Monday, July 16, 2012

Headhunters


Headhunters é sobre o poder, sobre ter dinheiro, ambição. Durante toda sua duração o filme transpira uma vontade de gritar, um desejo quase incontrolável de comentar a situação da Europa atual, representada aqui por um homem apenas. Seu nome é Roger Brown. Baixo, sem muito apreço por si próprio, afundado em dívidas, ele é um dos chamados caça-talentos do mundo corporativo, encarregados de entrevistar candidatos em potencial para cargos de liderança em grandes empresas, e faz um bom dinheiro com essa ocupação. O problema é a necessidade de bancar a vida luxuosíssima que Roger dá para sua esposa, alta, linda, e aparentemente apaixonada por ele, o que o faz decidir por roubar obras de arte que os candidatos que ele entrevista no dia-a-dia possuem em suas casas. Até que em certo momento, é claro, os planos começam a não sair como deveriam e a vida de Roger vira de cabeça para baixo.
                    
Tenso e eletrizante, a direção do norueguês Morten Tyldum é extremamente competente ao dar liga a um texto cheio de reviravoltas, algumas difíceis de engolir, e ao criar, com ajuda da trilha sonora e da fotografia (a cena da cabana e a seqüência que seguinte são dois exemplos especiais do bom uso de sombras no cinema), um clima de desconfiança e medo crescente no espectador, que assiste na ponta da cadeira a vida de Roger sair dos trilhos de forma lenta até a completa desorientação. Mas além disso tudo, o que transforma o longa no maior fenômeno recente do cinema norueguês é o comentário sobre o luxo, é o dedo na ferida.

Aos poucos, vemos o protagonista se perder de si mesmo, se metamorfosear de forma impressionante. Antes bonito, bem vestido, e cheiroso, apesar das dívidas, o protagonista era o retrato da frieza e da serenidade. Pouco a pouco o desespero se apodera do antes inabalável Roger e o vemos fugir de tudo, da mulher, de casa, dos bens, da beleza, do bom cheiro, do luxo. O vemos sujo de lama e fezes, suado, fedendo, desesperado. A Europa, enfim. O moralismo é claro, mas em momento nenhum deixa de ser extremamente eficiente nessa poderosa crônica sobre o capitalismo.

Apesar da pressa em amarrar as pontas, o que pode soar artificial e pouco crível, Headhunters se revela como uma das grandes, talvez a maior surpresa europeia a estrear aqui em 2012.

Hodejegerne, Morten Tyldum, 2011 

2 comments:

João said...

depois dos elogios talvez eu veja rs

Vitor said...

Filmaço. Veja sim, e me fale. ;)