Sunday, May 05, 2013

A Hospedeira


Quem me conhece sabe que eu sou um apaixonado por ficção científica. Acho um gênero riquíssimo, que pode se propor a entreter com explosões no espaço, com máquinas rebeldes ou com viagens no tempo, mas que, quando feitas com esmero, sempre apresentam conceitos que valem a discussão em mesas de bar e reflexões mais demoradas. Outra coisa que quem me conhece também sabe é que eu não consigo encontrar qualidade alguma nos filmes da saga Crepúsculo, que se encerrou no ano passado, para o alívio de quase todos. E por que eu estou dizendo isso? Por causa de A Hospedeira, adaptação de outro livro de Stephenie Meyer a chegar às telas.

A trama é ambientada em um futuro distópico, no qual uma pacífica raça alienígena habita a Terra. Eles se apoderam de homens e mulheres e os possuem (mais ou menos como uma espécie de Os Invasores de Corpos paz e amor), colocando ali suas almas. Uma dessas almas, Peregrina (do inglês Wanderer, que acaba apelidada de Wanda no decorrer do longa), toma o corpo da humana Melanie Stryder, mas se vê em conflito com a mente da jovem, que se torna a mais genuína amiga imaginária e trava verdadeiros duelos verbais com a invasora de seu corpo.

A partir dessa premissa, o espectador presencia o que já havia acontecido durante a saga de Bella Swan & Cia, um triângulo amoroso entre o que o corpo deseja versus o que o coração (ou a alma humana que se recusa a ir embora) quer. A diferença é que se a trama dos vampiros era assumidamente destinada a jovens inocentes que sonham com o príncipe, A Hospedeira tenta maquiar essa evidência com toques de filmes B dos anos 60 e 70, com uma trama futurista rala e uma direção de arte que aposta no duelo entre as paisagens desérticas do Novo México e o mundo cromado dos alienígenas.

Mas o que torna cenas como a que Wanda/Melanie beija um rapaz e segundos depois depois beija outro decepcionantes e constrangedoras é saber que a direção ficou a gargo de Andrew Niccol, cineasta que já havia comprovado sua competência (inclusive no sci-fi, com o ótimo Gattaca). Responsável também pelo roteiro, Niccol foi incapaz de reduzir a obra de Meyer a pouco mais de duas linhas, suprimindo o tom meloso e reescrevendo a trama a seu modo, o que poderia ter gerado um interessante thriller futurista. Preferiu, ao invés disso, não afastar a base fiel de fãs da autora e acabou repetindo em um campo diferente os mesmos problemas que destruíram as pretensões de Crepúsculo de conseguir defensores também entre aqueles que não se apaixonaram pela obra literária.

E por isso, quando o anti-clímax toma conta do terceiro ato, com a terrível solução do texto para a vilã de Diane Kruger, nós já estamos mais do preparados para um encerramento dos mais insossos. Talvez esse seja o grande truque de Meyer: anestesiar nossos olhos, para que não percebamos que ela nunca soube como terminar uma história.

The Host, Andrew Niccol, 2013 ½

2 comments:

joão said...

Pior filme do ano. E o diretor que é ninguém menso que o roteirista de o Show de Truman tropeça pela segunda vez seguida. depois de O preço do amanhã.

Raquel Raposo said...

Essa Stephenie Meyer adora um triângulo amoroso! Mas pelo menos esse terminou com 4 adultos, e não com 3 adultos e uma criança, como em Crepúsculo. Rsrs...
O fim que eles dão à vilã é muito ridículo! Nem teve batalha, nem teve emoção! Acabou! Que saco!
E a cena que ela beija um e o outro logo em seguida é patética.