É
difícil mensurar o talento do cineasta James Gray nesses tempos em que muitos
diretores são elogiados (e por vezes endeusados) mais por suas invencionices
visuais do que por seu talento como contadores de histórias. O cinema de Gray
remonta ao passado, ora à Nova Hollywood, ora a John Ford e Don Siegel, em
filmes que, por suas semelhanças temáticas, vão a cada lançamento formando um
mosaico da composição multicultural dos Estados Unidos ao mesmo tempo em que
estudam (e por vezes justificam) as motivações de seus personagens para
cometerem atos frequentemente condenáveis.
Pois
na obra deste americano, um dos melhores surgidos nas últimas décadas, ninguém é
totalmente bom ou mau (basta nos lembrarmos de Caminho Sem Volta e Os Donos
da Noite, que possuíam homens que eram criminosos e pais de família com a
mesma intensidade). E Era Uma Vez em
Nova York, sua obra-prima, não fica atrás. Em duas horas, o diretor descontrói
a imagem da América como “terra das oportunidades” enquanto se deita novamente
sobre os temas mais caros à sua filmografia.
A
trama, escrita por Gray e Ric Menello, acompanha a saga da polonesa Ewa (Marion
Cotillard, na melhor atuação de sua carreira), que chega fugida aos ao lado da Magda,
sua irmã tuberculosa. Com Magda posta em quarentena, sem perspectivas e em um
país que desconhece, a jovem acaba nas mãos de Bruno Weiss (Joaquin Phoenix, em
sua quarta colaboração com o diretor), este um imigrante já estabelecido, que
se encanta, oferece ajuda, mas que a leva para trabalhar em um bordel. E a
vida, que já estava difícil, não melhora quando a protagonista se encanta pelo
ilusionista Orlando (Jeremy Renner), antigo desafeto de Bruno.
O
triângulo que se forma move os indivíduos envolvidos, e é também microcosmo dos
EUA. Ewa enxerga em Bruno o terror das promessas não cumpridas e em Orlando a
magia que sua nova vida tanto necessita. Ela está presa à realidade dura,
enquanto vê o sonho (personificado pela imagem nem um pouco sutil da ocupação
de Orlando) se distanciar, ir embora, mas voltar constantemente para visitá-la.
A metáfora, presente no título original da obra (The Immigrant, que pode ser traduzido tanto no masculino como no
feminino, sendo esse filme a saga da protagonista, mas também da chegada dos
imigrantes aos Estados Unidos), acaba se perdendo na tradução, mas a mensagem
durante a projeção é evidente.
É
importante notar também a importância que a ambientação tem para a eficácia da
alegoria. Por ser um filme de época (reconstituição grandiosa, que causa maravilhamento,
e casa com o tom operístico da narrativa), Era
Uma Vez em Nova York adquire uma aura ainda mais angustiante. Em oposição
aos outros quatro trabalhos do cineasta, nos quais os dramas se davam no seio
familiar, a narrativa de um passado mais distante deixa os personagens sem
ninguém. Retirar deles a família aumenta o desamparo e torna suas atitudes,
algumas hediondas, em frutos das circunstâncias.
Bruno,
Ewa e Orlando são capazes de se apaixonar, mas solitários e em um país que os
rejeita, desaprenderam a expressarem carinho. Quando têm a chance, o fazem da
pior maneira, amam como quem não foi amado. É devido a esse modo de sentir que
a declaração de amor definitiva, deste que é o melhor filme do ano, seja feita
em meio à dor e ao sangue, e imediatamente seguida pela janela embaçada da
despedida.
The Immigrant,
James Gray, 2014
1 comment:
otimo filme, mas nao e isso tudo, mas de fato o diretor conduz bem sua historia e imprimi em seu filme um clima sempre pesado sem com isso exagerar. mas os destaques mesmo sao as atuaçoes impecaveis de Marion Cotillard e Joaquin Phoenix
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