Sunday, October 27, 2013

Obsessão

Ao fim de Obsessão, a impressão que fica sobre Lee Daniels é que sua ambição é inversamente proporcional ao seu talento. Durante a projeção, é evidente o desejo que o cineasta tem de construir um thriller eficiente, ao mesmo tempo em que retrata a América atrasada e preconceituosa dos anos 60. Suas intenções, no entanto, naufragam em um mar de falta de sutileza e explosões gratuitas de violência.
                                                                                              
Pois filmes como Onde os Fracos Não Têm Vez e Killer Joe (só para ficarmos em exemplos recentes de suspenses com a mesma ambientação sulista) construíam a tensão através de diálogos e do controle dos diretores sobre seus atores. Quando a violência aparecia, geralmente em doses cavalares, o espectador se surpreendia com a intensidade dos atos, mas conhecia os personagens o bastante para saber que eles eram capazes de tais atitudes.

Daniels, por sua vez, busca o choque pelo choque, apostando sempre em sequencias que ora enojam, ora perturbam o espectador, mas nunca passam de provocações de dentro para fora da tela porque o espectador percebe desde o início uma pré-disposição para o gratuito por parte de seu diretor. O close nas ereções de dois personagens e em uma faca entrando e saindo da barriga de um homem, além da cena que exibe as entranhas de um jacaré em primeiríssimo plano são exibições desnecessárias e que no fim das contas, pouco ou nada acrescentam à narrativa.

Além de fracassar como thriller sulista, Obsessão falha também como filme de investigação. Sabemos que o longa acompanha os irmãos Jack e Ward Jansen, filhos de W. W. Jansen, editor do principal jornal de Moat County, na Florida. Acompanhados por Yardley Acheman (negro e responsável pela parcela conscientizadora do roteiro, ao lado de Anita, empregada dos Jansen e narradora da trama), parceiro de Ward no jornal no qual trabalha em Miami, os irmãos se veem envolvidos na tarefa de coletar informações sobre o assassinato de um xerife, que podem acabar inocentando Hillary Van Wetter, o homem que foi preso como o principal suspeito pela morte do policial. Para isso, contam com a ajuda de Charlotte Bless, namorada de Van Wetter, com quem o prisioneiro trocou diversas cartas, e por quem Jack acaba se apaixonando.

Em algum momento, porém, o texto de Daniels e Pete Dexter parece abandonar a investigação para investir no estudo das consequências morais e emocionais da investigação e da presença de Charlotte na vida dos irmãos. Uma decisão que poderia ser louvável se não parasse no terceiro ato inexplicável, na mão pesada de seu diretor e em sua dificuldade em conduzir o elenco. Jack, o protagonista e o “paperboy” do título original, esbarra em Zac Efron, cuja inexpressividade contrasta com a canastrice marcada pelo excesso do resto do elenco (que conta com atores renomados como Matthew McConaughey e John Cusack, ambos provavelmente enganados pelo trabalho anterior de Daniels, Preciosa que não era grande coisa, mas que fez muito barulho quando lançado).

No meio de tantas composições problemáticas, quem acaba sofrendo mais é Nicole Kidman. Desesperada por um papel relevante, a atriz acaba se afundando ainda mais como Charlotte, uma mulher mal escrita e dona dos momentos mais constrangedores de Obsessão. A cena em que Charlotte urina em Jack, após este ser queimado por águas-vivas, e seu sexo violento, mas pouco convincente com Van Wetter definem uma personagem que representa o fundo do poço para aquela que há pouco mais de dez anos era uma das maiores estrelas de Hollywood.

The Paperboy, Lee Daniels, 2012 ½

1 comment:

joao said...

Nicole kidman tem sido elogiado por esse filme. nao me convenceu

ela era tao linda e tao talentosa