Quem
me conhece sabe que eu sou um apaixonado por ficção científica. Acho um gênero
riquíssimo, que pode se propor a entreter com explosões no espaço, com máquinas
rebeldes ou com viagens no tempo, mas que, quando feitas com esmero, sempre apresentam conceitos que valem a discussão em mesas de bar e reflexões mais demoradas. Outra coisa que
quem me conhece também sabe é que eu não consigo encontrar qualidade alguma nos
filmes da saga Crepúsculo, que se encerrou no ano passado, para o alívio de quase todos. E por que eu estou dizendo isso? Por causa de A Hospedeira,
adaptação de outro livro de Stephenie Meyer a chegar às telas.
A trama é ambientada em um futuro distópico, no qual uma pacífica raça alienígena habita a Terra.
Eles se apoderam de homens e mulheres e os possuem (mais ou menos como uma
espécie de Os Invasores de Corpos paz e amor), colocando ali suas almas. Uma
dessas almas, Peregrina (do inglês Wanderer, que acaba apelidada de Wanda no
decorrer do longa), toma o corpo da humana Melanie Stryder, mas se vê em
conflito com a mente da jovem, que se torna a mais genuína amiga imaginária e
trava verdadeiros duelos verbais com a invasora de seu corpo.
A
partir dessa premissa, o espectador presencia o que já havia acontecido durante
a saga de Bella Swan & Cia, um triângulo amoroso entre o que o corpo deseja
versus o que o coração (ou a alma humana que se recusa a ir embora) quer. A
diferença é que se a trama dos vampiros era assumidamente destinada a jovens
inocentes que sonham com o príncipe, A Hospedeira tenta maquiar essa evidência
com toques de filmes B dos anos 60 e 70, com uma trama futurista rala e uma
direção de arte que aposta no duelo entre as paisagens desérticas do Novo
México e o mundo cromado dos alienígenas.
Mas
o que torna cenas como a que Wanda/Melanie beija um rapaz e segundos depois depois
beija outro decepcionantes e constrangedoras é saber que a direção ficou a
gargo de Andrew Niccol, cineasta que já havia comprovado sua competência (inclusive
no sci-fi, com o ótimo Gattaca). Responsável também pelo roteiro, Niccol foi
incapaz de reduzir a obra de Meyer a pouco mais de duas linhas, suprimindo o
tom meloso e reescrevendo a trama a seu modo, o que poderia ter gerado um
interessante thriller futurista. Preferiu, ao invés disso, não afastar a base
fiel de fãs da autora e acabou repetindo em um campo diferente os mesmos
problemas que destruíram as pretensões de Crepúsculo de conseguir defensores
também entre aqueles que não se apaixonaram pela obra literária.
E
por isso, quando o anti-clímax toma conta do terceiro ato, com a terrível
solução do texto para a vilã de Diane Kruger, nós já estamos mais do preparados
para um encerramento dos mais insossos. Talvez esse seja o grande truque de Meyer: anestesiar nossos olhos, para que não percebamos que ela nunca soube como terminar uma história.
The Host, Andrew Niccol, 2013
½

2 comments:
Pior filme do ano. E o diretor que é ninguém menso que o roteirista de o Show de Truman tropeça pela segunda vez seguida. depois de O preço do amanhã.
Essa Stephenie Meyer adora um triângulo amoroso! Mas pelo menos esse terminou com 4 adultos, e não com 3 adultos e uma criança, como em Crepúsculo. Rsrs...
O fim que eles dão à vilã é muito ridículo! Nem teve batalha, nem teve emoção! Acabou! Que saco!
E a cena que ela beija um e o outro logo em seguida é patética.
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