Monday, November 17, 2014

Debi & Lóide 2

A cada filme dirigido por Peter & Bobby Farrelly, fica claro que os irmãos são os realizadores que melhor entendem a camaradagem masculina no cinema. E a diferença deles para outros diretores que também abraçam o bromance em seus filmes, como Todd Philips e Greg Motola, por exemplo, é que, ao contrário de (bons) filmes como Se Beber, Não Case! ou Superbad, os filmes da dupla parecem existir em um universo próprio, onde o realismo dá lugar a um potencial para a exploração do patético que é irresistível.

E entre todos os personagens já mostrados nos filmes da dupla, Harry e Lloyd são sem dúvidas os mais icônicos. E Debi & Lóide – Dois Idiotas em Apuros é a melhor comédia dos anos 90 e um dos melhores filmes de estreia da História porque gerou, entendeu e tratou os seus protagonistas com carinho, dando espaço para que eles pudessem arrasar com tudo e todos pelo caminho. Jeff Daniels e Jim Carrey interpretam dois imbecis, inconvenientes, sem a menor noção de como se comportarem na companhia de outras pessoas, mas na fantasia cômica da vida real dos Farrelly, existe charme no retardo.

Esse sentimento de louvação do grotesco, que foi muleta romântica em filmes posteriores dos diretores, como Quem Vai Ficar com Mary?, O Amor é Cego e Ligado em Você, não passa de comicidade em Debi & Lóide e em sua continuação que, novamente utilizando a estética de Os Três Patetas, subverte clichês na base do humor alguns tons acima do aceitável, fazendo miséria com personagens dignos de piedade de pessoas normais. O momento em que Harry e Lloyd gritam no ouvido do ceguinho Billy apenas para descobrirem se os deficientes visuais possuem audição aguçada é peça-chave nessa realidade distorcida justamente por acontecer no reencontro da dupla com a sociedade.

E é nesse clima que se desenrolam os acontecimentos de Debi & Lóide 2. 20 anos mais velhos, mas ainda sem entenderem convenções sociais ou a hora certa de fazer brincadeiras, Harry e Lloyd destroçam a vida de quem atravessa a tela em uma trama que, ao repetir na cara dura muitos detalhes do filme de 1994, coloca os protagonistas novamente atravessando os Estados Unidos, e deixando destruição por onde passam. Essa repetição de eventos, que a princípio dá a impressão de um texto preguiçoso, tem fundamento: enquanto road movie, Debi & Lóide possui uma natureza transitória que transforma Harry e Lloyd em espécies de vendedores (ou pior, profetas) de imbecilidade. São homens tão fascinantes que mantê-los em apenas um lugar é desperdício de potencial.

Os vinte anos que separam os acontecimentos dos dois longas, no entanto, fazem uma diferença naquele universo. Longe da juventude, Harry e Lloyd agora lidam com os resultados de uma vida de brincadeiras sem sentido. Existe caos no passado dos heróis, que não sabem o que causam. Se a dupla ainda não entende que não se deve tomar banho nos despejos de uma usina nuclear, a filha de um deles e o modo como o apartamento dos heróis parece o mesmo após duas décadas dita o novo ponto de vista: eles estão com 50 anos e ainda rindo dos outros, mas agora parecem ainda mais ridículos para o público.

Ridículos, mas, de alguma forma adoráveis, graças a Daniels e Carrey (especialmente o segundo, que disse ter se sentido motivado a participar da continuação após ter assistido ao filme de 94 em um quarto de hotel), que encarnam os personagens mais anárquicos de suas carreiras novamente e com a mesma intensidade. É impossível não se deliciar com o timing cômico dos atores e com o fato de os diretores entenderem que o mundo agora é de Harry e Lloyd. Debi & Lóide 2 possui uma direção de arte que aposta em cenários falsos e coloridos, em um recurso que novamente lembra Os Três Patetas (cuja versão cinematográfica, também dirigida por Peter e Bobby, é uma beleza), ao transformar a dupla de imbecis em deuses daquele universo. Para os Farrelly, Jeff Daniels e Jim Carrey, a Terra não é dos políticos, nem dos cientistas em suas convenções pela vida, mas dos idiotas. E nessa anarquia, azar de quem é sério.

Dumb and Dumber To, Peter Farrelly e Bobby Farrelly, 2014 

2 comments:

joão said...

não sei se vou ver. não sou fã do primeiro

e quem vai ficar com mary? é bem melhor

Piculo said...

Ri descontroladamente.