Tuesday, August 29, 2017

Annabelle 2: A Criação do Mal

Lançado em 2014, Annabelle foi uma agradável surpresa. Um longa que, baseado em acontecimentos de Invocação do Mal (James Wan, 2013) conseguia apresentar resultados até positivos ao mesmo tempo em que deixava claro suas origens enquanto prequel, pela ambientação de época e momentos que guardavam mais do que algumas semelhanças com o material original. Entretanto, apesar de um sucesso inegável de público, ancorado na fama da horrenda boneca que nomeia a produção, o filme de John R. Leonetti jamais conseguia ser memorável. Era inegavelmente elegante, em suas homenagens a O Bebê de Rosemary (Roman Polanski, 1968) mas inofensivo, confiando em sustos fáceis para entreter o espectador.

Em muitos pontos, Annabelle 2: A Criação do Mal, de David F. Sandberg, é parecido com o longa anterior. Deixa poucas marcas no espectador, e dificilmente será lembrado daqui a alguns anos, mas possui personalidade suficiente para se sustentar durante 110 minutos sem ser cansativo, o que não deixa de ser um mérito. A trama, escrita por Gary Dauberman (também roteirista do primeiro Annabelle), acompanha um grupo de meninas órfãs que, cuidadas pela freira Charlotte (Stephanie Sigman), são recebidas como hóspedes no casarão do criador de bonecas Samuel Mullins e sua esposa Esther (Anthony LaPaglia e Miranda Otto), que jamais se recuperaram da morte da filha Bee (Samara Lee), doze anos antes. Não demora até que as meninas, em especial Linda e Janice (Lulu Wilson e Talitha Bateman, ótimas), passem a ser assombradas pela presença maligna que acompanha uma boneca e parece dominar a casa.

A desconfiança acerca das qualidades de Annabelle 2 era grande, por se tratar do prequel de um prequel e porque o primeiro longa mesmo não era nenhuma maravilha. A solução encontrada foi a chegada de um novo diretor à franquia. David F. Sandberg é um nome promissor que vinha de uma estreia de sucesso moderado no gênero (Quando as Luzes se Apagam, 2016) e injetou vida nova a uma trama que, em linhas gerais, não difere muito do longa anterior, no modo como vai lentamente revelando seus demônios. Sandberg merece méritos por trabalhar muito bem as sombras, como seu trabalho de estreia já havia denunciado, colocando suas ameaças sempre na penumbra, à espreita dos habitantes da casa.

A despeito de construir a tensão com talento, o diretor infelizmente é óbvio demais na preparação do terreno: impossível não imaginar que uma música e um objeto mostrados ainda no início da projeção serão importantes à trama, pela maneira nada velada que o cineasta os aborda pela primeira vez, o que faz com que o impacto de certas cenas no segundo ato diminua consideravelmente. Da mesma forma, crucifixos aparecem o tempo todo de forma nada implícita, como se a narrativa precisasse dar mais indícios do rumo que estava tomando. Outro problema, que já era um percalço no filme de 2014, é a preguiça no design dos sustos. A Criação do Mal sofre com o excesso de jump scares, principalmente em sua primeira metade, dependendo de notas mais altas da trilha sonora para fazer a plateia dar alguns pulos da cadeira.

Felizmente, o terceiro ato funciona muito bem. Com a tensão escalada e o mal que assombra os Mullins enfim à solta, Annabelle 2 é exemplar. Sandberg se mostra mais habilidoso do que Leonetti havia sido antes dele, ao não renunciar o gore sem soar gratuito e ao conseguir explorar com mais clareza todos os cantos da casa, algo imprescindível para o sucesso de qualquer filme de mansões amaldiçoadas. Ao lançar suas protagonistas – e o público – numa espiral de horror que parece interminável, o diretor reverencia os filmes de James Wan (inclusive ao escalar Joseph Bishara, que sempre fez os fantasmas de Wan, para viver mais um demônio), e também deixa sua marca em uma franquia que, até então, assustava sem ter personalidade própria.

Annabelle 2: A Criação do Mal era exatamente o que os spin-offs de Invocação do Mal precisavam para se tornarem filmes que geram ansiedade nos fãs de terror. Possui alguns deslizes, no desleixo em estabelecer simbologias de maneira menos gritante e com o excesso de jump scares, mas se recupera com uma reta final assustadora. Nesse caminho, até se assemelha com outro prequel surpreendentemente bom, e que também estrela Lulu Wilson, Ouija: Origem do Mal (Mike Flanagan, 2016). Não é um filme ambicioso, não se encaixa de maneira alguma na problemática definição de pós-horror cunhada pelo The Guardian, por exemplo, mas diverte e assombra. Em um ano que já viu desastres como Alien: Covenant e O Chamado 3, ser eficiente já basta.

Annabelle: Creation, David F. Sandberg, 2017 

1 comment:

joão said...

um bom e assustador filme. Mas fica devendo em relação a Invocação do mal. alias é o menso bom desse universo.