Saturday, May 25, 2013

Terapia de Risco


Steven Soderbergh é um diretor habilidoso. Dono de um estilo próprio, o cineasta consegue dar às suas tramas um ar classudo e visualmente eficiente independentemente do gênero que esteja abraçando, apesar de nem sempre gerar grandes obras. Esses são os traços que ligam filmes tão diferentes como, por exemplo, Confissões de uma Garota de Programa, Contágio e À Toda Prova, títulos tão elegantes quanto irregulares. Dito isso, Terapia de Risco é, entre seus últimos trabalhos, o melhor. Contando com um roteiro eficiente escrito por Scott Z. Burns, Soderbergh realiza um trabalho preciso na condução de uma trama rocambolesca, mas que nunca se perde.
                            
Emily (Rooney Mara) é uma jovem que viu seu marido, Martin (Channing Tatum), passar quatro anos na cadeia. Quando ele é enfim solto, ela desenvolve uma depressão que parece encontrar reflexos em seu passado, e passa a depender de remédios e da ajuda do respeitado psiquiatra Jonathan Banks (Jude Law) para levar uma vida perto da normalidade. Em certo momento, porém, algo acontece e o que parecia o princípio do processo de cura de Emily se transforma em redemoinho de intrigas que parecem não terem fim.

É interessante notar que existem dois filmes convivendo aqui, mas um começa apenas quando o outro termina. Do drama romântico inicial, com o jovem casal como centro das atenções, pouco resta quando o thriller se instaura, juntamente com o crescimento do personagem de Jude Law, na primeira das muitas mudanças de rumo preparadas por Burns e conduzidas com precisão por Soderbergh, cineasta afeito de rimas visuais e sonoras, e que aqui brinda o espectador com dois momentos curtos, mas dignos de antologia: em um, o som da lata de energético sendo aberta dá lugar ao barulho feito por um personagem em uma cama de hospital; outro recorte, ainda mais emblemático, é o plano que encerra o longa, encontrando ecos na imagem que abria a narrativa e amarrando os acontecimentos de forma brilhante.

É bem verdade que Terapia de Risco não é perfeito. A subtrama envolvendo um acontecimento do passado de Banks, que pode ou não ter relação com o presente momento profissional do psiquiatra é rala, e bem pouco explorada pelo roteiro, que curiosamente aparenta não ter muita paciência para essa barriga criada por ele mesmo, encerrando as discussões de uma forma brusca e com uma frase que faz o mais fácil, foge: “Foi uma feliz coincidência”. O terceiro ato, por sua vez, poderia ser conduzido de forma mais eficaz, sem o previsível artifício de edição que aplica um corte no início da proposta feita por um personagem, saltando para as consequências de tal ideia.

Deslizes que ficam para trás no golpe final do roteiro, que apesar de moralista (somos reféns de nossos atos, e precisaremos responder por eles), soa condizente com o tom farsesco de uma narrativa que possui o “nada é o que parece” como máxima a ser seguida, e elegante como os melhores momentos (Sexo, Mentiras e Videotape, Traffic, Che) da carreira de seu diretor.

Side Effects, Steven Soderbergh, 2013 ½

1 comment:

joão said...

ótimo filme