Monday, June 03, 2013

Duro de Matar - Um Bom Dia Para Morrer


As grandes qualidades de Duro de Matar, o melhor filme de Natal já feito, que o alçaram à categoria de um dos maiores clássicos do gênero ação desde o seu lançamento no fim dos anos 80, eram o realismo de sua trama, aliado à ação desenfreada e ao carisma de seu protagonista, o policial John McClane que, interpretado por Bruce Willis, era o cara certo na hora errada. Duro de Matar 2 e Duro de Matar – A Vingança, as duas primeiras sequencias da franquia, seguiam a mesma cartilha: o herói quebrava tudo, matava aos montes, salvava o dia, e via sua relação com sua mulher e seus filhos cada vez mais distante.
                                             
Na onda do revival dos astros do passado, que ressuscitou Rambo, Rocky, o Exterminador do Futuro e reiniciou a franquia 007, o policial retornou às telas em 2007 como um veterano que ainda resolvia as coisas na base da bala, e que por ter trabalhado demais pela cidade, se afastou de sua família. Duro de Matar 4.0 mostrava, entre tiros e explosões, o então detetive McClane se reaproximando de Lucy, sua filha caçula. Não era um grande filme, se entregava a arroubos de exagero (ver o cinquentão Willis saltando de um caminhão para a asa de um caça militar não era algo que justificava a verossimilhança, mesmo que relativa, pela qual as suas aventuras ficaram conhecidas), mas possuía algumas boas sacadas. Duro de Matar – Um Bom Dia Para Morrer vai pelo mesmo caminho, porém com muito mais erros do que acertos dessa vez.
                                             
Após um prólogo que revela o plot através do mesmo artifício empregado no segundo exemplar da série, somos reapresentados a John (e sua primeira aparição, dando tiros em direção à tela, é um momento de rara inspiração da direção insossa de John Moore), e logo a trama se descortina. O policial precisa ir a Moscou livrar seu filho Jack, com quem não mantém boas relações, de um problema envolvendo o governo e atividades de espionagem. Chegando lá, como era de se esperar, McClane acaba enfrentando dezenas de vilões armados. E Logicamente, como ficou clichê nas produções recentes do gênero, as aparências enganam.

A repetição não é um problema em se tratando de Duro de Matar, e por isso não é muito confortável ver a série respirando novos ares. A fotografia recheada de cores frias (mas que apresenta um ensolarado tom de laranja quando algumas lembranças vêm à tona) até que é um acerto, mas a trama diferente peca, e muito, pelo abraço a causas escusas. Os vilões do cinema movido à testosterona tendem a refletir o presente. Se em 4.0 Thomas Gabriel era a personificação do pavor americano, o inimigo íntimo, o terrorista que conhece a América como a palma da mão, dessa vez os EUA, representados por John McClane (que é inclusive chamado de cowboy, o genuíno herói americano, assim como o era no original de 88), vão ao território estrangeiro com uma justificativa aceitável, e acabam se metendo em uma guerra que não é deles. Qualquer semelhança com os recentes filmes do gênero não é mera coincidência.

Pois se John McClane é o mesmo de sempre, o que mudou? A resposta é simples: o que mudou foi a própria natureza do filme de ação. Hoje em dia o que vale é ser veloz e furioso, disparar projéteis sem parar, explodir tudo, ao invés de fazer tudo isso porque é a única coisa a ser feita. Em tempos como esse, o obsoleto policial de Nova York, que no passado venceu os irmãos Grüber justamente por fazer as coisas do jeito mais old school possível, hoje perde a batalha por causa de seu maior charme, o de ser um “relógio de corda na era digital”.

Tomara que em sua próxima aparição nas telas (se houver mais alguma), nosso velho herói tenha os melhores parceiros: um diretor e um roteirista que o entendam.

A Good Day To Die Hard, John Moore, 2013 ½

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