Existe
em Elysium uma dicotomia, um conflito entre o que o filme é e o que ele
gostaria de ser, que impede o completo sucesso artístico do trabalho de Neill Blomkamp.
A sinopse, o argumento e os primeiros minutos, com suas tomadas aéreas e o
flashback envolvendo Max, personagem de Matt Damon, demonstram todas as
intenções de Blomkamp em fazer de seu segundo filme a mesma crônica social que
sua estreia nas telas, Distrito 9, foi: desolação e miséria para muitos,
fartura e saúde para alguns poucos que monopolizam o bem-estar e lucram com a
miséria.
Já
o resto da narrativa leva a trama para outra direção, muito mais barulhenta e
cheia de correria, que dilui o potencial comentário sociopolítico da obra e
revela o que Elysium é, na verdade: uma casca profunda e um interior raso como
um pires.
Essa
desarmonia entre argumento forte e excesso de cenas de ação não é novidade com
Blomkamp. O antes citado Distrito 9, que era ótimo, possuía uma reta final que já
sofria desse mal. Após gastar 90 minutos para construir um filme político
travestido de sci-fi, o cineasta sul-africano quase pôs tudo a perder com 20
minutos de explosões, tiroteios inexplicáveis, e um desfecho quase
Spielberguiano. Ao final da projeção, o saldo era muito positivo, mas não sem
algumas merecidas ressalvas.
O
que o diretor nos mostra agora é uma versão de 1h50 do terceiro ato de seu filme
anterior. Sim, pois tudo que Elysium constrói em relação a comentários e sua
trama de fundo político é constantemente ameaçado por todo o corre-corre e
pancadaria que se faz presente a todo o momento. Escrita pelo próprio Blomkamp,
a trama explora a ideia de que, em um futuro não muito distante, a Terra está
destruída pela poluição, aquecimento global, superpopulação, tudo que nos assola
em 2013 e projeta uma sombra de ameaça no futuro do Planeta. Nesse cenário, os
ricos moram em uma estação espacial moderníssima (a Elysium do título, cujo
desenho remete imediatamente a 2001: Uma Odisseia no Espaço), enquanto os pobres
sofrem com as dificuldades da vida na Terra. Quando um homem, Max, se vê
contaminado por uma dose cavalar de radiação e recebe a notícia de que morrerá em cinco dias, decide invadir Elysium, visto que o satélite espacial possui a tecnologia
necessária para curá-lo.
A
escolha de elenco do diretor é interessante em sua tentativa de ilustrar a intenção
de Elysium de comentar a situação atual do mundo: enquanto os ricos são
comandados por uma Jodie Foster ainda mais loura, quase robótica, Blomkamp
resolve povoar a Terra com atores advindos de países acostumados com a miséria
e a desigualdade social. Vemos o mexicano Diego Luna, os brasileiros Alice
Braga e Wagner Moura (o destaque da produção como Spider, responsável por chantagear Max a fim de
levá-lo a Elysium) e o sul-africano Sharlto Copley, pouco
aproveitado como um agente infiltrado unidimensional. Infelizmente o cineasta
se perde em sua visão ao se deixar levar por Hollywood e escalar um norte-americano
como o herói, uma ironia difícil de ser ignorada.
E
é justamente essa influencia da chegada de Neill Blomkamp à América que quase põe
tudo a perder em Elysium. Talvez forçado por executivos, talvez encantado com o
seu orçamento, o cineasta, que havia debutado em longas-metragens com um
trabalho quase memorável, resolve filmar um típico arrasa-quarteirão
hollywoodiano, fácil, mastigado, e recheado de balas, socos e pontapés, apesar
do material interessante que tinha em mãos. Não é que tudo seja um problema (a
estética parecida com Distrito 9 cria uma identidade visual no estilo do
diretor, a câmera inquieta carrega a tensão com competência, as sequencias de ação são, de fato, boas, além da cena da
reconstrução facial, que deixaria Paul Verhoeven orgulhoso), mas o que deveria
ser destaque por aqui, não o é. E é aí que nasce a decepção.
Elysium,
Neill Blomkamp, 2013
½

2 comments:
Achei bom...
Distrito 9 é bem melhor.
vejo problemas em tiros, explosoes e correria que acabam soterrando a historia, mas acho que gostei mais do que voce
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