Sunday, November 10, 2013

Capitão Phillips

De certa forma, Capitão Phillips é um amálgama das habilidades que Paul Greengrass refinou durante sua carreira. Durante a projeção nota-se o componente político presente em trabalhos antigos do diretor, como Domingo Sangrento e Voo United 93, e a ação lapidada em A Supremacia Bourne e O Ultimato Bourne. Mais experiente, Greengrass consegue um equilíbrio interessante entre cinema político e de ação, gerando um filme que não é panfletário, e muito menos descamba para a ação inconsequente e desenfreada que poderia sabotar as pretensões do cineasta.

Mas Greengrass não demonstra talento apenas na abordagem temática: contando com um roteiro enxuto de Billy Ray, o diretor vai construindo sua escalada emocional e realiza um de seus longas mais tensos ao acompanhar o drama vivido pelo capitão Richard Phillips e pelos tripulantes do navio US Maersk Alabama, embarcação norte-americana responsável por levar alimentos e itens básicos para a África que é sequestrada por piratas na costa Somaliana. Phillips, personagem que dá nome à produção, acaba sendo levado como reféns pelos somalis, liderados pelo corsário Muse, que esperam conseguir um resgate milionário pela vida do capitão.

O texto de Ray e a direção de Greengrass são extremamente econômicos ao apresentarem Phillips e Muse, seus personagens principais, e desenharem a visão sociopolítica que vai margear toda a narrativa. Após um início silencioso, no qual o título do longa é apresentado na tela preta, vemos o protagonista, vivido por um Tom Hanks em estado de graça, conversando com a esposa antes de embarcar para a Somália. Logo depois vemos os somalis recrutando homens para sequestrarem um navio. Corta para Phillips, tocando sua viagem e sendo avisado da presença de piratas no litoral africano. Depois, assistimos os assaltantes escolhendo o navio a ser invadido.

Intercalando os dois núcleos, Greengrass vai construindo a tensão lentamente, até que ela se materializa na bela sequencia da invasão. Nela o diretor desfila todo seu talento na condução da ação de forma quase artesanal, sem muita pirotecnia, em cortes secos que deixam o espectador na ponta da cadeira. No entanto, logo vemos que a câmera quase documental do cineasta quer mais do que despertar o suspense.

Quando começam as negociações entre somalis e americanos, Capitão Phillips adiciona um elemento que vai acompanhar o filme até o seu fim: a questão de utilizar as imagens como um microcosmo da realidade. A partir de certo momento, o bote no qual os somalis se encontram e os gigantescos navios norte-americanos passam a ser enfocados no mesmo plano. Ali, percebemos a maneira desproporcional com que os Estados Unidos tratam certos casos, o que remete a incidentes recentes na necessidade dos EUA de imporem sua vontade não através da diplomacia, mas da vitória massiva.

Em certo momento, Muse explica o fato de ser um pirata a um atordoado Phillips: “Vocês tomaram nossos peixes, invadiram nossas águas”, ele diz. Em outro, ouvimos o mesmo Muse se justificar: “Sou apenas um pescador”. Não que a narrativa deixe o sequestro do navio em segundo plano para se transformar em uma bandeira diplomata: Greengrass é habilidoso o suficiente para não cair nessa armadilha, oferecendo a reflexão em pílulas administradas em meio a uma narrativa muito bem construída naquele que, se não fosse o sensacional A Hora Mais Escura, poderia facilmente ser o melhor thriller político a estrear por aqui em 2013.

Captain Phillips, Paul Greengrass, 2013 

2 comments:

Raquel Raposo said...

Filme muito bom!

joao said...

acho bem melhor que a hora mais escura. Ja tinha até perdido a esperança e Tom hanks