Lançado em 2014, Annabelle foi uma agradável surpresa. Um longa que, baseado em
acontecimentos de Invocação do Mal
(James Wan, 2013) conseguia apresentar resultados até positivos ao mesmo tempo
em que deixava claro suas origens enquanto prequel, pela ambientação de época e
momentos que guardavam mais do que algumas semelhanças com o material original.
Entretanto, apesar de um sucesso inegável de público, ancorado na fama da horrenda
boneca que nomeia a produção, o filme de John R. Leonetti jamais conseguia ser
memorável. Era inegavelmente elegante, em suas homenagens a O Bebê de Rosemary (Roman Polanski,
1968) mas inofensivo, confiando em sustos fáceis para entreter o espectador.
Em muitos pontos, Annabelle 2: A Criação do Mal, de David F. Sandberg, é parecido com
o longa anterior. Deixa poucas marcas no espectador, e dificilmente será
lembrado daqui a alguns anos, mas possui personalidade suficiente para se
sustentar durante 110 minutos sem ser cansativo, o que não deixa de ser um
mérito. A trama, escrita por Gary Dauberman (também roteirista do primeiro Annabelle), acompanha um grupo de
meninas órfãs que, cuidadas pela freira Charlotte (Stephanie Sigman), são
recebidas como hóspedes no casarão do criador de bonecas Samuel Mullins e sua
esposa Esther (Anthony LaPaglia e Miranda Otto), que jamais se recuperaram da
morte da filha Bee (Samara Lee), doze anos antes. Não demora até que as
meninas, em especial Linda e Janice (Lulu Wilson e Talitha Bateman, ótimas),
passem a ser assombradas pela presença maligna que acompanha uma boneca e
parece dominar a casa.
A desconfiança acerca das qualidades de Annabelle 2 era grande, por se tratar
do prequel de um prequel e porque o primeiro longa mesmo não era nenhuma
maravilha. A solução encontrada foi a chegada de um novo diretor à franquia.
David F. Sandberg é um nome promissor que vinha de uma estreia de sucesso
moderado no gênero (Quando as Luzes se
Apagam, 2016) e injetou vida nova a uma trama que, em linhas gerais, não
difere muito do longa anterior, no modo como vai lentamente revelando seus
demônios. Sandberg merece méritos por trabalhar muito bem as sombras, como seu trabalho
de estreia já havia denunciado, colocando suas ameaças sempre na penumbra, à
espreita dos habitantes da casa.
A despeito de construir a tensão com
talento, o diretor infelizmente é óbvio demais na preparação do terreno:
impossível não imaginar que uma música e um objeto mostrados ainda no início da
projeção serão importantes à trama, pela maneira nada velada que o cineasta os
aborda pela primeira vez, o que faz com que o impacto de certas cenas no
segundo ato diminua consideravelmente. Da mesma forma, crucifixos aparecem o tempo todo de forma nada implícita, como se a narrativa precisasse dar mais indícios do rumo que estava tomando. Outro problema, que já era um percalço
no filme de 2014, é a preguiça no design dos sustos. A Criação do Mal sofre com o excesso de jump scares, principalmente
em sua primeira metade, dependendo de notas mais altas da trilha sonora para
fazer a plateia dar alguns pulos da cadeira.
Felizmente, o terceiro ato funciona muito
bem. Com a tensão escalada e o mal que assombra os Mullins enfim à solta, Annabelle 2 é exemplar. Sandberg se
mostra mais habilidoso do que Leonetti havia sido antes dele, ao não renunciar
o gore sem soar gratuito e ao conseguir explorar com mais clareza todos os
cantos da casa, algo imprescindível para o sucesso de qualquer filme de mansões
amaldiçoadas. Ao lançar suas protagonistas – e o público – numa espiral de
horror que parece interminável, o diretor reverencia os filmes de James Wan
(inclusive ao escalar Joseph Bishara, que sempre fez os fantasmas de Wan, para
viver mais um demônio), e também deixa sua marca em uma franquia que, até
então, assustava sem ter personalidade própria.
Annabelle
2: A Criação do Mal era exatamente o que os spin-offs de Invocação do Mal precisavam para se
tornarem filmes que geram ansiedade nos fãs de terror. Possui alguns deslizes,
no desleixo em estabelecer simbologias de maneira menos gritante e com o excesso de jump scares, mas se
recupera com uma reta final assustadora. Nesse caminho, até se assemelha com outro prequel surpreendentemente bom, e que também estrela Lulu Wilson, Ouija: Origem do Mal (Mike Flanagan, 2016). Não é um filme ambicioso, não se
encaixa de maneira alguma na problemática definição de pós-horror cunhada pelo
The Guardian, por exemplo, mas diverte e assombra. Em um ano que já viu
desastres como Alien: Covenant e O Chamado 3, ser eficiente já basta.
Annabelle:
Creation, David F. Sandberg, 2017
1 comment:
um bom e assustador filme. Mas fica devendo em relação a Invocação do mal. alias é o menso bom desse universo.
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