Monday, June 09, 2014

Pompeia

Por se tratarem de revisões de grandes acontecimentos em forma de cinema de ação e por reviverem o épico bíblico, gênero que há muito havia caído em desuso, as comparações entre Pompeia e Noé são inevitáveis. A grande surpresa, no entanto, é constatar que o filme de Paul W.S. Anderson, que é mais barato, descompromissado e com atores vindos da TV, é muito melhor do que a multimilionária produção conduzida por Darren Aronofsky.
                                                              
Talvez a resposta esteja na pegada que cada cineasta escolheu para sua empreitada: enquanto Aronofsky tenta abraçar o mundo com as pernas, transformando a jornada de Noé em uma espécie de O Senhor dos Anéis bíblico (a megalomania não é o forte do cineasta, acostumado com produções independentes e grande atenção aos personagens), Anderson (diretor bastante criticado por público e imprensa, algumas vezes injustamente) se fixa em sua zona de conforto, fazendo exatamente o que sabe: um passatempo barulhento, rasteiro, mas que cumpre o que promete.

Sim, porque o compromisso de Anderson não é com o gênero que ele abraça, mas com a tarefa de transformá-lo e entregar para o público sua visão do estilo, no caso uma mescla de filme-catástrofe e aventuras sandálias-e-espada. A trama é rasa: um romance proibido entre Cassia (Emily Browning) de família rica e o escravo Milo (Kit Harington), um gladiador em busca de vingança, enquanto Severus (Jared Hess), pai de Cassia, tenta convencer o general romano Corvus (Kiefer Sutherland, se divertindo pra valer ao encarnar o vilão) a investir nas arenas de Pompeia.

Você já viu esse filme algumas vezes, se não muitas. O que vale em Pompeia é o talento de Paul W.S. Anderson enquanto esteta. O cineasta revive sua mais marcante característica, a de elaborar suas tramas, e em especial o clímax de seus trabalhos, em espaços que atuam como delimitadores das possibilidades dos personagens. Foi assim com o cenário do embate entre Liu Kang e Shang Tsung em Mortal Kombat, o elevador em Resident Evil – O Hóspede Maldito e a nave em O Enigma do Horizonte, e é assim novamente com as ruas apertadas de Pompeia na cena do desastre, encenado com uma percepção acerca da profundidade de campo que transforma Anderson em um dos cineastas mais adequados para a exploração do 3D.

O diretor também demonstra esperteza na escalação do elenco. Desde Carrie-Anne Moss e Kiefer Sutherland, passando por Adewale Akinnuoje-Agbaje (que vive Atticus, o coadjuvante que recebe o melhor tratamento do roteiro) até chegar ao casal principal, todo o cast é composto por ex-astros e candidatos a galãs que têm tido muito mais espaço em seriados (Game of Thrones, Lost, 24 Horas) do que nos cinemas, o que até combina com os figurinos chamativos elaborados por Wendy Partridge e a fotografia de Glen MacPherson, que dá ao longa um aspecto quase televisivo. A quase troça de gênero de Anderson, quem diria, se transformou em um inteligente estudo de mídias.

Pompeii, Paul W.S Anderson, 2014 ½

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