Não há nada em O Último Desafio, de Kim Jee-woon, que não faça referencia ao mundo
dos westerns e dos filmes de ação. Pra
começar, dois dos estereótipos mais clássicos estão lá: o xerife velho com
passado traumático e o fora da lei que acabou de fugir da cadeia fazendo uma
refém. O cineasta parece conhecer o estilo, já que há alguns anos dirigiu Os Invencíveis (que passou no Festival
do Rio com o título O Bom, O Mau e o
Bizarro), com relativo sucesso. Dessa vez, porém, sai a homenagem a Sergio
Leone, e entra o olhar sobre as características masculinas (e masculinizadas)
que ajudam a compor o universo do gênero ao qual o longa faz parte. Essas
características se fazem presentes, e ganham um reforço de peso: Arnold
Schwarzenegger, de volta ao protagonismo após 10 anos.
O veterano ator interpreta Ray Owens, chefe
da força policial da cidadezinha de Sommerton, que em sua vida sossegada, se
preocupa com gatos presos em árvores e com o atraso do leiteiro. O problema é
que essa rotina calma e pacata é interrompida pelos planos de um fugitivo que,
caçado pelo FBI, pretende atravessar a fronteira para o México. Em seu caminho,
Sommerton e seu xerife, que resolve proteger seus moradores e vingar um jovem colega.
A narrativa é embalada por um comentário
sobre a paixão dos homens por carros e armas. Sempre que uma sequência chega ao
ápice, veículos e rifles aparecem em cena, cada vez mais velozes, mais
modernos, e maiores. Para um homem, como não pode deixar de ser, tamanho é
documento, e Georgette (nome grande para uma arma idem) não está ali à toa.
Jee-woon moderniza o estilo (Troca os cavalos
por carros que correm a mais de 300 km/h, os revólveres por escopetas e o
deserto por estradas no deserto), mas no fundo nada muda. Americano e com
cheiro de testosterona por natureza, o longa louva os tipos que fizeram o faroeste
tão influente, olhando agora para como John Ford e Howard Hawks moldaram o
cinema de ação para que ele se tornasse o que é hoje: a mesma coisa que era há
60 anos. Em 2013, a mocinha ainda sente atração por foras da lei, o herói ainda
é mais legal quando possui um trauma no passado, e bandido que se preste ainda
possui um bando que o ajuda em sua fuga e prepara o terreno para sua escapada
definitiva. No entanto, agora que o espectador sabe disso tudo, ele encontra as
referências, dá risadas. E o diretor ri junto.
A diferença é que nesses tempos pós John
McClane e Jason Bourne, o protagonista não é mais imbatível. Owens sangra, apanha
e rasga o uniforme no cumprimento do dever. Sofre com os efeitos da idade que
chegou para ele, mas ainda não para o vilão. Mas quando sobe em seu cavalo
iguala as forças para perseguir seu inimigo, que pode ser mais veloz, mas não é
mais forte nem mais obstinado. Nessa hora, o mito norte-americano se
personifica, olha para o rival com cara de mau e O Último Desafio resolve a sua trama na pancadaria. Porque macho
que é macho chama para a mão.
The Last Stand, Kim Jee-woon, 2013 

1 comment:
Quando você mandou o link eu nem lembrava que filme era esse.
passo, mas pra quem gosta desse estilo deve ter seu charme
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