
Rachel getting married, Jonathan Demme, 2008

Jonathan Demme é um cara versátil. Entre O silêncio dos inocentes e Filadélfia, por exemplo, existe um abismo, tanto no campo da trama, do gênero, até a estética, e o próprio estilo de direção, tudo é diferente (e se lembrarmos de Sob o domínio do mal essa versatilidade fica ainda mais evidente). O diretor não adapta a história a seu traço, pelo contrário: tal qual um camaleão, vai se reinventando e se encaixando nos tipos mais variados de produções.
Neste O casamento de Rachel, Demme se utiliza do recurso da câmera de mão para retratar uma história que em alguns aspectos se assemelha ao brilhante Feliz Natal, de Selton Melo. Kym é uma jovem que, após nove meses internada em uma clínica de reabilitação, é autorizada a sair para presenciar o casamento de sua irmã mais velha, Rachel. Ao chegar em casa, apesar da saudade, velhos conflitos entre Kym e o pai e a irmã surgem e o fim de semana que prometia ser de festa se transforma em uma melancólica volta a tempos difíceis.
O trabalho de direção em O casamento de Rachel é primorosa, e valoriza a confusão interna de seus personagens principais, através de seus ângulos incomuns e sua câmera trêmula, em estilo documental. O roteiro de Jenny Lumet (a filha do grande Sidney) é ótimo ao ilustrar Kym não como uma simples personagem tentando uma reaproximação, mas dando uma alma a sua protagonista, uma razão para ela ter se enterrado no vício, e uma tragédia que impede que a família seja feliz novamente, junta ou separada.
Mas nada, absolutamente nada seria possível sem a atuação mágica de Anne Hattaway (que mereceu a indicação ao Oscar, e deveria até ter vencido). Transformando Kym em uma personagem bastante complexa, a atriz, que ficou famosa por papéis em comédias, faz um trabalho fascinante em sua melancolia. Mesmo ancompanhada por um ótimo elenco (com direito a grandes trabalhos de Rosemarie DeWitt, Debra Winger e principalmente Bill Irwin), Hattaway ainda faz de sua protagonista a melhor coisa do filme, amável e triste, estranhamente bela, e com uma das melhores cenas dos últimos anos: o discurso no jantar, histórico.
Extremamente melancólico, O casamento de Rachel é um filme fácil não de digerir, mas de gostar.
1 comment:
Anne Hattaway merecia o oscar...o filme é apenas medio
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