As
grandes qualidades de Duro de Matar,
o melhor filme de Natal já feito, que o alçaram à categoria de um dos maiores
clássicos do gênero ação desde o seu lançamento no fim dos anos 80, eram o realismo
de sua trama, aliado à ação desenfreada e ao carisma de seu protagonista, o
policial John McClane que, interpretado por Bruce Willis, era o cara certo na
hora errada. Duro de Matar 2 e Duro de Matar – A Vingança, as duas
primeiras sequencias da franquia, seguiam a mesma cartilha: o herói quebrava
tudo, matava aos montes, salvava o dia, e via sua relação com sua mulher e seus
filhos cada vez mais distante.
Na
onda do revival dos astros do passado, que ressuscitou Rambo, Rocky, o Exterminador do Futuro e reiniciou a
franquia 007, o policial retornou às
telas em 2007 como um veterano que ainda resolvia as coisas na base da bala, e
que por ter trabalhado demais pela cidade, se afastou de sua família. Duro de Matar 4.0 mostrava, entre tiros
e explosões, o então detetive McClane se reaproximando de Lucy, sua filha
caçula. Não era um grande filme, se entregava a arroubos de exagero (ver o
cinquentão Willis saltando de um caminhão para a asa de um caça militar não era
algo que justificava a verossimilhança, mesmo que relativa, pela qual as suas aventuras ficaram conhecidas),
mas possuía algumas boas sacadas. Duro
de Matar – Um Bom Dia Para Morrer vai pelo mesmo caminho, porém com muito
mais erros do que acertos dessa vez.
Após
um prólogo que revela o plot através do mesmo artifício empregado no segundo
exemplar da série, somos reapresentados a John (e sua primeira aparição, dando
tiros em direção à tela, é um momento de rara inspiração da direção insossa de
John Moore), e logo a trama se descortina. O policial precisa ir a Moscou
livrar seu filho Jack, com quem não mantém boas relações, de um problema
envolvendo o governo e atividades de espionagem. Chegando lá, como era de se
esperar, McClane acaba enfrentando dezenas de vilões armados. E Logicamente,
como ficou clichê nas produções recentes do gênero, as aparências enganam.
A
repetição não é um problema em se tratando de Duro de Matar, e por isso não é muito confortável ver a série
respirando novos ares. A fotografia recheada de cores frias (mas que apresenta
um ensolarado tom de laranja quando algumas lembranças vêm à tona) até que é um
acerto, mas a trama diferente peca, e muito, pelo abraço a
causas escusas. Os vilões do cinema movido à testosterona tendem a refletir o
presente. Se em 4.0 Thomas Gabriel
era a personificação do pavor americano, o inimigo íntimo, o terrorista que
conhece a América como a palma da mão, dessa vez os EUA, representados por John
McClane (que é inclusive chamado de cowboy, o genuíno herói americano, assim
como o era no original de 88), vão ao território estrangeiro com uma
justificativa aceitável, e acabam se metendo em uma guerra que não é deles.
Qualquer semelhança com os recentes filmes do gênero não é mera coincidência.
Pois
se John McClane é o mesmo de sempre, o que mudou? A resposta é simples: o que
mudou foi a própria natureza do filme de ação. Hoje em dia o que vale é ser
veloz e furioso, disparar projéteis sem parar, explodir tudo, ao invés de fazer
tudo isso porque é a única coisa a ser feita. Em tempos como esse, o obsoleto policial
de Nova York, que no passado venceu os irmãos Grüber justamente por fazer as
coisas do jeito mais old school possível, hoje perde a batalha por causa de seu
maior charme, o de ser um “relógio de corda na era digital”.
Tomara
que em sua próxima aparição nas telas (se houver mais alguma), nosso velho herói
tenha os melhores parceiros: um diretor e um roteirista que o entendam.
A Good Day To Die Hard, John Moore, 2013
½

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