Monday, December 22, 2014

Miss Violence

Miss Violence, dirigido pelo grego Alexandros Avranas, é o caso de filme que tenta ser parte de uma tendência, na corrente de longas (geralmente de fora dos grandes polos) que partem da abordagem (seca, apostando em estratégias que envolvem ambientes e enquadramentos fechados e trilha sonora diegética) para serem tomados, através de sua dureza, por cinema-denúncia. A Romênia é o maior expoente (e não a inventora) desse cinema nos anos 2000, e nos últimos anos países que vivem relações socioeconômicas distantes do primeiro mundo começaram também a emular o apelidado Novo Cinema Romeno.

Assim como em outros filmes que se encaixem no estilo, a situação econômica do país, no caso a Grécia, estão sob a superfície, influenciando nocivamente o ambiente. A trama, escrita por Avranas em parceria com Kostas Peroulis, se inicia a partir da morte da jovem Angeliki, que se jogou da sacada de seu apartamento no dia em que comemorava seu 11º aniversário. A polícia (que fatalmente aciona o serviço social) inicia uma investigação acerca do aparente suicídio, mas por alguma razão a família da menina encara o caso como um acidente e reage estranhamente bem ao falecimento. Aos poucos o espectador é levado para dentro do convívio daquela casa e assiste aos constantes abusos físicos e psicológicos infligidos às crianças da família (os irmãos de Angeliki e a irmã de sua mãe) pelos avós.

Os primeiros minutos da obra são intrigantes. O suicídio de Angeliki (que salta da janela com um sorriso no rosto) e a sequencia do interrogatório levam o espectador a acreditar que Miss Violence é um filme sobre o luto. As cenas subsequentes, que começam a desmontar essa impressão, funcionam frustrando expectativas e direcionando a narrativa em direção a escancarar a situação, o que deveria ser louvável. O problema é que Avranas decide por uma abordagem perigosa, que busca ser denúncia sem ser agente, apenas assistindo aos atos terríveis praticados principalmente pelo patriarca vivido por Themis Panou tendo as filhas Myrto (Sissy Toumasi) e Eleni (Eleni Roussinou), a mãe de Angeliki, como principais vítimas.

E a passividade geralmente se confunde com fetiche em casos como esse (algo semelhante foi visto no mexicano Depois de Lúcia, exibido por aqui em 2013). Com tal postura voyeurística, o diretor (vencedor do Leão de Prata em Veneza 2013) não parece interessado em discutir os temas que a trama abraça, transformando o longa em um sádico e sensacionalista estudo de personagem, que acaba por vilanizar sem denunciar, numa filosofia que aparenta dizer “o mundo é assim, existem pessoas ruins e não há nada que possamos fazer”, como fica claro na sequência em que a pequenina Alkmini dança em frente ao amigo de seu avô.

É um típico filme que se inspira no cinema praticado por diretores como Cristian Mungiu, mas que erra o alvo, resultando no clássico “lobo em pele de cordeiro”: uma casca de boas intenções, mas uma realização maligna. Não creio que essa tenha sido a intenção de Avranas em seu segundo filme, mas Miss Violence, no excesso de vontade, acaba por confundir um conto moral com moralismo, e sua apatia no retrato (que pode ser facilmente tomada por desprezo pelo caso, ou, pior, pelas vítimas) transforma seu filme na verdade, em vez da representação dela.

Miss Violence, Alexandros Avranas, 2014 

1 comment:

Piculo said...

Eu concordo com muito do que você diz, mas o estranhamento que o filme me causou me fez gostar dele.