“Se
queremos que tudo fique como está, é necessário que tudo mude.” (Giuseppe
Tomasi di Lampedusa)
A
despeito de suas pouquíssimas qualidades narrativas e estéticas, a série Transformers é um compêndio das
características de Michael Bay enquanto autor: Uma barulhenta sinfonia de
explosões e sons de metralhadoras disparadas em profusão, sem preocupações
fúteis como o desenvolvimento da trama ou as motivações dos personagens. Longas
que são caldeirões de referências, mas que as desonram ao soarem gratuitas e
mal utilizadas em longas-metragens que não as entendem.
E
se você nunca compreendeu o porquê de não existirem transformers fêmeas na
eterna guerra entre Autobots e Decepticons, essa é um traço que apenas
corrobora para a coerência na filmografia (principalmente os trabalhos mais
recentes) do cineasta. Um cinema de testosterona, com graves manchas racistas
(todos os asiáticos sabem artes marciais, todos os negros falam como os rappers
de Compton, etc.) e misóginas (as mocinhas dos filmes do cineasta possuem
apenas bunda e boca, pois são as únicas partes mostradas pela câmera) que insistem
em darem as caras em todos os exemplares da franquia.
Por
esses motivos, Transformers: A Era da
Extinção, quarta incursão do diretor no universo dos carros-robôs e que
deveria ser uma espécie de recomeço para a história, soa tão familiar. É verdade
que todo o elenco foi mudado, e que a trama recebe uma mão de tinta para
parecer nova, mas ao repetir os mesmos erros e exageros dos seus irmãos mais
velhos, o longa acaba se tornando o velho mais do mesmo. É o cineasta
comprometido com sua marca, e honrando, em sua coerência estilística, a frase
de Lampedusa lá do início do texto.
Novamente
escrito por Ehren Kruger, Transformers 4
é ambientado pouco depois da batalha final do longa anterior, que destruiu
metade de Chicago e proporcionou a Bay, mestre da reciclagem de sequências,
cenas suficientes para serem reaproveitadas no futuro. Agora caçados pelo
governo dos EUA, antes um de seus maiores aliados, os Autobots, sentindo falta
do líder Optimus Prime (a melhor coisa da franquia são os nomes das máquinas) precisam
se proteger da perseguição, ao mesmo tempo em que veem sua tecnologia sendo
estudada, dominada e aperfeiçoada pelos norte-americanos, em especial pela
equipe do cientista Joshua Joyce (Stanley Tucci).
Prime,
bastante ferido e agora um fugitivo político, acaba sendo encontrado por Cade Yeager
(Mark Whalberg), inventor/mecânico/fazendeiro/pai/manuseador de armas
alienígenas que mora com a filha Jessa (Nicola Peltz) e que esconde o líder dos
autômatos bonzinhos no celeiro/laboratório. Quando os militares (encabeçados
por Harold Attinger, vivido por Kelsey Grammer) ficam sabendo do paradeiro de
Prime, começam uma caçada ferrenha, que acaba envolvendo Cade, Jessa e Shane
(Jack Reynor), namorado da adolescente.
No
meio disso tudo, claro, o espectador acompanha o fortalecimento de Megatron,
que volta a unir forças para enfrentar Prime, Bumblebee & Cia, mas quem se
importa? A partir dessa premissa (ou a partir de qualquer premissa que pudesse
ser abordada), A Era da Extinção, em
seus inchadíssimos 166 minutos, se configura mesmo como mais um filme belicoso
e sexista de Michael Bay sobre guerreiros de metal pesado se chocando uns
contra os outros no fim da tarde (90% da narrativa acontece durante o
pôr-do-sol) e sobre a brodagem, sobre como os homens acabam se dando muito
melhor quando não estão sob a influência da presença feminina.
O
machismo, aliás, é um dos únicos sentimentos expressados pela parcela humana da
aventura, unidimensional e rasa na estereotipagem (o pai viúvo, a adolescente
fogosa, o namorado abusado, o militar malvado, o capanga). O elenco, que já não
seria grande coisa se bem dirigido e com um bom roteiro nas mãos, nada pode
fazer com personagens cuja moral dúbia confunde-se involuntariamente com a das
mentes por trás do longa-metragem (comenta-se em certo momento que Jessa é uma
“adolescente gostosa”, como se esse tipo de comentário fosse a coisa mais
normal do mundo) e que atingem o cúmulo da inutilidade: Shane, um dos
protagonistas, é um piloto... em um filme de carros que se pilotam sozinhos.
Mas,
novamente, quem se importa? O que vale em Transformers
4 (e no 1, no 2 e no 3) são os robôs, e nesse âmbito, pode-se dizer que o longa possui
méritos na concepção visual dos gigantes de aço, que leva em conta o público
infanto-juvenil (principal alvo da série),
incluindo como novidades um helicóptero que vira um robô samurai
(dublado por Ken Watanabe, um dos maiores destaques da produção, apesar de
pouco aparecer) e guerreiros robôs gigantes que se transformam em dinossauros
robôs gigantes que cospem fogo. Sim, dinossauros robôs gigantes que cospem
fogo. Infelizmente, nem mesmo através desse exagero, absurdo até para os
padrões da franquia, o longa consegue funcionar.
O
cinema 100% clímax de Michael Bay, que nunca foi adepto da preparação de
terreno e do desenvolvimento do suspense, sabota a primeira aparição dos dinobots, repentina e sem que pistas
sobre a existência de tais criaturas tivessem sido deixadas pela narrativa,
sabota também os ótimos efeitos especiais e o bom 3D, em cenas de batalha que
novamente soam gratuitas e indecifráveis (o espectador não consegue distinguir
quem bate e quem apanha na massa prateada que se embola em cena na hora do
quebra-pau), e tão barulhentas que quase causam dor de cabeça. Se os paralelos entre
A Era da Extinção e Círculo de Fogo (ópera-nerd de
Guillermo Del Toro, o melhor blockbuster de 2013) fosse além da semelhança
entre o sobrenome do protagonista de um (Yeager) e o nome dos titãs metálicos
do outro (Jaegers), a inevitável existência de Transformers 5 poderia soar menos ofensiva.
Se
Del Toro provou que o maravilhamento não tem idade, Michael Bay não se cansa de
mostrar que a náusea também não.
Transformers: Age of Extinction, Michael Bay, 2014 

1 comment:
bom, a culpa é sua por ter ido ver
e tranformenes é melhor que circulo de fogo hahahaha
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