Para o bem e para o mal, a introdução e constituição do universo cinematográfico da DC Comics passa por Zack Snyder, David S. Goyer e o que eles criaram (supervisionados, e aparentemente instruídos, por Christopher Nolan) em O Homem de Aço. Lançado em 2013, a reinvenção do Superman no Cinema era um filme de origem tradicional, preocupado em estabelecer o herói e estudar o peso que o mito do Super-Homem tem sobre os ombros de Clark Kent (Henry Cavill), mas tinha seus grandes problemas nos excessos, de informações (o primeiro ato excessivamente longo em Krypton, os flashbacks explicativos) e de realização (a destruição inexplicavelmente sádica do combate com o vilão Zod, no qual os realizadores pareciam se divertir enquanto Metropolis, e seus habitantes por consequência, eram reduzidos a cinzas).
Existe
em Batman vs Superman: A Origem da
Justiça a intenção de fazer um mea culpa que redima a franquia dos erros do
primeiro filme da série, especialmente de seu terceiro ato, cínico ao ponto de
trazer um beijo do protagonista em Lois Lane (Amy Adams) em meio aos escombros
(e corpos, vale dizer, mesmo que estes não sejam mostrados). A trama se passa
18 meses depois, enquanto Metropolis ainda se recupera do trauma de sua
primeira destruição e o mundo aprende a viver com um deus em meio aos homens.
Os exageros de O Homem de Aço são
revisitados pela trama, em forma de escrutínio (a velha discussão sobre se a
humanidade precisa ou não do Superman), ao proporcionarem o surgimento da
vilania no bilionário insano Lex Luthor (Jesse Eisenberg), e ao tirarem o
Batman de Gotham City. Bruce Wayne (Ben Affleck) vai atrás de respostas,
acionando sua veia clássica de investigador para saber mais sobre o alienígena
capaz de reduzir o planeta a pó.
É
interessante como Batman vs Superman
costura através de Lex os dois protagonistas. Mesmo que a princípio soe forçada
a ideia de ter Luthor como uma espécie de catalisador que alimenta a rivalidade
entre os heróis, a maneira que o longa o faz é competente por soar orgânica
dentro dos acontecimentos, da reconstrução de Metropolis à construção do
pensamento de que o mundo precisa achar formas de se proteger contra o filho de
Krypton. Tal tensão vai atrair os dramas de Bruce (envelhecido, ainda mais
amargurado e brutal) e Clark (pressionado pela responsabilidade de cuidar de um
planeta que não sabe se o ama ou odeia) para o momento do encontro tão aguardado pelos fãs.
David
S. Goyer é novamente o responsável pelo roteiro, mas dessa vez recebe a companhia
de Chris Terrio, que faz bem ao texto dessa continuação ao, talvez por sua
experiência ao escrever o econômico e eficiente Argo, conseguir andar com a trama corrigindo problemas anteriores
de desenvolvimento. A questão, e calcanhar-de-Aquiles por aqui, é que Batman vs Superman é mais do que um
filme que promove o tão esperado combate entre os dois maiores heróis da DC: é
também o longa responsável por apresentar a intenção de se formar a Liga da
Justiça.
É
aí que a sombra de Christopher Nolan (e sua mania de ligar todos os personagens
e eventos, geralmente de forma torpe) se faz presente BvS. São rasas as conexões que a trama faz ao tentar apresentar
Ciborgue, Flash e Aquaman em uma aventura que não os tinha como essenciais
(talvez resida aí o valor da cena pós-créditos, apresentar sem interferir na
narrativa). E mesmo a adição da Mulher-Maravilha (Gal Gadot) e a tentativa de
fazê-la importante dentro dos eventos do longa (em cena desde o meio da
projeção e participando do combate final, após o inevitável momento em que
Batman e o Homem de Aço percebem que o inimigo é outro) é frágil a ponto de ser
descartável se não houvesse tanta pressa do estúdio em apresentar para o
público a primeira linha de frente do filme da Liga, que estreia em breve. Soa
como fan service mal ajambrado.
O
que funciona muito melhor como presente para os fãs e dentro da narrativa
cinematográfica são as homenagens explícitas a O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller, do uniforme do Morcego aos
monitores que expõem de forma econômica o midiatismo em torno da figura do
Super-Homem, e a referência ao Multiverso,
que tem sido extremamente importante nos quadrinhos da DC nos últimos tempos.
Vê-se nesse ponto a mão da editora, através principalmente de Geoff Johns, um
dos seus roteiristas mais celebrados, alçado à condição de produtor executivo.
Ainda
no campo das influências, a ação, apesar de pouco favorecida pela fotografia
escura de Larry Fong, funciona. Snyder é conhecido por ser um bom esteta de
cenas de ação, e consegue ser bem-sucedido novamente, ao compor as cenas de
combate de forma ordenada (com exceção da confusa sequencia de perseguição do
batmóvel, atrapalhada pela quantidade de cortes) e bem coreografada. A pancadaria lembra a
mecânica de luta dos games recentes da série Batman Arkham, enquanto alguns momentos de Superman (seus olhos
acesos, sua propensão a explosões de ódio) fazem menção a outro game lançado
há poucos anos, Injustice: Gods Among Us,
mostrando que o diretor conhece não só seus personagens, como também as mídias nas
quais eles aparecem.
E
BvS caminha assim, se equilibrando
meio sem jeito entre continuar desenvolvendo o Superman, corrigir os erros da
aventura anterior, reintroduzir o Batman (com cenas que, desnecessárias,
recontam a sua origem, e diálogos um tanto expositivos com o Alfred vivido por
Jeremy Irons) e finalmente iniciar a expansão do universo daqueles personagens
no cinema. Tudo isso dá ao longa uma sisudez desnecessária e, apesar de longo, um
ar de incompleto em seus 153 minutos. Falta tempo para tantos personagens, e
para que a ameaça do vilão Apocalipse seja realmente sentida. A batalha parece
reduzida a um monte de destruição apressada (à noite, claro, menos chamativa do
que a de O Homem de Aço, e quase
inofensiva enquanto os personagens se digladiam em meio a tanta poeira), e a
solução para a vitória parece fácil demais, plantada em cena desde o início do
terceiro ato.
Independente
dos erros (que são muitos), a verdade é que Warner e DC enfim dão aos fãs um
universo expandido nas telas, com personalidade própria e que pode
agradar. Emburrado como é, A Origem da
Justiça é problemático, mas aponta para um futuro que deixa claro que a
vida de Superman e Batman nos cinemas não acaba por aqui. A ausência de cena
pós-créditos não faz falta em um filme que bate insistentemente na tecla do que
veremos em breve. Só nos resta torcer para que os heróis recebam adaptações à
altura nos anos que vêm por aí.
Batman v Superman: Dawn of Justice, Zack Snyder, 2016 ½
2 comments:
Concordo em tudo.
Achei escuro em alguns momentos; achei que tinha muito personagem no filme e acabaram não desenvolvendo os personagens direito; nada a ver mostrar o Flash, Ciborgue e Aquaman(acho que se eles mostrassem só os símbolos, teria sido bem melhor. Não precisaga abrir as pastinhas); trataram o Apocalipse como um vilãozinho qualquer. uu
Dei 3 estrelinhas no filmow.
Post a Comment