Saturday, December 21, 2013

É o Fim

É impossível não pensar que a loucura É o Fim, filme mais pessoal da turma de comediantes e amigos formada por nomes como Seth Rogen, James Franco e Jonah Hill teria sido mais bem-sucedida no Brasil se todas as comédias protagonizadas por eles tivessem tido o mesmo espaço nos cinemas brasileiros. Lotada de referências às filmografias dos astros, a produção consegue o feito de combinar dois sub-gêneros que parecem ter muito pouco em comum: os filmes-catástrofe e os bromances.
                                                                                                                                
Escrita pela dupla Seth Rogen e Evan Goldberg (responsáveis pelos textos de Segurando as Pontas e Superbad, e que agora estreiam na direção), É o Fim é uma adaptação do curta-metragem Jay and Seth vs. The Apocalypse. Na história, o ator James Franco recebe os amigos para a festa de inauguração de sua mansão. Lotada de astros e seus excessos, a festa corria muito bem até que o mundo começa a testemunhar o Apocalipse, com direito a arrebatamentos (em raios azuis que descem do céu) e demônios andando pela Terra.

É interessante ver os atores encarnando e parodiando a si próprios. Por se tratar de um filme de amigos, É o Fim por vezes tem gosto de piada interna, o que acentua a autocrítica (como na cena em que Hill se apresenta como “Jonah Hill, de O Homem que Mudou o Jogo”, mesmo tendo construído sua carreira em cima da comédia) e dá o tom da metalinguagem que infelizmente, como já foi dito, perde um pouco de sua força em terras brazucas porque alguns filmes que ajudaram a moldar a metalinguagem, como Tá Rindo do Quê?, Sua Alteza? e Segurando as Pontas foram lançados direto em DVD por aqui.

Rogen e Goldberg mostram timing cômico e inteligência no equilíbrio entre a paródia e o desenrolar da trama, justamente por entrelaçar as duas vertentes: apesar de ser, em linhas gerais, um filme-catástrofe por natureza, os diretores costuram a narrativa aos filmes sobre amizade masculina de Judd Apatow e Cia., apostando em saídas que buscam balancear a proposta que, justamente por ter a já citada cara de piada interna, poderia afastar o público se feita de maneira autoindulgente ou egocêntrica, como se os autores olhassem para o próprio umbigo.

Uma dessas saídas é o protagonismo de Jay Baruchel, nome um pouco menos famoso do que seus companheiros de cena e que, ao mesmo tempo em que ganha enfim um papel de destaque, acaba servindo como os olhos do espectador dentro da mansão na qual Rogen, Franco, Hill, Craig Robinson e Danny McBride se refugiam. A escolha de Baruchel se revela acertada e a pouca fama do ator é bem retratada desde a primeira cena do longa, que mostra Rogen indo recebê-lo no aeroporto, e sendo o único da dupla a ser reconhecido pelas pessoas.

Outra característica marcante do sucesso de É o Fim é o seu elenco, que se entrega completamente aos absurdos que permeiam a trama. Desde as pontas fantásticas de Michael Cera e Emma Watson, até chegar aos protagonistas do longa, ver os atores em momentos inacreditáveis como a discussão de Franco e McBride sobre masturbação e a referência a O Bebê de Rosemary, ou recitando frases como “A Santa Trindade é como sorvete napolitano” é de uma criatividade que, além de matar de rir, refresca de maneira revigorante esse fraco ano para a comédia.

Talvez com outros nomes na direção, o elenco não tivesse se dedicado com tanto afinco a dar credibilidade ao ridículo, ao disparate quase herético de chegar ao Paraíso ao som de Backstreet Boys. O bromance (na frente a atrás das câmeras) deu o tom de É o Fim, e é também a razão de seu sucesso.

This is the End, Seth Rogen e Evan Goldberg, 2013 ½

1 comment:

joao said...

otimo filme. mas eu mesmo devo ter perdido varias piadas ja que nao vi muitas dessas comedias

e se apresentar como o ator de o Homem que mudou o jogo me pareceu um cena de um plus a mais, do tipo, faco comedias, mas ja fiz filmes serios e fui indicado ao oscar