O Corvo

Poucos momentos na História do Cinema foram tão propícios para o lançamento de um filme como esse. Com os mash-ups (Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros está aí para provar) inundando a cultura pop e Sherlock Holmes tendo voltado às telas com bastante sucesso, explorar a imagem de um dos mais célebres escritores norte-americanos em um caso de suspense e investigação parecia algo irresistível. É, infelizmente o que se vê no terceiro filme de James McTeigue não vai muito além do oportunismo.

Falta decisão na mão do cineasta responsável pelo brilhante V de Vingança e o divertidinho Ninja Assassino. O Corvo investe em um trauma no passado de Poe (que se mostra arrogante e pretensioso no primeiro ato, características que somem após meia-hora de projeção) e depois recua, demonstra um tímido viés cômico que não acompanha a narrativa até o final, personagens inúteis povoam a tela (o próprio interesse amoroso do escritor, Emily, não é mais do que a donzela em perigo), tudo isso embalado pela trama rocambolesca escrita por Ben Livingston e Hannah Shakespeare, que carrega boa parte da culpa pelo mau desenvolvimento dos personagens. Em uma trama com mais ação, algo que McTeigue já provou fazer muito bem, tais detalhes poderiam ser relevados (e é aí que os dois Sherlock Holmes se salvam do desastre completo) mas em um longa que se propõe a mergulhar em uma investigação como esse aqui, o resultado acaba sendo morno. Além disso, a insistência do protagonista em recitar seus próprios poemas a cada cinco minutos irrita por demonstrar, acima de tudo, uma covardia dos roteiristas ao não produzirem um texto mais enxuto e menos superficial, para uma premissa que poderia ter gerado mais recheio.

Resta ao espectador pescar com certa paciência detalhes minimamente interessantes (a direção de arte é batida, mas os túneis subterrâneos são interessantes, por exemplo) em um filme repleto de problemas, e se divertir com as caretas à la Nicolas Cage de John Cusack.

The Raven, James McTeigue, 2012