Temos
aqui um filme que é muitas coisas. É a aparente conclusão da história de amor
entre Jesse e Céline, iniciada em Antes
do Amanhecer, de 1995, e revisitada nove anos depois na obra-prima
imbatível Antes do Pôr-do-Sol. É
também a prova de que Ethan Hawke e Julie Delpy são roteiristas competentes,
estando pela segunda vez na autoria de um texto da série, ao lado de Richard Linklater,
um dos melhores – e mais subestimados – diretores de sua geração.
Mas,
tirando esses quesitos mais palpáveis da feitura do longa ou da justiça a ser
feita e partindo para o lado mais poético da coisa, Antes da Meia-Noite é, acima de tudo, um filme sobre o tempo.
Essa
conclusão sobre o fato de a narrativa e a direção de Linklater fazerem
constantes comentários sobre como a passagem do tempo é fascinante encontra
ecos em muitos momentos da projeção, como quando Jesse descreve para um grupo
de amigos seus planos para um novo romance (bastante calcado em memórias), ou
no momento em que, durante um almoço, um jovem casal conta sobre como haviam se
conhecido e como mantiveram contato mesmo morando bem distantes um do outro,
sob os olhos nostálgicos de Jesse e Céline.
O
próprio casal serve como ponto de observação quando o colocamos em comparação
com os dois longas anteriores. Se em antes eles andavam o tempo quase todo,
parando de vez em quando, aqui é exatamente o contrário: eles parecem um pouco
cansados (não um do outro, mas de si mesmos), e por isso eles andam muito
menos, permanecendo bastante tempo sentados, praticamente deixando claro que Amanhecer e Pôr-do-Sol eram sobre a vida em movimento, e Meia-Noite é sobre a natureza transitória das coisas, e o estado de
estagnação a que inevitavelmente se chega cedo ou tarde.
Todas
as cenas, seja com os personagens caminhando ou sentados, são captadas com
precisão por Linklater, que mostra um controle absurdo sobre o processo de
filmar, e sobre todos os detalhes de composição que podem gerar significado em
cada sequência. Como no diálogo entre Jesse e Hank, que abre a narrativa.
Notamos facilmente como a cor do figurino dos personagens (e dos figurantes
também) representa os sentimentos gerados por aquele momento, e o tom da
conversa. Outro bom exemplo é a longa e brilhante sequência, praticamente sem
cortes, em que Jesse e Céline conversam no carro.
Os
diálogos seguem a cartilha da série, em especial do filme do meio. Vão do geral
ao pessoal, da sociopolítica ao romance, da paz ao caos em questão de minutos,
sem que percebamos em que momento os assuntos se misturaram e foram se
substituindo gradualmente. Co-autor de todas as partes da trilogia, Linklater
mostra um conhecimento sobre os personagens e as relações construídas entre
eles e o espectador ao longo de quase vinte anos. Hawke e Delpy, por sua vez,
adicionam um componente emocional que difere de Antes do Amanhecer não
em intensidade, mas em natureza, retratando o casal vivido por eles mesmos pela
terceira vez como duas pessoas inteligentíssimas e propensas aos efeitos da
passagem das décadas, mas a quem nunca cansamos de ouvir.
A
linda história de amor entre Jesse e Céline pode ter chegado a um fim, mas o
faz com coerência, pois mantém qualidade e desenvolve continuamente seus protagonistas
e sua narrativa. Pode não ser melhor que Antes
do Pôr-do-Sol (que era cínico, menos povoado, e inclusive mais ambicioso
tecnicamente), mas é certamente um dos grandes filmes do ano.
Before Midnight, Richard Linklater, 2013 

2 comments:
não é um dos grandes do ano. É um dos grandes da história rs. E acho Antes do Por do Sol o menos excelente dos 3
Esse filme é lindo demais!!!
Mas, da trilogia, eu ainda prefiro o primeiro.
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