Tuesday, December 17, 2013

O Último Exorcismo - Parte II

O Último Exorcismo foi um dos filmes mais comentados de 2010. O falatório em torno de seu lançamento também fez dele um dos títulos mais lucrativos daquela temporada, contabilizando um income de aproximadamente 20 vezes o seu custo de produção.

Logicamente, a lucratividade do longa se deu muito mais pela tosquice da produção (o found footage barateia as filmagens, por se assemelhar a vídeos amadores e por lançar mão de atores desconhecidos para dar credibilidade ao formato) do que por suas qualidades narrativas, que eram poucas. Com certa habilidade, até criava alguma atmosfera, mas derrapava no texto e na estética, que deu origem a uma sequencia final que poderia ser interessante se tivesse chegado 12 anos antes, mas que não tem efeito algum sobre um público que viu A Bruxa de Blair.

O Último Exorcismo – Parte II tenta consertar os erros do seu predecessor. Começa por abandonar o found footage em prol de uma linguagem mais convencional e imagens inteligíveis. Ao mesmo tempo, já em sua abertura, o longa de Ed Gass-Donnelly se assume como sequencia direta dos acontecimentos que encerraram o longa de 2010, através de flashbacks e do prólogo, que cuida de reapresentar a protagonista Nell para as audiências.

Após ser encontrada na floresta, a adolescente é examinada por médicos e levada à cidade de Davreaux, para um lar para garotas abandonadas. Nell tenta reajustar-se à nova realidade, tateando aos poucos sua nova vida: arruma emprego em um hotel barato, começa a se envolver com um jovem, quase se esquece dos episódios de possessão pelos quais passou. Até que começa a ser sobrenaturalmente avisada sobre a insistência do demônio Abalam em tomar seu corpo para si.

Apesar de ter mudado de diretor e roteiristas (o texto foi dessa vez escrito por Gass-Donnelly ao lado de Damen Chazelle), essa Parte II não difere em ideologia em relação ao original. Ainda trata a possessão demoníaca como algo explicitamente sexual, transmitindo a retrógrada posição de que transar (principalmente se você for uma adolescente) é um ato ruim.

É bem verdade que O Último Exorcismo não é o primeiro filme do gênero a tratar do assunto (a questão carnal é um dos pilares de TODOS os longas-metragens sobre possessão demoníaca). O problema aqui é a obviedade infantil com a qual seu diretor aborda o tema. Difícil dizer o que é mais risível, se a mensagem castradora de que o sexo é algo negativo, ou o demônio usado para transmitir o ponto de vista: um cramulhão adolescente, imaturo ao ponto de sair de carro para comemorar a conquista de sua amada, incendiando lixeiras e árvores pelo caminho.

Não é só a mensagem que Gass-Donnelly demonstra falta de talento. Elimina qualquer traço de originalidade de sua assinatura ao apostar em muletas clássicas do gênero, como visões de fantasmas que aparecem para avisar a protagonista do perigo e telefones que tocam mesmo com o fio desconectado. Tenta aplicar sustos utilizando acordes mais altos da trilha sonora. Cita Friedkin, Polanski e Hitchcock, mas não sabe exatamente o que fazer com tais referências. Além, é claro, de acabar explicitando a precariedade de sua produção e não conseguir esconder a falta de talento de seu elenco.

Nesse aspecto, a estética adotada por Daniel Stamm, diretor do primeiro filme, era muito mais eficaz. O esquema da filmagem encontrada, tosca por natureza, tem como característica clássica sugerir muito mais do que mostrar, o que abafa o visual de terceira categoria e mascara a canastrice de seus atores.

The Last Exorcism – Part II, Ed Gass-Donnelly, 2013 

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