Ao
longo de seus 146 minutos, Os Suspeitos
é uma experiência angustiante. Algumas vezes comparado aos thrillers de David
Fincher, a estreia do diretor Denis Villeneuve nos EUA se aproveita das paisagens geladas do
inverno de Boston e da estrutura narrativa baseada em investigações que revelam
novos detalhes a cada momento e afundam os homens envolvidos em uma espiral de
paranoia interminável para criar um longa tenso, cheio de nuances sobre os
personagens, e absolutamente perturbador.
Escrita
por Aaron Guzikowski, a trama acompanha as investigações policiais e o tormento
das famílias das jovens meninas Anna e Joy (as lindinhas Erin Gerasimovich e Kyla
Drew Simmons, respectivamente), desaparecidas enquanto os pais das crianças
preparavam o jantar de Ação de Graças. Desesperado e cansado da falta de
notícias e soluções por parte da polícia local, Keller Dover (Hugh Jackman),
pai de Anna, resolve buscar respostas que o ajudem a encontrar sua filha. Para
isso, sequestra Alex Jones (Paul Dano), principal suspeito do crime e libertado
da prisão por falta de provas, a fim de obrigá-lo a entregar o local para onde
as duas pequenas foram levadas.
Extremamente
bem escrito, o roteiro dá conta de uma narrativa dividida em duas linhas que
caminham lado a lado e se entrelaçam o tempo todo. Loki, o detetive vivido por
Jake Gyllenhaal, nunca consegue se desvencilhar de Keller e sua obsessão em achar
sua filha. Para que as reviravoltas, as nuances da trama e o estudo de
personagens levados ao limite funcionem bem, o roteirista recebe auxílio da direção
de arte primorosa, que encontra ecos em Millenium:
Os Homens que Não Amavam as Mulheres e Inverno
da Alma, da edição habilidosa de Joel Cox e Gary Roach, colaboradores
frequentes de Clint Eastwood, e de um diretor muito mais do que seguro.
Villeneuve,
sutil ao conectar o fim de uma cena ao início da seguinte (como no momento em
que ele mostra Loki empurrando uma van de brinquedo sobre uma mesa para, na
sequencia, abrir a próxima cena com uma van batida em uma árvore) mostra
competência ímpar para ilustrar as cenas e exibir, não só no raccord, mas com suas composições,
traços reveladores de Os Suspeitos
(cujo nome original, Prisoners, “prisioneiros”
em Português, é lindo por ser tão apropriado). Um desses traços, latente desde
o início da projeção, é a forte ligação religiosa que une os personagens. O
cineasta é inteligente ao, sem contar com cenas em igrejas ou com cerimônias de
qualquer tipo, exibir para o espectador a religiosidade presente no texto de
Guzikowski, no “Pai Nosso” que inunda nossos ouvidos antes que qualquer imagem
seja mostrada e no close rápido da cruz tatuada na mão de Loki.
O
comandante mostra entender também da condução dos atores. Nas mãos de
Villeneuve, o elenco (que além dos já citados, conta também com nomes como
Viola Davis, Maria Bello e Terrence Howard) se comporta de forma completamente
harmônica com o tom de agonia crescente desejado pelo diretor. Nesse mosaico de
boas atuações, o destaque acaba ficando para Hugh Jackman e Jake Gyllenhaal,
dividindo a tela em diversos momentos, sempre com muita intensidade. Ótimo para
um filme que depende muito de seus atores para que sua carga dramática convença
e funcione para o espectador.
Como
dito no início desse texto, Os Suspeitos
tem sido constantemente comparado a trabalhos como Seven e Zodíaco, ambos
dirigidos por David Fincher. Observando a proposta narrativa das obras, é fácil
entendermos o porquê de tais referencias. Tanto os suspenses de Fincher quanto
o longa de Villeneuve apostam na decisão de usar investigações criminais para
estudarem os efeitos da obsessão e da paranoia nos homens. Loki e Keller não
são muito diferentes de Sommerset e Mills, ou de Robert Graysmith e Paul Avery.
Todos eles sacrificam sua saúde mental a fim de solucionarem o quebra-cabeça que
os atormenta. É claro que em Os Suspeitos
existe o adicional do laço de sangue que une Keller e Anna, mas no fim das
contas, todos os três contos de horror acabam fazendo o mesmo por seus
personagens: levando-os (às vezes literalmente) para o buraco, de onde nem
sempre é possível sair.
Prisoners,
Denis Villeneuve, 2013
1 comment:
acho bem melhor que seven e zodiado(que pretendo rever). mas tem estilo parecido mesmo.
belo filme
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