Em
certo momento de Guerra Mundial Z, Gerry Lane acorda à noite e procura
desesperadamente por sua filha mais nova. Tranquiliza-se apenas quando vê a
pequena dormindo no banheiro, protegida por Tomas, um menino que acaba se
tornando quase parte da família. Se por um lado é realmente tocante ver o desespero
do pai, por outro se torna quase inegável sentir que a presença de Brad Pitt em
cena enfraquece o caráter universal de tal cena.
Não
quero com isso diminuir o trabalho e, principalmente, a coragem do astro ao
embarcar em uma produção de gênero como essa. Mesmo sendo uma superprodução
(abusando de todos os atributos de um arrasa-quarteirão atual: tiros, explosões
e CGI), a adaptação do livro homônimo de Max Brooks é mais um filme a abordar
um assunto em voga (nesse caso, o crescimento populacional desordenado e a
desigualdade financeira gerada por ele) através do apocalipse zumbi. Os mortos-vivos
pertencem a um nicho pop, e
geralmente são mortos por rostos menos conhecidos nas telas, e por isso a
presença de Pitt torna-se um dilema: se por um lado atesta a intenção de Guerra
Mundial Z de ser um blockbuster
convencional (com direito à imagem do pai capaz de tudo pela família), apesar
de com tutano, por outro nos causa estranheza vê-lo empunhar um machado para se
defender de uma horda de mortos.
Não
que o diretor Marc Forster se acanhe pela presença do ator. Dono de uma
carreira reconhecidamente eclética, ele realiza um filme de gênero atual e, em
alguns momentos, realmente poderoso. O cineasta esconde os desmembramentos e o
sangue que normalmente jorra em produções do tipo (provavelmente para pegar uma
censura mais baixa, como um bom filme de verão), mas compensa com a criação de
tensão digna de almanaque, em cenas que figuram desde já entre as melhores de
sua carreira. A perseguição de bicicleta, o túnel vermelho e o avião são
montanhas-russas emocionais, responsabilidade de um cineasta acostumado com
elas.
Pena
que o roteiro não siga a inteligência visual do comando de Forster. Escrita a
oito (!) mãos, a trama que segue Gerry Lane, ex-investigador da ONU em busca de
respostas e uma cura para o vírus que assolou o planeta, transformando as
pessoas em zumbis velocistas (na tradição de Extermínio e Madrugada dos Mortos)
começa muito bem, mas logo passa a se resumir a viagens para diversos cantos do
mundo. O protagonista busca uma solução, mas só encontra o caos. Aí, apesar de
distante na abordagem, o longa se assemelha ao romance de Brooks (que não li),
que segue um jornalista e seus relatos sobre a destruição do mundo pelos
mortos-vivos. Em alguns momentos, o texto transforma a jornada de Gerry em uma
espécie de videogame (uma espécie de Call of Duty zumbi), com suas andanças
pelo globo, suas mudanças bruscas de cenários e seus novos desafios a cada fase
avançada. Em outros, não parece se preocupar muito com o comentário social que
ameaçou fazer no início da projeção.
Afinal,
não é à toa a relação do herói (interpretado por Brad Pitt, essa é a melhor
descrição do personagem) com as Nações Unidas, como também não é coincidência a
epidemia se espalhar primeiro nas camadas mais baixas da pirâmide social (a classe
econômica do avião é o exemplo mais belo). Mas quase sempre Guerra Mundial Z
dilui seu potencial crítico em toneladas de efeitos especiais que funcionam
muito bem, é verdade, e criam, com o apuro estético de Marc Forster, uma visão
desoladora de mundo. Porém, no fim das contas, fica a decepção de ver um filme
que poderia ser memorável se tornar apenas um passatempo. Inteligente e delicioso,
sim, mas somente um passatempo.
World War Z, Marc Forster, 2013 

3 comments:
Eu também achei o filme bem legal...
A cena da pirâmide de zumbis é linda!! =D
achei bem chato. cansei de ve-los correndo pra lá e pra cá
até gostei da solução final do filmem, mas depois pensando, não acho que faça muito sentido.
um filme digno do mané que o dirigiu. Ruim, frio e arrastado. mas dando o braço a torcer: as cenas de ação são realemente boas, eu julgava que ele não era capaz disso
achei bem chato. cansei de ve-los correndo pra lá e pra cá
até gostei da solução final do filmem, mas depois pensando, não acho que faça muito sentido.
um filme digno do mané que o dirigiu. Ruim, frio e arrastado. mas dando o braço a torcer: as cenas de ação são realemente boas, eu julgava que ele não era capaz disso
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