O Último Exorcismo
foi um dos filmes mais comentados de 2010. O falatório em torno de seu
lançamento também fez dele um dos títulos mais lucrativos daquela temporada,
contabilizando um income de aproximadamente 20 vezes o seu custo de produção.
Logicamente,
a lucratividade do longa se deu muito mais pela tosquice da produção (o found footage barateia as filmagens, por
se assemelhar a vídeos amadores e por lançar mão de atores desconhecidos para
dar credibilidade ao formato) do que por suas qualidades narrativas, que eram
poucas. Com certa habilidade, até criava alguma atmosfera, mas derrapava no
texto e na estética, que deu origem a uma sequencia final que poderia ser
interessante se tivesse chegado 12 anos antes, mas que não tem efeito algum
sobre um público que viu A Bruxa de
Blair.
O Último Exorcismo – Parte
II
tenta consertar os erros do seu predecessor. Começa por abandonar o found footage em prol de uma linguagem
mais convencional e imagens inteligíveis. Ao mesmo tempo, já em sua abertura, o
longa de Ed Gass-Donnelly se assume como sequencia direta dos acontecimentos
que encerraram o longa de 2010, através de flashbacks e do prólogo, que cuida
de reapresentar a protagonista Nell para as audiências.
Após
ser encontrada na floresta, a adolescente é examinada por médicos e levada à
cidade de Davreaux, para um lar para garotas abandonadas. Nell tenta reajustar-se
à nova realidade, tateando aos poucos sua nova vida: arruma emprego em um hotel
barato, começa a se envolver com um jovem, quase se esquece dos episódios de
possessão pelos quais passou. Até que começa a ser sobrenaturalmente avisada
sobre a insistência do demônio Abalam em tomar seu corpo para si.
Apesar
de ter mudado de diretor e roteiristas (o texto foi dessa vez escrito por
Gass-Donnelly ao lado de Damen Chazelle), essa Parte II não difere em ideologia em relação ao original. Ainda
trata a possessão demoníaca como algo explicitamente sexual, transmitindo a
retrógrada posição de que transar (principalmente se você for uma adolescente)
é um ato ruim.
É
bem verdade que O Último Exorcismo
não é o primeiro filme do gênero a tratar do assunto (a questão carnal é um dos
pilares de TODOS os longas-metragens sobre possessão demoníaca). O problema
aqui é a obviedade infantil com a qual seu diretor aborda o tema. Difícil dizer
o que é mais risível, se a mensagem castradora de que o sexo é algo negativo,
ou o demônio usado para transmitir o ponto de vista: um cramulhão adolescente,
imaturo ao ponto de sair de carro para comemorar a conquista de sua amada,
incendiando lixeiras e árvores pelo caminho.
Não
é só a mensagem que Gass-Donnelly demonstra falta de talento. Elimina qualquer
traço de originalidade de sua assinatura ao apostar em muletas clássicas do
gênero, como visões de fantasmas que aparecem para avisar a protagonista do
perigo e telefones que tocam mesmo com o fio desconectado. Tenta aplicar sustos
utilizando acordes mais altos da trilha sonora. Cita Friedkin, Polanski e
Hitchcock, mas não sabe exatamente o que fazer com tais referências. Além, é
claro, de acabar explicitando a precariedade de sua produção e não conseguir
esconder a falta de talento de seu elenco.
Nesse
aspecto, a estética adotada por Daniel Stamm, diretor do primeiro filme, era
muito mais eficaz. O esquema da filmagem encontrada, tosca por natureza, tem
como característica clássica sugerir muito mais do que mostrar, o que abafa o
visual de terceira categoria e mascara a canastrice de seus atores.
The Last Exorcism – Part II, Ed Gass-Donnelly, 2013 

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