1979. Os EUA dão abrigo ao xá Reza Pahlevi, tirano que em seus anos
como líder político do Irã, havia ostentado grande opulência enquanto o povo sofria
com a pobreza. A decisão norte-americana enfurece os iranianos, que invadem a
embaixada americana e fazem 54 prisioneiros. Seis trabalhadores da embaixada,
no entanto, conseguem fugir e se esconder na casa do embaixador canadense no
Irã, Ken Taylor. A história, já cinematográfica por natureza, ganha contornos
fantásticos quando entra em cena a operação de resgate montada por Tony Mendez,
agente da CIA especializado em exfiltração, que consistia em fingir a produção
de um filme de mentira (uma ficção científica de roteiro horroroso chamada "Argo")
e retirar os seis refugiados do solo iraniano em segurança enquanto faz de conta que
procura locações no Oriente Médio para as filmagens.
Nas mãos de Ben Affleck, e apoiado por um elenco primoroso, contando John
Goodman, Alan Arkin e Bryan Cranston, Argo se torna dois filmes ao mesmo tempo.
Há a crítica aos absurdos hollywoodianos, ao investimento de milhões de dólares
em filmes que muitas vezes não saem do papel, e há o filme político, na
tradição de A Conversação e Três Dias do Condor. O desafio era fazer linhas
narrativas tão distintas funcionarem juntas, mas com a ajuda do ótimo texto de
Chris Terrio e da montagem ágil de William Goldenberg, Argo tira de letra, e
ainda se dá ao luxo de ter algumas das grandes cenas da temporada.
Entre elas, o maravilhoso prólogo. Retratado em forma de storyboards,
situa o espectador no contexto histórico com velocidade e eficiência, além de
ser uma belíssima seqüência e funcionar organicamente em um filme que trata
justamente da produção de um filme (um filme que não há, é verdade, mas os storyboards
existem).
Poucas licenças são tomadas em relação ao que realmente ocorreu (a
seqüência do bazar e o excesso de empecilhos que a equipe enfrenta no aeroporto são os exemplos mais importantes),
mas mesmo essas são feitas com o intuito de adicionarem tensão à narrativa, e
conseguem o efeito desejado. Afinal, se nós sabemos que a missão foi
bem-sucedida, a única coisa que nos resta é torcer para que o caminho tomado por ela seja
tortuoso e difícil o bastante para que valha o ingresso. Ben Affleck (diretor
extremamente competente, ao contrário do que seus limitados talentos em frente
às câmeras poderiam sugerir, e se arriscando em projetos ambiciosos, o que é sempre
bom) entendeu essa expectativa, e entregou um dos melhores filmes do ano.
Argo, Ben Affleck, 2012 

2 comments:
concordo com tudo. só faltou uma estrelinha a mais.
e eu quando vi não sabia que a missão daria certo, o que tornou mais tenso
Eu também não sabia se daria certo, e fiquei muito tensa no final quando eles estão a caminho do avião.
Filme sensacional!
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