Monday, July 01, 2013

Antes da Meia-Noite

Temos aqui um filme que é muitas coisas. É a aparente conclusão da história de amor entre Jesse e Céline, iniciada em Antes do Amanhecer, de 1995, e revisitada nove anos depois na obra-prima imbatível Antes do Pôr-do-Sol. É também a prova de que Ethan Hawke e Julie Delpy são roteiristas competentes, estando pela segunda vez na autoria de um texto da série, ao lado de Richard Linklater, um dos melhores – e mais subestimados – diretores de sua geração.

Mas, tirando esses quesitos mais palpáveis da feitura do longa ou da justiça a ser feita e partindo para o lado mais poético da coisa, Antes da Meia-Noite é, acima de tudo, um filme sobre o tempo.

Essa conclusão sobre o fato de a narrativa e a direção de Linklater fazerem constantes comentários sobre como a passagem do tempo é fascinante encontra ecos em muitos momentos da projeção, como quando Jesse descreve para um grupo de amigos seus planos para um novo romance (bastante calcado em memórias), ou no momento em que, durante um almoço, um jovem casal conta sobre como haviam se conhecido e como mantiveram contato mesmo morando bem distantes um do outro, sob os olhos nostálgicos de Jesse e Céline.

O próprio casal serve como ponto de observação quando o colocamos em comparação com os dois longas anteriores. Se em antes eles andavam o tempo quase todo, parando de vez em quando, aqui é exatamente o contrário: eles parecem um pouco cansados (não um do outro, mas de si mesmos), e por isso eles andam muito menos, permanecendo bastante tempo sentados, praticamente deixando claro que Amanhecer e Pôr-do-Sol eram sobre a vida em movimento, e Meia-Noite é sobre a natureza transitória das coisas, e o estado de estagnação a que inevitavelmente se chega cedo ou tarde.

Todas as cenas, seja com os personagens caminhando ou sentados, são captadas com precisão por Linklater, que mostra um controle absurdo sobre o processo de filmar, e sobre todos os detalhes de composição que podem gerar significado em cada sequência. Como no diálogo entre Jesse e Hank, que abre a narrativa. Notamos facilmente como a cor do figurino dos personagens (e dos figurantes também) representa os sentimentos gerados por aquele momento, e o tom da conversa. Outro bom exemplo é a longa e brilhante sequência, praticamente sem cortes, em que Jesse e Céline conversam no carro.

Os diálogos seguem a cartilha da série, em especial do filme do meio. Vão do geral ao pessoal, da sociopolítica ao romance, da paz ao caos em questão de minutos, sem que percebamos em que momento os assuntos se misturaram e foram se substituindo gradualmente. Co-autor de todas as partes da trilogia, Linklater mostra um conhecimento sobre os personagens e as relações construídas entre eles e o espectador ao longo de quase vinte anos. Hawke e Delpy, por sua vez, adicionam um componente emocional que difere de Antes do Amanhecer não em intensidade, mas em natureza, retratando o casal vivido por eles mesmos pela terceira vez como duas pessoas inteligentíssimas e propensas aos efeitos da passagem das décadas, mas a quem nunca cansamos de ouvir.

A linda história de amor entre Jesse e Céline pode ter chegado a um fim, mas o faz com coerência, pois mantém qualidade e desenvolve continuamente seus protagonistas e sua narrativa. Pode não ser melhor que Antes do Pôr-do-Sol (que era cínico, menos povoado, e inclusive mais ambicioso tecnicamente), mas é certamente um dos grandes filmes do ano.

Before Midnight, Richard Linklater, 2013 

2 comments:

joao said...

não é um dos grandes do ano. É um dos grandes da história rs. E acho Antes do Por do Sol o menos excelente dos 3

Raquel Raposo said...

Esse filme é lindo demais!!!
Mas, da trilogia, eu ainda prefiro o primeiro.