Durante a adolescência, quando ainda
cursava o ensino médio, ter o nome escrito errado era uma das coisas que mais
me irritavam. Para mim, soava como ofensa ver que alguém, mesmo quem não me
conhecia direito, tinha escrito Victor em vez de Vitor. Hoje em dia eu ainda
tento avisar (“é Vitor sem c, por favor”), mas não me importa mais se alguém
soletra meu nome errado. Impossível não lembrar disso quando Peter Parker (Tom
Holland), ao ouvir de Tony Stark (Robert Downey Jr.) que não passa de “um
garoto de 14 anos”, não hesita em corrigi-lo. “Tenho 15”, ele diz.
Quando somos bem jovens, tudo soa muito
sério, muito grande, muito grave, talvez porque somos imaturos como sempre
fomos até então, mas nos sentimos adultos e responsáveis como nunca antes. Homem-Aranha: De Volta ao Lar evoca tão
bem essa confusão de ser adolescente que, mesmo sendo mais um blockbuster nos
cinemas, acaba fazendo até mais sentido se posto ao lado de filmes recentes
sobre essa fase da vida, como DUFF (Ari
Sandel, 2015), Sing Street (John
Carney, 2016) e Quase 18 (Kelly
Fremon Crag, 2016). Por ser uma adaptação de quadrinhos, logicamente tem
algumas boas cenas de ação, além de ser colorido, leve e muito caro, mas não
será lembrado por isso. A médio e longo prazo, são os sentimentos que evoca que
farão dele uma memória doce.
De
Volta ao Lar tenta seguir um caminho diferente das
outras versões do Aranha para as telas. A trama tem início algum tempo após
Peter se tornar um vigilante. Este é o longa-metragem que marca a estreia do
herói como estrela de uma produção do Marvel Studios e por isso precisa, em vez
de ser um filme de origem, estabelecer seu lugar no universo cinematográfico da
Marvel. Mesmo que o personagem não precise dessa ambientação para funcionar, a
conexão é bem-feita, ao explorar a relação entre Parker e Stark (que, além de
ter desenvolvido o moderno uniforme do Homem-Aranha, age como seu mentor) e ao
dar ao vilão, o Abutre encarnado por Michael Keaton, motivações que o
transformem em figura com certo carisma.
Carismáticos também são os coadjuvantes
que cercam Peter, em especial seu melhor amigo Ned (Jason Batalon, que possui
ótimo timing cômico), e tia May (Marisa Tomei, cuja beleza rende boas piadas,
especialmente nos primeiros minutos da projeção). Os outros personagens também
funcionam, seja para adicionar leveza à história (o grupo de nerds que
acompanham Peter nas olimpíadas escolares, incluindo Liz Allen, interesse amoroso vivido
por Laura Harrier), ou para presentear os fãs/leitores mais atentos (como o
Aaron Davis de Donald Glover).
Ao abrir a narrativa quase in media res (quando
o público é primeiramente apresentado a uma trama já iniciada), seguindo
eventos de filmes anteriores da Marvel, Homem-Aranha
não economiza tempo e, presumindo que o seu público sabe o que levou aquele
universo até aquele ponto, se propõe a ser uma obra ágil e que não se perde em
explicações desnecessárias, preferindo se ater às relações entre Peter e as
pessoas que habitam sua vida. Por isso, Tom Holland convence tanto como um
garoto confuso em seu princípio de carreira como defensor de Nova York,
principalmente quando ela entra em conflito com sua vida pessoal. É comovente o
momento em que o herói deixa uma briga de lado para cuidar da destruição que
essa mesma briga causou.
As sequências de ação, aliás, são um ponto
interessante. Apesar de comandadas pelo diretor Jon Watts sempre com
criatividade, apostando em cenários e situações distintos, as cenas em que o
Aranha precisa enfrentar seus inimigos jamais impressionam. São inegavelmente
mais eficientes do que as dos dois filmes do personagem dirigidos por Marc
Webb, que eram apáticas e confusas em sua mise en scène, mas ficam bem atrás
dos longas comandados por Sam Raimi, em que a correria e os pontapés eram
centrais naquelas narrativas e influenciavam todo o desenrolar dos eventos
seguintes.
E é bem capaz que esteja aí a grande
diferença entre Homem-Aranha: De Volta
ao Lar e os primeiros filmes do personagem, até então a principal
representação do Cabeça-de-Teia nas telas. A ação que Watts dirige reflete bem
a idade do seu protagonista: é empolgante, ágil, grandiloquente, apesar de um
pouco desajeitada, mas (com exceção de um momento específico no terceiro ato) resulta
em pouco efeito de amadurecimento no herói, que vai acabar se metendo em um
problema ainda maior em seguida. Já a trilogia de Raimi, em especial Homem-Aranha 2, utilizava as missões de
Spidey, geralmente desafios de vida ou morte, quase como metáforas da vida
conturbada de Parker fora do traje.
Mas ser urgente não é bem uma preocupação por
aqui. Esta é uma adaptação que, apesar de remeter o tempo todo aos quadrinhos
(do visual colorido a referências mais claras, como detalhes do uniforme que
lembram os desenhos de Steve Ditko e John Romita), escolhe ser tão John Hughes
quanto Stan Lee. As menções nada veladas a obras como Curtindo a Vida Adoidado e Clube
dos Cinco não estão ali por acaso: se não fosse o uniforme high-tech e as
três décadas de diferença, o moleque interpretado por Holland (muito à vontade
ao carregar uma produção desse porte) poderia fazer parte de alguns dos filmes
de Hughes, como os jovens que ganharam os rostos de Molly Ringwald e Anthony
Michael Hall. Homem-Aranha: De Volta ao
Lar é moderno do lado de lá da tela e nostálgico do lado de cá. Para o
espectador, a combinação é irresistível.
Spider-Man:
Homecoming, Jon Watts, 2017 ½
1 comment:
achei um mais do mesmo
cenas de ação parecidas e trama boba
alem de um excesso de piadas muitas vezes sem graça.
Post a Comment