Tuesday, July 09, 2013

Guerra Mundial Z


Em certo momento de Guerra Mundial Z, Gerry Lane acorda à noite e procura desesperadamente por sua filha mais nova. Tranquiliza-se apenas quando vê a pequena dormindo no banheiro, protegida por Tomas, um menino que acaba se tornando quase parte da família. Se por um lado é realmente tocante ver o desespero do pai, por outro se torna quase inegável sentir que a presença de Brad Pitt em cena enfraquece o caráter universal de tal cena.

Não quero com isso diminuir o trabalho e, principalmente, a coragem do astro ao embarcar em uma produção de gênero como essa. Mesmo sendo uma superprodução (abusando de todos os atributos de um arrasa-quarteirão atual: tiros, explosões e CGI), a adaptação do livro homônimo de Max Brooks é mais um filme a abordar um assunto em voga (nesse caso, o crescimento populacional desordenado e a desigualdade financeira gerada por ele) através do apocalipse zumbi. Os mortos-vivos pertencem a um nicho pop, e geralmente são mortos por rostos menos conhecidos nas telas, e por isso a presença de Pitt torna-se um dilema: se por um lado atesta a intenção de Guerra Mundial Z de ser um blockbuster convencional (com direito à imagem do pai capaz de tudo pela família), apesar de com tutano, por outro nos causa estranheza vê-lo empunhar um machado para se defender de uma horda de mortos.

Não que o diretor Marc Forster se acanhe pela presença do ator. Dono de uma carreira reconhecidamente eclética, ele realiza um filme de gênero atual e, em alguns momentos, realmente poderoso. O cineasta esconde os desmembramentos e o sangue que normalmente jorra em produções do tipo (provavelmente para pegar uma censura mais baixa, como um bom filme de verão), mas compensa com a criação de tensão digna de almanaque, em cenas que figuram desde já entre as melhores de sua carreira. A perseguição de bicicleta, o túnel vermelho e o avião são montanhas-russas emocionais, responsabilidade de um cineasta acostumado com elas.

Pena que o roteiro não siga a inteligência visual do comando de Forster. Escrita a oito (!) mãos, a trama que segue Gerry Lane, ex-investigador da ONU em busca de respostas e uma cura para o vírus que assolou o planeta, transformando as pessoas em zumbis velocistas (na tradição de Extermínio e Madrugada dos Mortos) começa muito bem, mas logo passa a se resumir a viagens para diversos cantos do mundo. O protagonista busca uma solução, mas só encontra o caos. Aí, apesar de distante na abordagem, o longa se assemelha ao romance de Brooks (que não li), que segue um jornalista e seus relatos sobre a destruição do mundo pelos mortos-vivos. Em alguns momentos, o texto transforma a jornada de Gerry em uma espécie de videogame (uma espécie de Call of Duty zumbi), com suas andanças pelo globo, suas mudanças bruscas de cenários e seus novos desafios a cada fase avançada. Em outros, não parece se preocupar muito com o comentário social que ameaçou fazer no início da projeção.

Afinal, não é à toa a relação do herói (interpretado por Brad Pitt, essa é a melhor descrição do personagem) com as Nações Unidas, como também não é coincidência a epidemia se espalhar primeiro nas camadas mais baixas da pirâmide social (a classe econômica do avião é o exemplo mais belo). Mas quase sempre Guerra Mundial Z dilui seu potencial crítico em toneladas de efeitos especiais que funcionam muito bem, é verdade, e criam, com o apuro estético de Marc Forster, uma visão desoladora de mundo. Porém, no fim das contas, fica a decepção de ver um filme que poderia ser memorável se tornar apenas um passatempo. Inteligente e delicioso, sim, mas somente um passatempo.

World War Z, Marc Forster, 2013 

3 comments:

Raquel Raposo said...

Eu também achei o filme bem legal...
A cena da pirâmide de zumbis é linda!! =D

joão said...

achei bem chato. cansei de ve-los correndo pra lá e pra cá
até gostei da solução final do filmem, mas depois pensando, não acho que faça muito sentido.

um filme digno do mané que o dirigiu. Ruim, frio e arrastado. mas dando o braço a torcer: as cenas de ação são realemente boas, eu julgava que ele não era capaz disso

joão said...

achei bem chato. cansei de ve-los correndo pra lá e pra cá
até gostei da solução final do filmem, mas depois pensando, não acho que faça muito sentido.

um filme digno do mané que o dirigiu. Ruim, frio e arrastado. mas dando o braço a torcer: as cenas de ação são realemente boas, eu julgava que ele não era capaz disso