Pouca
coisa chama realmente atenção nesse filme de Brad Anderson. Aparentemente uma
colagem de muitas ideias (alguma boas, até) Chamada de Emergência acaba saindo uma espécie de suspense b,
desses que se tornaram clássicos do Super Cine ao longo dos anos, inclusive com
um roteiro que decide tomar decisões parecidas com as de tais filmes,
principalmente em seu desastroso terceiro ato.
O
mais triste é que as coisas parecem caminhar bem no início. Os primeiros
minutos estabelecem a atmosfera, a trama e apresentam os personagens através de
diálogos ágeis, apesar de extremamente expositivos, e um design de som interessante (apostando em componentes
diegéticos para ditar o tom de cada cena, desde o momento em que os créditos de
abertura surgem ao som de telefones tocando e chamadas sendo recebidas). Ali
somos apresentados a Jordan, atendente do 911 que falha no auxílio a uma jovem,
vítima de invasão domiciliar. Após um inexplicável salto temporal de seis
meses, a protagonista acaba novamente tendo que lidar com um caso de violência,
desta vez envolvendo uma outra jovem, sequestrada e posta no porta-malas de um
carro.
A
menina passa a ser instruída por Jordan. Interessante notar que tudo o que era
preciso estava ao alcance (o porta-malas do esperto vilão possui ferramentas e
latas de tinta), o que não é exatamente um grande problema, já que o espectador
acaba passando por cima do implausível quando o desenrolar dos fatos é
interessante o bastante para fazer valer o esforço da ignorância. O desastre
começa quando, a fim de encobrirem problemas claros na construção da trama, o
diretor e seu roteirista Richard D’Ovidio decidem apostar em coincidências
absurdas que ligam fatos ocorridos em momentos diferentes da vida profissional
da protagonista, vivida de forma intensa (muito, beirando a canastrice) por
Halle Berry.
Por
isso o terceiro ato é terrível. Tais conexões inexplicáveis enfraquecem o
resultado. As ações do sequestrador carecem de motivação, as decisões tomadas
por Jordan carecem de inteligência, o embate final carece de sentido, e somos
obrigados a presenciar todos esses acontecimentos em sequencia, ignorando os
personagens que haviam estado em cena até então (mesmo que suas presenças
fossem dispensáveis desde o princípio). E aí o desfecho feminista, uma
esquisita mistura de O Silêncio dos
Inocentes e Lady Vingança, é a
cereja no bolo.
Logicamente,
as coisas não podem ser resolvidas da forma mais natural nas produções
rocambolescas de Hollywood. Deixar o trabalho duro para a polícia seria o
normal (mesmo que ela seja extremamente incompetente como em Chamada de Emergência, no qual um
helicóptero demora uma hora para encontrar um carro, mesmo sabendo sua
localização), mas na mente do roteirista de 13 Fantasmas e de Brad Anderson, cineasta acostumado com a TV (mais
uma similaridade com o Super Cine) não é excitante o suficiente. Afinal, de que
adianta ter Halle Berry, belíssima aos 46 anos, e não mostrá-la em ação, suada,
e sem a desconfortável camisa polo que a mesma usa durante a primeira hora de
projeção?
The Call, Brad Anderson, 2013
½

1 comment:
hahaha. ótima observação final. gostei do filme. é tosco mas me diverti
e n]ão entendo o vilão permitir que ela ficasse com celular dentro do carro inclusive depois de perceber que ela está acionando a emergência
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