Thursday, July 06, 2017

Homem-Aranha: De Volta ao Lar

Durante a adolescência, quando ainda cursava o ensino médio, ter o nome escrito errado era uma das coisas que mais me irritavam. Para mim, soava como ofensa ver que alguém, mesmo quem não me conhecia direito, tinha escrito Victor em vez de Vitor. Hoje em dia eu ainda tento avisar (“é Vitor sem c, por favor”), mas não me importa mais se alguém soletra meu nome errado. Impossível não lembrar disso quando Peter Parker (Tom Holland), ao ouvir de Tony Stark (Robert Downey Jr.) que não passa de “um garoto de 14 anos”, não hesita em corrigi-lo. “Tenho 15”, ele diz.

Quando somos bem jovens, tudo soa muito sério, muito grande, muito grave, talvez porque somos imaturos como sempre fomos até então, mas nos sentimos adultos e responsáveis como nunca antes. Homem-Aranha: De Volta ao Lar evoca tão bem essa confusão de ser adolescente que, mesmo sendo mais um blockbuster nos cinemas, acaba fazendo até mais sentido se posto ao lado de filmes recentes sobre essa fase da vida, como DUFF (Ari Sandel, 2015), Sing Street (John Carney, 2016) e Quase 18 (Kelly Fremon Crag, 2016). Por ser uma adaptação de quadrinhos, logicamente tem algumas boas cenas de ação, além de ser colorido, leve e muito caro, mas não será lembrado por isso. A médio e longo prazo, são os sentimentos que evoca que farão dele uma memória doce.

De Volta ao Lar tenta seguir um caminho diferente das outras versões do Aranha para as telas. A trama tem início algum tempo após Peter se tornar um vigilante. Este é o longa-metragem que marca a estreia do herói como estrela de uma produção do Marvel Studios e por isso precisa, em vez de ser um filme de origem, estabelecer seu lugar no universo cinematográfico da Marvel. Mesmo que o personagem não precise dessa ambientação para funcionar, a conexão é bem-feita, ao explorar a relação entre Parker e Stark (que, além de ter desenvolvido o moderno uniforme do Homem-Aranha, age como seu mentor) e ao dar ao vilão, o Abutre encarnado por Michael Keaton, motivações que o transformem em figura com certo carisma.

Carismáticos também são os coadjuvantes que cercam Peter, em especial seu melhor amigo Ned (Jason Batalon, que possui ótimo timing cômico), e tia May (Marisa Tomei, cuja beleza rende boas piadas, especialmente nos primeiros minutos da projeção). Os outros personagens também funcionam, seja para adicionar leveza à história (o grupo de nerds que acompanham Peter nas olimpíadas escolares, incluindo Liz Allen, interesse amoroso vivido por Laura Harrier), ou para presentear os fãs/leitores mais atentos (como o Aaron Davis de Donald Glover).

Ao abrir a narrativa quase in media res (quando o público é primeiramente apresentado a uma trama já iniciada), seguindo eventos de filmes anteriores da Marvel, Homem-Aranha não economiza tempo e, presumindo que o seu público sabe o que levou aquele universo até aquele ponto, se propõe a ser uma obra ágil e que não se perde em explicações desnecessárias, preferindo se ater às relações entre Peter e as pessoas que habitam sua vida. Por isso, Tom Holland convence tanto como um garoto confuso em seu princípio de carreira como defensor de Nova York, principalmente quando ela entra em conflito com sua vida pessoal. É comovente o momento em que o herói deixa uma briga de lado para cuidar da destruição que essa mesma briga causou.

As sequências de ação, aliás, são um ponto interessante. Apesar de comandadas pelo diretor Jon Watts sempre com criatividade, apostando em cenários e situações distintos, as cenas em que o Aranha precisa enfrentar seus inimigos jamais impressionam. São inegavelmente mais eficientes do que as dos dois filmes do personagem dirigidos por Marc Webb, que eram apáticas e confusas em sua mise en scène, mas ficam bem atrás dos longas comandados por Sam Raimi, em que a correria e os pontapés eram centrais naquelas narrativas e influenciavam todo o desenrolar dos eventos seguintes.

E é bem capaz que esteja aí a grande diferença entre Homem-Aranha: De Volta ao Lar e os primeiros filmes do personagem, até então a principal representação do Cabeça-de-Teia nas telas. A ação que Watts dirige reflete bem a idade do seu protagonista: é empolgante, ágil, grandiloquente, apesar de um pouco desajeitada, mas (com exceção de um momento específico no terceiro ato) resulta em pouco efeito de amadurecimento no herói, que vai acabar se metendo em um problema ainda maior em seguida. Já a trilogia de Raimi, em especial Homem-Aranha 2, utilizava as missões de Spidey, geralmente desafios de vida ou morte, quase como metáforas da vida conturbada de Parker fora do traje.

Mas ser urgente não é bem uma preocupação por aqui. Esta é uma adaptação que, apesar de remeter o tempo todo aos quadrinhos (do visual colorido a referências mais claras, como detalhes do uniforme que lembram os desenhos de Steve Ditko e John Romita), escolhe ser tão John Hughes quanto Stan Lee. As menções nada veladas a obras como Curtindo a Vida Adoidado e Clube dos Cinco não estão ali por acaso: se não fosse o uniforme high-tech e as três décadas de diferença, o moleque interpretado por Holland (muito à vontade ao carregar uma produção desse porte) poderia fazer parte de alguns dos filmes de Hughes, como os jovens que ganharam os rostos de Molly Ringwald e Anthony Michael Hall. Homem-Aranha: De Volta ao Lar é moderno do lado de lá da tela e nostálgico do lado de cá. Para o espectador, a combinação é irresistível.

Spider-Man: Homecoming, Jon Watts, 2017 ½

1 comment:

joão said...

achei um mais do mesmo
cenas de ação parecidas e trama boba
alem de um excesso de piadas muitas vezes sem graça.