De
certa forma, Capitão Phillips é um
amálgama das habilidades que Paul Greengrass refinou durante sua carreira.
Durante a projeção nota-se o componente político presente em trabalhos antigos
do diretor, como Domingo Sangrento e
Voo United 93, e a ação lapidada em A Supremacia Bourne e O Ultimato Bourne. Mais experiente,
Greengrass consegue um equilíbrio interessante entre cinema político e de ação,
gerando um filme que não é panfletário, e muito menos descamba para a ação
inconsequente e desenfreada que poderia sabotar as pretensões do cineasta.
Mas
Greengrass não demonstra talento apenas na abordagem temática: contando com um
roteiro enxuto de Billy Ray, o diretor vai construindo sua escalada emocional e
realiza um de seus longas mais tensos ao acompanhar o drama vivido pelo capitão
Richard Phillips e pelos tripulantes do navio US Maersk Alabama, embarcação
norte-americana responsável por levar alimentos e itens básicos para a África
que é sequestrada por piratas na costa Somaliana. Phillips, personagem que dá
nome à produção, acaba sendo levado como reféns pelos somalis, liderados pelo
corsário Muse, que esperam conseguir um resgate milionário pela vida do
capitão.
O
texto de Ray e a direção de Greengrass são extremamente econômicos ao
apresentarem Phillips e Muse, seus personagens principais, e desenharem a visão
sociopolítica que vai margear toda a narrativa. Após um início silencioso, no
qual o título do longa é apresentado na tela preta, vemos o protagonista,
vivido por um Tom Hanks em estado de graça, conversando com a esposa antes de
embarcar para a Somália. Logo depois vemos os somalis recrutando homens para sequestrarem
um navio. Corta para Phillips, tocando sua viagem e sendo avisado da presença
de piratas no litoral africano. Depois, assistimos os assaltantes escolhendo o
navio a ser invadido.
Intercalando
os dois núcleos, Greengrass vai construindo a tensão lentamente, até que ela se
materializa na bela sequencia da invasão. Nela o diretor desfila todo seu
talento na condução da ação de forma quase artesanal, sem muita pirotecnia, em
cortes secos que deixam o espectador na ponta da cadeira. No entanto, logo
vemos que a câmera quase documental do cineasta quer mais do que despertar o
suspense.
Quando
começam as negociações entre somalis e americanos, Capitão Phillips adiciona um elemento que vai acompanhar o filme
até o seu fim: a questão de utilizar as imagens como um microcosmo da
realidade. A partir de certo momento, o bote no qual os somalis se encontram e os
gigantescos navios norte-americanos passam a ser enfocados no mesmo plano. Ali,
percebemos a maneira desproporcional com que os Estados Unidos tratam certos
casos, o que remete a incidentes recentes na necessidade dos EUA de imporem sua
vontade não através da diplomacia, mas da vitória massiva.
Em
certo momento, Muse explica o fato de ser um pirata a um atordoado Phillips: “Vocês
tomaram nossos peixes, invadiram nossas águas”, ele diz. Em outro, ouvimos o
mesmo Muse se justificar: “Sou apenas um pescador”. Não que a narrativa deixe o
sequestro do navio em segundo plano para se transformar em uma bandeira
diplomata: Greengrass é habilidoso o suficiente para não cair nessa armadilha,
oferecendo a reflexão em pílulas administradas em meio a uma narrativa muito
bem construída naquele que, se não fosse o sensacional A Hora Mais Escura, poderia facilmente ser o melhor thriller
político a estrear por aqui em 2013.
Captain Phillips,
Paul Greengrass, 2013 

2 comments:
Filme muito bom!
acho bem melhor que a hora mais escura. Ja tinha até perdido a esperança e Tom hanks
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