Thursday, January 17, 2013

As Sessões


É estranho quando assistimos a um filme que fica no “quase”. Aquele filme que não é ruim, isso é fato, mas que também não chega a ser bom. Que se revela agradável durante boa parte de sua duração, mas que ao fim não queremos voltar a vê-lo. Que por mais interessante que seja aqui e ali, nunca chega realmente a empolgar, ficando sempre perigosamente no meio-termo. Essas características caem como uma luva em As Sessões, de Ben Lewin.
                                            
Escrito pelo próprio Lewin, o filme conta a história de Mark O’Brien (John Hawkes), poeta e escritor que perdeu os movimentos do corpo após contrair poliomielite na infância. Já adulto, se torna próximo de Vera (Moon Bloodgood), que o ajuda em casa, e do padre Brenan (William H. Macy), para quem confessa se sentir incompleto devido ao fato de não conhecer o sexo. Mark decide então se consultar com uma terapeuta sexual, que o indica para Cheryl Cohen Greene (Helen Hunt), especialista em consciência corporal, que dá ao protagonista a possibilidade de perder a virgindade.

A premissa é interessante, e poderia render uma bela comédia romântica se não soasse tão previsível, principalmente em seu segundo ato. As Sessões possui qualidades inegáveis. Os bons trabalhos de direção de arte e figurinos são um show à parte, mostrando que não é preciso uma ambientação histórica para que seu trabalho seja digno de nota (reparem, por exemplo, no feliz tom de azul da camisa usada por O’Brien quando este conta para o padre Brenan uma experiência que tivera). Além disso, o elenco funciona muitíssimo bem, tornando o longa uma experiência eficiente: engraçado em muitos momentos, especialmente quando William H. Macy está em cena, e extremamente romântico quando necessário, e a batida mas bela cena em que dois personagens trocam frases de “eu te amo” após o sexo é prova incontestável dessa qualidade.

Apesar disso, o trabalho de Lewin tropeça em pontos-chave para o sucesso da empreitada. O excesso de personagens desnecessários atrapalha o envolvimento total do espectador com a trama principal. Afinal, não existe motivo para os curtos, porém pouco relevantes diálogos com a terapeuta interpretada por Jennifer Kumyiama, ou a indesculpável inclusão de um interesse amoroso do protagonista na primeira metade de projeção. O roteiro deveria apresentar soluções sem as distrações que o excesso de personagens causa. Falando no roteiro, o desenrolar da trama é (como já citado) extremamente previsível, resultado de um texto problemático que não escapa dos clichês e da fórmula mais utilizada no gênero, com exceção do corajoso final, que rema contra a corrente e apresenta uma solução interessantíssima, apesar de ser quase destruído por uma intrusiva e inexplicável narração em off.

Quando os créditos começaram a subir eu não sabia o que achar, e mesmo após escrever esse texto, ainda acho difícil dizer que As Sessões é bom ou ruim. Com tantos altos e baixos (que dão a impressão de o filme ser uma espécie de navio que naufraga em um momento, para milagrosamente ressurgir forte no minuto seguinte), fica a sensação de termos assistido a uma obra que poderia ter sido tanto memorável quanto uma bomba retumbante, mas que infelizmente se equilibra em cima do muro, se tornando assim apenas um passatempo gostoso e esquecível.

Observação: A nudez de Helen Hunt é digna de aplausos por ser ao mesmo belíssima e honesta, prova da entrega sincera dessa grande atriz, que se mostra no auge do vigor aos 49 anos de idade.

The Sessions, Ben Lewin, 2012 

1 comment:

João said...

concordo com tudo, mas gostei mais que você

nota 7,5