Existem
vários detalhes que distinguem este Kong:
A Ilha da Caveira dos dois principais filmes que reapresentavam o mito de King
Kong para as novas gerações (revisitando o clássico filme dirigido por Merian
Caldwell Cooper e Ernest B. Schoedsack). Seu ritmo, a relação entre os
personagens, e o seu terceiro ato podem surgir como as diferenças mais óbvias
em relação aos dois longas mais antigos e este, mas mesmo oposições são
determinadas pela opção desta repaginada em percorrer um caminho distinto na
hora de expor as suas citações.
Porque
enquanto os dois King Kong (o problemático
filme dirigido por John Guillermin em 1976 e o ótimo trabalho de Peter Jackson
em 2005) se apoiavam completamente na solenidade, olhando para a obra original de
1933 e reutilizando muitos de seus artifícios e momentos, o diretor Jordan Vogt-Roberts
constrói em Kong uma obra que sim,
demonstra certo respeito pelo clássico (por exemplo, na tribo de nativos que
veneram Kong e no encantamento que a personagem de Brie Larson exerce sobre o
monstro), mas que amplia o escopo de homenagens e se transforma em uma coleção
de referências.
Vogt-Roberts
não faz muito diferente de outros cineastas surgidos nos anos 2000, como J.J.
Abrams, Zack Snyder, Matt Reeves e Neil Blonkamp: abarca homenagens a gêneros e
obras completamente díspares em um filme só, sem demonstrar preocupações em
conectá-las com a história, ou mesmo entre si. O resultado é empolgante, porque
transforma A Ilha da Caveira em um filme
que se reinventa a todo tempo, em estética e narrativa, o que se torna um feito
ainda maior porque os roteiristas (Dan Gilroy, Max Borenstein e Derek Connolly)
escolheram tipos dos mais clichês como personagens: o mercenário com
conhecimento militar (Tom Hiddleston), a fotógrafa antibelicista (Brie Larson),
o coronel endurecido pelo Vietnã (Samuel L. Jackson), o pesquisador obcecado em comprovar a lenda (John Goodman), o louco (John C. Reilly).
A
própria trama já nasce dessa vontade de recomendar: vemos um grupo de militares
acompanhando pesquisadores em uma ilha pouco conhecida pelo Homem, em busca de
um monstro que, reza a lenda, é o rei do lugar. Além de demonstrar preocupações
em situar o longa na História das guerras encaradas pelos Estados Unidos (é o
fim da Guerra do Vietnã, a Guerra Fria corre a todo vapor, e a Ilha da Caveira
foi descoberta graças a fotografias tiradas por satélites – mesmo o aval do
governo norte-americano à expedição ao lugar é concedido para que os EUA
chegassem lá antes dos russos), Vogt-Roberts e seus roteiristas idealizam uma
obra que é basicamente uma reimaginação de Apocalypse
Now, trocando o general Kurtz de Marlon Brando por Kong.
A
partir da trama, estuda-se o cinema e a cultura pop de modo geral em duas horas
de um filme de ação que oferece poucos momentos de descanso. Das inspirações em
animes (a cena de abertura e o momento em que Tom Hiddleston veste uma máscara
de gás e rasga criaturas em meio a uma fumaça verde) à trilha sonora rock n’
roll, tudo parece ajeitado para que Kong:
A Ilha da Caveira não seja só um filme sobre o símio mais famoso do cinema,
mas sobre o próprio Cinema.
É
um filme de iconografias bem feito e que atinge resultados que impressionam por
diversos momentos, desde as aparições do monstro que, tal qual em Godzilla (Gareth Edwards, 2014), é
feito com grande respeito pela imagem, apesar de mais descontraído – Godzilla
só aparecia mesmo quando o filme de Edwards já passava da metade – e menos solene,
até o seu clímax inspirado em embates clássicos de filmes B japoneses. Pelo número
de referências lançadas, seu ritmo alucinante e sua desafetação no retrato de
um personagem clássico das telas, Kong:
A Ilha da Caveira faz uma revisão valer muito a pena. Um elogio e tanto, nessa
era de blockbusters sisudos, robustos e muitas vezes descartáveis.
Kong: Skull Island,
Jordan Vogt-Roberts, 2017
1 comment:
Esse filme é muito bom!!
E o Kong é fofinho!
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