Por se tratarem de revisões de
grandes acontecimentos em forma de cinema de ação e por reviverem o épico
bíblico, gênero que há muito havia caído em desuso, as comparações entre Pompeia e Noé são inevitáveis. A grande surpresa, no entanto, é constatar que
o filme de Paul W.S. Anderson, que é mais barato, descompromissado e com atores
vindos da TV, é muito melhor do que a multimilionária produção conduzida por
Darren Aronofsky.
Talvez a resposta esteja na pegada
que cada cineasta escolheu para sua empreitada: enquanto Aronofsky tenta
abraçar o mundo com as pernas, transformando a jornada de Noé em uma espécie de
O Senhor dos Anéis bíblico (a megalomania
não é o forte do cineasta, acostumado com produções independentes e grande atenção
aos personagens), Anderson (diretor bastante criticado por público e imprensa, algumas vezes injustamente) se fixa em sua zona de conforto, fazendo exatamente
o que sabe: um passatempo barulhento, rasteiro, mas que cumpre o que promete.
Sim, porque o compromisso de
Anderson não é com o gênero que ele abraça, mas com a tarefa de transformá-lo e
entregar para o público sua visão do estilo, no caso uma mescla de
filme-catástrofe e aventuras sandálias-e-espada. A trama é rasa: um romance
proibido entre Cassia (Emily Browning) de família rica e o escravo Milo (Kit
Harington), um gladiador em busca de vingança, enquanto Severus (Jared Hess),
pai de Cassia, tenta convencer o general romano Corvus (Kiefer Sutherland, se
divertindo pra valer ao encarnar o vilão) a investir nas arenas de Pompeia.
Você já viu esse filme algumas
vezes, se não muitas. O que vale em Pompeia
é o talento de Paul W.S. Anderson enquanto esteta. O cineasta revive sua mais
marcante característica, a de elaborar suas tramas, e em especial o clímax de
seus trabalhos, em espaços que atuam como delimitadores das possibilidades dos
personagens. Foi assim com o cenário do embate entre Liu Kang e Shang Tsung em Mortal Kombat, o elevador em Resident Evil – O Hóspede Maldito e a
nave em O Enigma do Horizonte, e é
assim novamente com as ruas apertadas de Pompeia na cena do desastre, encenado
com uma percepção acerca da profundidade de campo que transforma Anderson em um
dos cineastas mais adequados para a exploração do 3D.
O diretor também demonstra esperteza na
escalação do elenco. Desde Carrie-Anne Moss e Kiefer Sutherland, passando por
Adewale Akinnuoje-Agbaje (que vive Atticus, o coadjuvante que recebe o melhor
tratamento do roteiro) até chegar ao casal principal, todo o cast é composto
por ex-astros e candidatos a galãs que têm tido muito mais espaço em seriados (Game of Thrones, Lost, 24 Horas) do que
nos cinemas, o que até combina com os figurinos chamativos elaborados por Wendy
Partridge e a fotografia de Glen MacPherson, que dá ao longa um aspecto quase
televisivo. A quase troça de gênero de Anderson, quem diria, se transformou em
um inteligente estudo de mídias.
Pompeii, Paul W.S Anderson, 2014
½

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