Filmes
que marcam reuniões sempre são cercados de expectativa, e o caso de O Protetor, que marca o retorno da
parceria entre o Antoine Fuqua e Denzel Washington, não é diferente. No
entanto, quem esperava um policial duro e realista, na linha do trabalho
anterior da dupla (Dia de Treinamento,
que rendeu inclusive o Oscar ao ator), vai se decepcionar, pois se antes a
missão de Fuqua era extrair de Washington uma atuação memorável, dessa vez a
busca é por mitificá-lo.
A
trama, escrita por Richard Wenk e baseada em uma série de TV dos anos 80,
acompanha Bob (Washington), que trabalha carregando caixas em uma megaloja e
carrega mágoas de um passado nebuloso. Sofrendo de insônia, ele passa as
madrugadas lendo em um restaurante 24 horas, onde se torna amigo da prostituta
Teri (Chloë Grace Moretz). Quando descobre que a garota foi espancada, Bob
resolve lutar pela liberdade da jovem, entrando em rota de colisão com a máfia
russa, em especial com um tal de Pushkin, que ao ver seus negócios ameaçados
envia aos EUA seu capataz, conhecido como Teddy, investigador inteligente e
assassino cruel que é a cara de Kevin Spacey.
A
sinopse se assemelha a um caminhão de longas-metragens rodados nos anos 80 e
que foram responsáveis por garantirem a presença de Stallone, Schwarzenegger,
Steven Seagal, Chuck Norris e Van Damme no Olimpo dos maiores chutadores de
bundas do Cinema (e que são celebrados em Os
Mercenários, cujo segundo filme foi escrito por Wenk). Essa também é a
intenção de Fuqua, que não se priva de mostrar Denzel andando em câmera lenta
na chuva, se livrando de inimigos das maneiras mais criativas (utilizando o que
tiver ao alcance, de um saca-rolhas a furadeiras e arames farpados) ou se
afastando calmamente de uma explosão gigantesca (que deveria lançá-lo longe)
sem olhar para trás. Não que a ideia de celebrar a importância do astro, que é
um dos maiores atores de sua geração, seja ruim. Não é. O que atrapalha aqui é
a falta de cuidado com as relações entre os personagens.
É
no mínimo esquisito assistir a um filme que possui 130 minutos e não consegue
estabelecer seus habitantes de forma eficiente. A amizade entre Bob e Teri (e
me parece um desperdício pagar os honorários de Moretz, que não devem ser
baratos, para uma personagem que apareça tão pouco em cena) é insossa, mal
desenvolvida (principalmente considerando o fato de que os personagens já
parecem próximos quando contracenam pela primeira vez), e que subaproveita o
velho clichê da “família substituta”. Em momento algum se acredita de verdade
na motivação do protagonista. Salvar a garota de programa parece mais uma
desculpa para dar porrada em todo mundo e voltar à velha forma do que uma
justificativa plausível, ou sincera.
Mas
ainda assim a obra surge como um passatempo minimamente decente, graças à
atuação magnética de Denzel Washington, e ao talento de Fuqua para filmar
tiroteios e quebra-pau. É um longa estiloso, bonito mesmo, e que ao apostar em
bem orquestradas cenas de ação (estacionadas em algum lugar entre Busca Implacável, de Pierre Morel, e o Sherlock Holmes de Guy Ritchie) quase nos
faz esquecer o fato de que estão inseridas em um filme raso como um pires.
Na
ausência de um roteiro que recheasse mais os personagens (Dia de Treinamento possuía texto de David Ayer, que uma década
depois refinou a estética na obra-prima Marcados
Para Morrer), O Protetor ficou
vazio, apesar de, sim, bem empolgante. E muito mais próximo de Jack Reacher do que de algo digno de
nota.
The Equalizer,
Antoine Fuqua, 2014
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