Saturday, June 28, 2014

Vizinhos

Não há pluralidade de temas no cinema de Seth Rogen, Evan Goldberg e Cia. Melhor: não há novidade na turma que, há dez anos, leva para o cinema comédias sobre a amizade e sobre adultos que não gostaram de crescer. No entanto, apesar de baterem sempre na mesma tecla (e da narrativa cheia de citações a ícones pop e autoparódias já não ser nada inesperada), os filmes da trupe continuam funcionando que é uma beleza, em parte porque esses temas dizem muito aos jovens adultos para os quais as comédias são direcionadas.

Mas não é só isso: sabendo já terem sido absorvidos pelo sistema, a trupe agora parece fazer tais filmes não como análise de uma geração que se nega a sucumbir para uma nova, mas lançar mão de tal temática para mostrar para deixarem claro que eles não estão nem aí para aqueles que criticam a pouca criatividade. A filmografia dos amigos (que levam a brodagem de trás para frente das câmeras) é focado agora em um recado para a indústria, como os seus últimos trabalhos explicitavam.

E Vizinhos não foge à regra desse novo momento do cinema dos parceiros de Judd Apatow, mas, diferente de É o Fim (que é ótimo, mas que praticamente esgota a autoparódia de possíveis futuros projetos), resolve se desenrolar de forma convencional, se afastando um pouco da metalinguagem explícita. Na trama, Seth Rogen e Rose Byrne fazem o casal Mac e Kelly Radner que, vivendo em paz e criando a filha bebê em uma calma vizinhança, veem suas vidas serem transformadas em um inferno com a ocupação da casa vizinha por uma fraternidade universitária, liderada por Teddy e Pete (Zac Efron e Dave Franco, que ocupa o lugar do irmão, James).

O casal tenta argumentar com os jovens sobre o excesso de barulho nas festas regadas a álcool e drogas que os jovens organizam durante a semana, mas como nada se resolve na base da conversa, tem início uma guerra entre os Radners e a fraternidade, e nesse momento o longa passa de uma espécie de sequência de Ligeiramente Grávidos (o diretor Nicholas Stoller abandona a radicalidade metalinguística, mas não esquece a referência) ao abraço sem pudor do clássico subgênero da guerra entre vizinhos para construir sua narrativa.

A premissa do vizinho incômodo, portanto, acaba sendo linha cômica (em piadas que vão das batidas gags envolvendo Rogen chapado, passando pela tiração de sarro com a imagem de Zac Efron, a cenas envolvendo leite empedrado e sexo na presença de bebês) e também o fiapo de história sobre o qual o longa desenvolve pontos que são marcas dos realizadores, mas que aqui aparecem um pouco diluídos. O bromance, por exemplo, aparece com força apenas no terceiro ato entre Teddy e Pete, e a questão do adulto que demora a amadurecer de vez não funciona tanto quanto em outros longas, como o já citado Ligeiramente Grávidos, talvez porque tudo pareça menos real em Vizinhos: a fraternidade com suas letras gregas e o casal tentando ser cool enquanto se vira pra criar a filha pequena parecem muito mais representações de estereótipos do que personagens críveis, e por isso a grande sacada do texto de Andrew J. Cohen e Brendan O’Brien, que é fazer graça com a contraposição de jovens (que mal sabem a diferença entre De Niro e Pacino) e adultos (que tentam conhecer Glee para se sentirem mais descolados) pode passar despercebida: se para John Landis e John Hughes, nos anos 80, a maioridade era um fardo, para Cohen e O’Brien é uma maldição.

Nesse ponto, É o Fim, que marcou a estreia de Goldberg e Rogen na direção de longas-metragens, acaba sendo mais bem resolvido, justamente por se assumir como piada interna, desde a trama, que envolve o fim do mundo e um Paraíso que tem Backstreet Boys como trilha sonora. Ao voltar a uma fase anterior dos comediantes, o filme de Stoller acaba se esquecendo, aqui e ali, de substituir o conceito da representação da realidade por verossimilhança propriamente dita.

E aí, ao gerar comparações (que o longa não evita, já que cria momentos que fazem as vezes da auto citação, como a cena que mostra dois personagens trocando palavras deitados em uma cama, remetendo diretamente ao fim de Superbad) Vizinhos acaba parecendo menor do que a bela comédia que na verdade é.

Neighbors, Nicholas Stoller, 2014 

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