Monday, December 03, 2012

A Saga Crepúsculo: Amanhecer - Parte 2


Toda obra de ficção, seja ela literária ou cinematográfica, transmite ao leitor/espectador uma visão de mundo, uma ideologia com a qual seu criador concorda ou à qual repudia. Não é sensato, portanto, defender uma obra que transmita valores tortos com frases como “é só um filme”, “não foi feito com essa intenção”, “você está enxergando demais”, e outras baboseiras do gênero.

Dito isso, A Saga Crepúsculo representa uma afronta. Não só cinematograficamente, com seus roteiros pedestres (assinados por Melissa Rosenberg), seu trabalho de maquiagem quase nunca satisfatório e sua péssima direção de atores, como na ideologia: durante quatro filmes onde nada ou muito pouco acontece, o espectador é obrigado a assistir a um libelo machista que transforma a protagonista Bella em uma massa acéfala e sem-graça, manipulada sem dó pelos homens que a “amam”, o vampiro Edward Cullen e o lobo Jacob Black.

Essa novela é encerrada de maneira coerente em Amanhecer - Parte 2. Presenciamos aqui o despertar dos poderes de Bella, transformada em vampira por Edward após quase ter morrido em função da gravidez mostrada no pavoroso episódio anterior, e o crescimento veloz de Renesmee, a filha do casal. O surgimento da menina desperta a atenção dos Volturi, que decidem exterminar a família Cullen por acreditarem que eles infringiram uma das leis do universo vampírico. Toda essa tensão faz com que os heróis busquem ajuda de vampiros de todo o mundo, gerando cenas ridículas como a da apresentação das vampiras brasileiras e a de um conflito que não há.

Tecnicamente, Amanhecer - Parte 2 não parece avançar em relação aos outros filmes da série. A maquiagem continua ruim, a trilha sonora intrusiva e os efeitos especiais pedestres (aliás, o bebê digital criado para mostrar uma Renesmee recém-nascida é qualquer coisa de bizarro). Já ideologicamente, a quinta parte da série compõe um complexo e mortal quebra-cabeça sexista. Após bater insistentemente durante os três primeiros capítulos na questão da virgindade, nos diálogos de Bella e Edward sobre a transformação da donzela em vampira (ela queria ser “mordida”, e ele não queria transformá-la, deixando clara a posição do macho como o protetor da moral e da honra dele e DELA), e de mostrar objetos fálicos em profusão no quarto episódio, a saga parece enfim estar feliz por terminar de transmitir sua mensagem através da mudança de personalidade de Bella, que se mostra bastante confiante e menos aborrecida. Crepúsculo é tão moralmente questionável, que faz a sua heroína ficar legal apenas no momento em que ela se iguala ao marido e à família dele, não só se transformando em vampira, mas se masculinizando também (e a cena em que ela vence um vampiro na queda de braço é reveladora da visão limitada e nociva de Stephenie Meyer).

Após cinco longos anos, a caminhada de Bella (cujo sobrenome Swan, "cisne" em inglês, remete porcamente ao renascer da protagonista, como na história do Patinho Feio) rumo à felicidade plena chega ao fim. Casada, mãe, dona-de-casa, sem ter concluído o ensino médio, mas ao lado do homem que ama, a protagonista da saga Crepúsculo se despede do cinema com um longa que faz jus ao legado da série. Amanhecer - Parte 2 tem tudo o que era esperado pelas fãs dos livros de Stephenie Meyer e da série de cinco filmes que passou por vários cineastas, até atingir o fundo do poço sob o comando de Bill Condon, curiosamente o mesmo cineasta responsável pelas mulheres talentosas e guerreiras de Dreamgirls.

The Twilight Saga: Breaking Dawn - Part 2, Bill Condon, 2012 

2 comments:

joão said...

Pra mim o edward era gay, e evitou o sexo enquanto pode, ele não podia descartar a Bela porque ele queria o jacob e se a bela sumisse o jacob ficaria com ela e sumiria de perto.

bom, brincadeiras a parte eu odeio o segundo filme e esse, de resto acho que varia entre o fraco e o assitivel. quanto ao diretor, nem é cupa dele.acho que ninguém faria muito melhor. mas acho que bela ficou melhor sim, e mesmo que seja se igualando a familia e ao marido, antes tarde do que nunca.melhor do que aquela personagem insuportável.mas vampiros mutantes são demais.

a saga é tão esqueciveis que no fim aparece todos os personagens que passaram por ela e juro que não consegui me lembrar de uns 70%

Raquel Raposo said...

Eu só quero saber quem foi que disse pra ela que vampiros brilham no sol!!
Pouco me lembro dos dois primeiros da série, mas sei que eles não me incomodaram como os três último.
A saga nunca chamou minha atenção. Até o segundo filme, eu não tinha sentimentos bons nem ruins. Mas quando parei pra ver "Eclipse", fiquei extremamente irritada com a cena dela praticamente implorando para transar com ele, e ele, cheio de autocontrole, diz que quer fazer tudo "direitinho".
Que nojo! Que nojo!

Concordo com o João! Ele só queria um lobinho para chamar de meu!! Huahuahuah...

Belo texto!!