da década de 1980 e 1994, mostrando da explosão do Punk na cidade, as centenas de bandas que surgiram no local, o surgimento do Grunge, até a morte de Kurt Cobain, o fim do Nirvana e a multidão de fãs que ficaram órfãos. O documentário também critica duramente a imprensa, especializada ou não, e nesse assunto ele se mostra bastante eficaz.

"Imagine. Você tem uma banda, faz música por diversão, porque gosta de escrever suas próprias letras, de tocar para seus amigos e eles aplaudirem, de se jogar do palco e ir trombando com as pessoas e, de repente, toda publicação e mídia no mundo querem você . De repente, as pessoas em todos os lugares vão reconhecê-lo, querem autógrafo. De repente, sua vida privada acaba e provavelmente é uma barra pesada lidar com isso."

Hype! é obrigatório para os apreciadores do bom documentário. E, embora eu não seja um grande fã do rock praticado em Seattle nessa época, eu aprendi a ter muito mais respeito pelo movimento Grunge. O diretor Doug Pray me ensinou a ter.