Ao
fim de Obsessão, a impressão que
fica sobre Lee Daniels é que sua ambição é inversamente proporcional ao seu
talento. Durante a projeção, é evidente o desejo que o cineasta tem de construir
um thriller eficiente, ao mesmo tempo em que retrata a América atrasada e
preconceituosa dos anos 60. Suas intenções, no entanto, naufragam em um mar de
falta de sutileza e explosões gratuitas de violência.
Pois
filmes como Onde os Fracos Não Têm Vez
e Killer Joe (só para ficarmos em
exemplos recentes de suspenses com a mesma ambientação sulista) construíam a
tensão através de diálogos e do controle dos diretores sobre seus atores.
Quando a violência aparecia, geralmente em doses cavalares, o espectador se
surpreendia com a intensidade dos atos, mas conhecia os personagens o bastante
para saber que eles eram capazes de tais atitudes.
Daniels,
por sua vez, busca o choque pelo choque, apostando sempre em sequencias que ora
enojam, ora perturbam o espectador, mas nunca passam de provocações de dentro
para fora da tela porque o espectador percebe desde o início uma pré-disposição
para o gratuito por parte de seu diretor. O close nas ereções de dois personagens
e em uma faca entrando e saindo da barriga de um homem, além da cena que exibe
as entranhas de um jacaré em primeiríssimo plano são exibições desnecessárias e
que no fim das contas, pouco ou nada acrescentam à narrativa.
Além
de fracassar como thriller sulista, Obsessão
falha também como filme de investigação. Sabemos que o longa acompanha os
irmãos Jack e Ward Jansen, filhos de W. W. Jansen, editor do principal jornal
de Moat County, na Florida. Acompanhados por Yardley Acheman (negro e responsável
pela parcela conscientizadora do roteiro, ao lado de Anita, empregada dos
Jansen e narradora da trama), parceiro de Ward no jornal no qual trabalha em
Miami, os irmãos se veem envolvidos na tarefa de coletar informações sobre o
assassinato de um xerife, que podem acabar inocentando Hillary Van Wetter, o
homem que foi preso como o principal suspeito pela morte do policial. Para
isso, contam com a ajuda de Charlotte Bless, namorada de Van Wetter, com quem o
prisioneiro trocou diversas cartas, e por quem Jack acaba se apaixonando.
Em
algum momento, porém, o texto de Daniels e Pete Dexter parece abandonar a
investigação para investir no estudo das consequências morais e emocionais da
investigação e da presença de Charlotte na vida dos irmãos. Uma decisão que
poderia ser louvável se não parasse no terceiro ato inexplicável, na mão pesada
de seu diretor e em sua dificuldade em conduzir o elenco. Jack, o protagonista
e o “paperboy” do título original, esbarra em Zac Efron, cuja inexpressividade
contrasta com a canastrice marcada pelo excesso do resto do elenco (que conta
com atores renomados como Matthew McConaughey e John Cusack, ambos provavelmente
enganados pelo trabalho anterior de Daniels, Preciosa que não era grande coisa, mas que fez muito barulho quando
lançado).
No
meio de tantas composições problemáticas, quem acaba sofrendo mais é Nicole
Kidman. Desesperada por um papel relevante, a atriz acaba se afundando ainda
mais como Charlotte, uma mulher mal escrita e dona dos momentos mais
constrangedores de Obsessão. A cena
em que Charlotte urina em Jack, após este ser queimado por águas-vivas, e seu
sexo violento, mas pouco convincente com Van Wetter definem uma personagem que
representa o fundo do poço para aquela que há pouco mais de dez anos era uma
das maiores estrelas de Hollywood.
The Paperboy,
Lee Daniels, 2012
½

1 comment:
Nicole kidman tem sido elogiado por esse filme. nao me convenceu
ela era tao linda e tao talentosa
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