Não
há pluralidade de temas no cinema de Seth Rogen, Evan Goldberg e Cia. Melhor:
não há novidade na turma que, há dez anos, leva para o cinema comédias sobre a amizade
e sobre adultos que não gostaram de crescer. No entanto, apesar de baterem
sempre na mesma tecla (e da narrativa cheia de citações a ícones pop e
autoparódias já não ser nada inesperada), os filmes da trupe continuam
funcionando que é uma beleza, em parte porque esses temas dizem muito aos
jovens adultos para os quais as comédias são direcionadas.
Mas
não é só isso: sabendo já terem sido absorvidos pelo sistema, a trupe agora
parece fazer tais filmes não como análise de uma geração que se nega a sucumbir
para uma nova, mas lançar mão de tal temática para mostrar para deixarem claro
que eles não estão nem aí para aqueles que criticam a pouca criatividade. A
filmografia dos amigos (que levam a brodagem de trás para frente das câmeras) é
focado agora em um recado para a indústria, como os seus últimos trabalhos explicitavam.
E
Vizinhos não foge à regra desse novo momento do cinema dos parceiros de Judd
Apatow, mas, diferente de É o Fim (que é ótimo, mas que praticamente esgota a
autoparódia de possíveis futuros projetos), resolve se desenrolar de forma
convencional, se afastando um pouco da metalinguagem explícita. Na trama, Seth Rogen
e Rose Byrne fazem o casal Mac e Kelly Radner que, vivendo em paz e criando a
filha bebê em uma calma vizinhança, veem suas vidas serem transformadas em um
inferno com a ocupação da casa vizinha por uma fraternidade universitária,
liderada por Teddy e Pete (Zac Efron e Dave Franco, que ocupa o lugar do irmão,
James).
O
casal tenta argumentar com os jovens sobre o excesso de barulho nas festas regadas
a álcool e drogas que os jovens organizam durante a semana, mas como nada se
resolve na base da conversa, tem início uma guerra entre os Radners e a
fraternidade, e nesse momento o longa passa de uma espécie de sequência de Ligeiramente
Grávidos (o diretor Nicholas Stoller abandona a radicalidade metalinguística,
mas não esquece a referência) ao abraço sem pudor do clássico subgênero da
guerra entre vizinhos para construir sua narrativa.
A
premissa do vizinho incômodo, portanto, acaba sendo linha cômica (em piadas que
vão das batidas gags envolvendo Rogen chapado, passando pela tiração de sarro
com a imagem de Zac Efron, a cenas envolvendo leite empedrado e sexo na
presença de bebês) e também o fiapo de história sobre o qual o longa desenvolve
pontos que são marcas dos realizadores, mas que aqui aparecem um pouco diluídos.
O bromance, por exemplo, aparece com força apenas no terceiro ato entre Teddy e
Pete, e a questão do adulto que demora a amadurecer de vez não funciona tanto
quanto em outros longas, como o já citado Ligeiramente Grávidos, talvez porque
tudo pareça menos real em Vizinhos: a fraternidade com suas letras gregas e o
casal tentando ser cool enquanto se vira pra criar a filha pequena parecem
muito mais representações de estereótipos do que personagens críveis, e por
isso a grande sacada do texto de Andrew J. Cohen e Brendan O’Brien, que é fazer
graça com a contraposição de jovens (que mal sabem a diferença entre De Niro e
Pacino) e adultos (que tentam conhecer Glee para se sentirem mais descolados)
pode passar despercebida: se para John Landis e John Hughes, nos anos 80, a
maioridade era um fardo, para Cohen e O’Brien é uma maldição.
Nesse
ponto, É o Fim, que marcou a estreia de Goldberg e Rogen na direção de
longas-metragens, acaba sendo mais bem resolvido, justamente por se assumir
como piada interna, desde a trama, que envolve o fim do mundo e um Paraíso que
tem Backstreet Boys como trilha sonora. Ao voltar a uma fase anterior dos
comediantes, o filme de Stoller acaba se esquecendo, aqui e ali, de substituir
o conceito da representação da realidade por verossimilhança propriamente dita.
E
aí, ao gerar comparações (que o longa não evita, já que cria momentos que fazem
as vezes da auto citação, como a cena que mostra dois personagens trocando
palavras deitados em uma cama, remetendo diretamente ao fim de Superbad) Vizinhos
acaba parecendo menor do que a bela comédia que na verdade é.
Neighbors,
Nicholas Stoller, 2014 

No comments:
Post a Comment