Ron
Howard é um diretor de altos e baixos. Sua carreira conciliou filmes candidatos
ao status de clássicos do cinema americano (Apolo 13, Uma Mente
Brilhante), trabalhos pretensiosos desesperados por premiações (Desaparecidas, A Luta Pela Esperança) e escorregões colossais (O Grinch, O Código Da Vinci). Independente da qualidade de suas obras, porém,
sua filmografia sempre foi marcada por um rigor formal e uma busca pela emoção
que, de tão exagerada, dificilmente conseguia o efeito desejado, transformando
os filmes em obras frias e desapaixonadas.
Por
isso, Rush: No Limite da Emoção é um
alívio na carreira do cineasta. Em seus 122 minutos, é um longa alucinante que
ao retratar a rivalidade entre dois pilotos, o inglês James Hunt e o austríaco
Niki Lauda, nos tempos áureos da Fórmula 1 (esporte que cai em popularidade ano
após ano) se transforma em um dos trabalhos mais apaixonados de seu diretor.
Essa
paixão, cuja falta foi sentida em muitos outros filmes de Howard, se faz
presente na encenação, no modo como o diretor filma o objeto principal de sua
narrativa: a fusão dos corpos, de metal (os carros, em tomadas que,
fetichistas, mostram em primeiro plano os motores roncando) e de carne e osso
(os pilotos). A energia do diretor, que parece de alguma forma renovada,
encontra ecos justamente nas cenas que representam a tal fusão, os Grandes
Prêmios de F1.
Neles,
a mão de Howard para cenas de ação é parceira de uma técnica quase impecável,
com a recriação de época perfeita, a fotografia saturada de Anthony Dod Mantle
dando o tom das corridas e a trilha sonora de Hans Zimmer, que parece um pouco
intrusiva em alguns momentos, mas que quando acerta é extremamente bem-vinda em
seu funcionalismo.
Nada,
porém, seria útil se a trama não se desenvolvesse bem. No entanto, o texto de
Peter Morgan, responsável pelo roteiro do melhor filme de Ron Howard (Frost/Nixon, de 2008), é extremamente
inteligente ao narrar com a sobriedade habitual de Morgan (que é também o autor
de A Rainha, de Stephen Frears) uma história
de homens obcecados, capazes de sacrificar suas vidas pessoais pelo seu
objetivo profissional, no caso, o título mundial de pilotos.
O
roteiro desenha bem as personalidades do extremamente dedicado Niki Lauda (o
verdadeiro Lauda foi consultor do roteiro de Rush) e o relaxado Hunt, narrando seis anos de uma rivalidade que
se alimentou do desejo dos pilotos de ser o melhor, até chegar ao derradeiro
campeonato mundial de 1976. As composições de Daniel Brühl (com dentes falsos
que o deixaram bem parecido com Lauda) e Chris Hemsworth são competentes e dão
credibilidade ao desenrolar da trama e aos pilotos que, como em toda rivalidade
esportiva, não eram tão diferentes quanto eles pensavam.
Para
validar o desenvolvimento dos protagonistas, Howard consegue algo raro em sua
carreira, o equilíbrio. Apesar de muita energia nas cenas de velocidade, o
cineasta consegue balancear a obra com uma paciência e um calor na hora de
estudar a obsessão de seus personagens que parece dar sequencia a um novo
direcionamento em sua carreira ao mesmo tempo em que refresca sua filmografia.
Assim como em Frost/Nixon, Rush: No Limite da Emoção representa
uma possibilidade de um cinema mais sóbrio de seu diretor. Os anos 70, época da
perda da inocência, da descrença do pós-guerra, de todos os exageros, quem
diria, acabou sendo a ambientação perfeita para Ron Howard aprender a se
controlar.
Rush,
Ron Howard, 2013 ½
1 comment:
obra prima. e esqueceu de citar Anjos e demonios nos tropeço. o pior filme dele
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