Sunday, April 07, 2013

Mama


Com menos do que um fiapo de história e um trabalho de câmera fabuloso, Andrés Muschietti fez miséria em 2008 com seu curta-metragem Mamá, no qual duas meninas fugiam de uma horrenda criatura, aparentemente mãe das pequenas. Com o sucesso repentino, a estreia do cineasta em longas-metragens parecia questão de tempo, e foi. Apadrinhado por Guillermo Del Toro, Muschietti chega agora aos cinemas brasileiros com uma versão de 100 minutos de Mama que, embora acerte no carregado clima de tensão, peca por se prender em armadilhas e não conseguir fugir delas.
                                                                      
Escrito pelo próprio Andrés (apelidado de Andy na América) Muschietti, em parceria com Barbara Muschietti e Neil Cross, a trama conta a história de Victoria e Lilly, duas meninas que são levadas de casa pelo pai em uma fria manhã de inverno. Após sofrerem um acidente de carro, os três vão parar em uma cabana, de onde o pai misteriosamente desaparece, deixando as filhas sozinhas (ou não, já que a casa parece ser habitada por algo). Cinco anos mais tarde, as duas são encontradas pelo tio Lucas (Nikolaj Coster-Wandau, recentemente visto no ótimo Headhunters) que as leva para morarem com ele e sua noiva Annabel (vivida pela incansável Jessica Chastain). Tudo lindo, se a família não passasse a ser assombrada pelo que aparenta ser a mesma coisa que “criou” as pequenas na cabana, a Mama do título.

É importante dizer que Muschietti presenteia o espectador com uma primeira hora formidável. Tendo criado uma trama interessante e dotada de referências (a loba na porta da cabana onde as duas garotas foram criadas é uma bela sacada), o diretor aposta na sugestão e nas sombras, sempre a melhor forma de assustar, auxiliado pelo diretor de fotografia Antonio Riestra, que mergulha o longa em uma pesada aura gótica. Nesse momento, a obra se assemelha ao também eficiente A Mulher de Preto, que também explorava o horror sob uma palheta fria. E também como aquele filme, o problema de Mama é sua segunda parte, quando a narrativa começa a se encaminhar para o desfecho, e parece se enrolar nas próprias pernas.
                                                 
Fantasmas presos ao passado são clichês antigos do cinema, principalmente o Hollywoodiano, e o cineasta  argentino parece querer agradar sua nova casa. Para isso, Cria situações inexplicáveis, usa e abusa do CGI, se livra dos personagens inúteis em sequência e leva seus protagonistas para um clímax que de assustador não tem nada (apenas a falta de imaginação de seu realizador), como as mais porcas produções do cinema de terror nos anos 2000 (como O Chamado 2 e Caso 39, por exemplo). Fica a impressão de que faltou personalidade a Muschietti para levar seu filme para a direção que ele quisesse e fugir de soluções que comprometeram tanto uma obra de começo tão promissor. Talvez o cineasta não cometa os mesmos deslizes em seus próximos trabalhos.

Mama não é um desastre, pois após a primeira metade extremamente eficiente, era mesmo difícil estragar a empreitada. Mas é impossível não pensar que aquele delicioso curta de 2008 merecia muito mais.

Mama, Andy Muschietti, 2013 ½

4 comments:

Raquel Raposo said...

Assim como o espírito de "Sobrenatural", a Mama perdeu o respeito comigo. Rsrsrs... Ela nem era tão assustadora assim...
O filme é legalzinho...

joão said...

Abusa dos sustos fáceis e dos clichês do gênero e os personagens insistem em procurar alguma coisa no escuro. Ninguém nunca ouviu falar em luz?

Vitor said...

O Marcelo Hessel falou algo muito certo: "nos terrores, todo mundo é detetive."

Maurício said...

Eu acabei de ver e gostei. Não sei tanto de cinema quanto vcs mas o filme é sem dúvida um bom divertimento, nada espetacular, mas bem legal.