Monday, September 29, 2014

O Protetor

Filmes que marcam reuniões sempre são cercados de expectativa, e o caso de O Protetor, que marca o retorno da parceria entre o Antoine Fuqua e Denzel Washington, não é diferente. No entanto, quem esperava um policial duro e realista, na linha do trabalho anterior da dupla (Dia de Treinamento, que rendeu inclusive o Oscar ao ator), vai se decepcionar, pois se antes a missão de Fuqua era extrair de Washington uma atuação memorável, dessa vez a busca é por mitificá-lo.

A trama, escrita por Richard Wenk e baseada em uma série de TV dos anos 80, acompanha Bob (Washington), que trabalha carregando caixas em uma megaloja e carrega mágoas de um passado nebuloso. Sofrendo de insônia, ele passa as madrugadas lendo em um restaurante 24 horas, onde se torna amigo da prostituta Teri (Chloë Grace Moretz). Quando descobre que a garota foi espancada, Bob resolve lutar pela liberdade da jovem, entrando em rota de colisão com a máfia russa, em especial com um tal de Pushkin, que ao ver seus negócios ameaçados envia aos EUA seu capataz, conhecido como Teddy, investigador inteligente e assassino cruel que é a cara de Kevin Spacey.

A sinopse se assemelha a um caminhão de longas-metragens rodados nos anos 80 e que foram responsáveis por garantirem a presença de Stallone, Schwarzenegger, Steven Seagal, Chuck Norris e Van Damme no Olimpo dos maiores chutadores de bundas do Cinema (e que são celebrados em Os Mercenários, cujo segundo filme foi escrito por Wenk). Essa também é a intenção de Fuqua, que não se priva de mostrar Denzel andando em câmera lenta na chuva, se livrando de inimigos das maneiras mais criativas (utilizando o que tiver ao alcance, de um saca-rolhas a furadeiras e arames farpados) ou se afastando calmamente de uma explosão gigantesca (que deveria lançá-lo longe) sem olhar para trás. Não que a ideia de celebrar a importância do astro, que é um dos maiores atores de sua geração, seja ruim. Não é. O que atrapalha aqui é a falta de cuidado com as relações entre os personagens.

É no mínimo esquisito assistir a um filme que possui 130 minutos e não consegue estabelecer seus habitantes de forma eficiente. A amizade entre Bob e Teri (e me parece um desperdício pagar os honorários de Moretz, que não devem ser baratos, para uma personagem que apareça tão pouco em cena) é insossa, mal desenvolvida (principalmente considerando o fato de que os personagens já parecem próximos quando contracenam pela primeira vez), e que subaproveita o velho clichê da “família substituta”. Em momento algum se acredita de verdade na motivação do protagonista. Salvar a garota de programa parece mais uma desculpa para dar porrada em todo mundo e voltar à velha forma do que uma justificativa plausível, ou sincera.

Mas ainda assim a obra surge como um passatempo minimamente decente, graças à atuação magnética de Denzel Washington, e ao talento de Fuqua para filmar tiroteios e quebra-pau. É um longa estiloso, bonito mesmo, e que ao apostar em bem orquestradas cenas de ação (estacionadas em algum lugar entre Busca Implacável, de Pierre Morel, e o Sherlock Holmes de Guy Ritchie) quase nos faz esquecer o fato de que estão inseridas em um filme raso como um pires.

Na ausência de um roteiro que recheasse mais os personagens (Dia de Treinamento possuía texto de David Ayer, que uma década depois refinou a estética na obra-prima Marcados Para Morrer), O Protetor ficou vazio, apesar de, sim, bem empolgante. E muito mais próximo de Jack Reacher do que de algo digno de nota.

The Equalizer, Antoine Fuqua, 2014 regular

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