Peter
Jackson não é mais o mesmo. Ao assistir aos dois episódios de O Hobbit, tem-se a impressão de que
Jackson envelhece ao mesmo tempo em que regride no cuidado que tem com suas
obras, que precisam cada vez menos da duração exagerada que têm. Se seus filmes
do início dos anos 2000 (O Senhor dos
Anéis, King Kong) eram um resumo
do que o blockbuster de fantasia tem
que ser, aliando efeitos especiais e coração, seus últimos trabalhos (contando
com o horroroso Um Olhar do Paraíso)
diminuíram a quantidade do segundo item, e quem saiu perdendo fomos nós.
Não
que seu retorno à Terra-Média seja ruim. Uma
Jornada Inesperada era um belo filme de fantasia. Havia, porém, ressalvas a
serem feitas. Apesar de “O Hobbit” ser uma aventura concluída em apenas um livro
decidiu-se, por pura ganância, dividir a narrativa em três filmes, condensando
trezentas páginas de história em nove horas de imagens. Para rechear a trama,
Jackson decidiu (com o auxílio de suas roteiristas Fran Walsh e Philippa Boyens)
costurar uma conexão entre a jornada de Bilbo e os anões rumo à Montanha
Solitária com os acontecimentos de O Senhor
dos Anéis. O resultado foi um pouco problemático. Dois filmes em um: quando
a narrativa se concentrava na aventura em si o longa engrenava rápido, mas
quando tentava ser o elo com A Sociedade
do Anel...
A Desolação de Smaug,
segunda parte de O Hobbit, é uma
aventura que possui os mesmos problemas de seu antecessor. Aqui, continuamos a
acompanhar os anões que, ajudados por Bilbo e Gandalf, continuam em sua busca
pela recuperação do tesouro que lhes foi roubado pelo dragão Smaug. A narrativa
se inicia do ponto em que Uma Jornada Inesperada parou. No prólogo, porém,
Jackson começa a fazer as malfadadas conexões com os acontecimentos futuros,
como o despertar e fortalecimento de Sauron.
Aqui,
porém, tais referências representam um problema ainda maior por tomarem um
tempo precioso da narrativa. Se no primeiro longa, o texto de Boyens e Walsh se
preocupava em andar um pouco com a história, dessa vez pouca coisa realmente
relevante para o desenrolar da trama central acontece, com o adendo de cada obstáculo
enfrentado por Bilbo e Gandalf ser encerrado com uma referência à malevolência
do Um Anel. Também parece perigoso do ponto de vista narrativo tratar Sauron, e
não Smaug, como o grande vilão da trilogia. O próprio dragão comenta o retorno
do Senhor do Escuro com total respeito e admiração. O risco e a urgência da
questão dos anões se diluem ainda mais do que em Uma Jornada Inesperada.
Outros
momentos representam incidentes problemáticos em A Desolação de Smaug. Legolas e a elfa Tauriel são personagens que
não possuem propósito algum em figurarem com algum destaque. Não adicionam nada
à narrativa central, ficam à margem dos acontecimentos, em uma subtrama que
apenas serve para mudar acontecimentos das páginas de Tolkien sem o menor
impacto ou razão. Além disso, a visita de Gandalf a Dol Guldur, por mais que
seja empolgante, entra em conflito com as decisões que o mago toma no primeiro
ato de A Sociedade do Anel, um
deslize imperdoável.
Não
que não existam pontos positivos nessa continuação. Eles estão lá: a fuga nos barris, a primeira aparição de Smaug,
filmada cheia de pompa, a trilha sonora contemplativa de Howard Shore. O problema
é quer não existe nenhum GRANDE momento no filme de Jackson que, por querer
ainda mais espetáculo do que o livro de Tolkien já dava, infla seu fiapo de
história em 161 minutos com cenas de perseguição e efeitos especiais
(arrasadores, sim, mas nada que já não tenhamos visto), mas nos quais pouca
coisa relevante acontece. O resultado acaba sendo um filme de belas imagens
(fortalecidas pela técnica de filmagem a 48 quadros por segundo), mas
extremamente impessoal.
Peter
Jackson possui um amor imenso pela Terra-Média, isso é evidente. Pena que ele
não consiga transmitir todo esse sentimento para o espectador.
The Hobbit: The Desolation of Smaug, Peter Jackson, 2013 ½
2 comments:
Achei o filme chato e arrastado.
Gosto muito mais do primeiro.
tambem acho chato e arrstado, a diferenca e que tame nao gosto do primeiro
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