Sunday, July 14, 2013

O Homem de Aço

Assistir ao novo Superman é uma experiência curiosa. Para mim, como fã do personagem nos quadrinhos e nas telas (acho o filme de 1978 uma quase obra-prima, e sou defensor ferrenho de Superman – O Retorno, de 2006), assistir ao herói voando e defendendo a Terra é extremamente gratificante, ainda mais com as inteligentes soluções visuais do diretor Zack Snyder para as demonstrações de poder e as cenas de batalha. Já como realização cinematográfica, O Homem de Aço vem com a assinatura de Christopher Nolan, cineasta responsável pela melhor fase do Batman nas telas mas que aqui, nas posições de roteirista e produtor, repete apenas os seus piores vícios narrativos, comprometendo e muito o resultado.

Escrita por Nolan (argumento) e David S. Goyer (argumento e roteiro), a trama aborda a história de Clark Kent desde seu nascimento, no fim de Krypton, quando o personagem ainda era Kal-El. Todo o primeiro ato, focado no planeta natal do protagonista, é extremamente interessante, com um Zack Snyder se impondo como uma linguagem interessante para transmitir a sensação de urgência do momento vivido pelo lugar. Ali, somos apresentados ao General Zod (intrpretado pelo ótimo Michael Shannon) em sua tentativa de golpe para tomar o poder à força (e o fim das seqüências que retratam a decadência da sociedade kryptoniana fará os fãs de Superman II suspirarem). Como sabemos (e já foi mostrado muitas vezes), Kal-El é mandado por seus pais biológicos para a Terra, caindo em uma fazenda do Kansas, e sendo criado e educado por Jonathan e Martha Kent (e a escalação de Kevin Costner e Diane Lane para viver o casal mostra competência na escolha do elenco).

Existe aqui a grande qualidade de termos uma história nova. E quando digo nova, é nova mesmo, pois apesar de respeitar a história original aqui e ali, o longa geralmente se permite tomar liberdades criativas que os outros filmes sobre o Super-Homem nunca tomaram. Sendo mais uma história de origem na tradição de Batman Begins (que também havia sido escrito por Nolan e Goyer), as relações entre o protagonista e alguns personagens-chave dos quadrinhos e dos longas anteriores são modificadas, em uma manobra arriscada, mas que precisa ser louvada pela coragem. Entre tais mudanças, a participação de Lois Lane na vida pré-Planeta Diário de Clark é a mais significativa, virando as costas para o cânone e alterando o curso que os próximos filmes da saga tomarão a partir de agora.

Outro ponto que merece destaque são as boas soluções apresentadas pelo roteiro e pela direção de Snyder para questões que poderiam ser problemas, mas que funcionam muito bem. Os combates entre Superman e seus inimigos kryptonianos são filmados com energia e megalomania, na tentativa de dar dimensão aos poderes do último filho de Krypton. Durante as cenas de pancadaria contra Zod (um grande vilão, vale apontar), o estilo visual da abordagem do diretor lembrou as batalhas mais clássicas de Dragonball Z, o que torna os poderes do herói palpáveis como nunca antes nas aventuras do personagem nas telas e (juntamente com outras características pontuais, como a explicação para a existência do traje e as referências a Margot Kidder nos figurinos setentistas de Amy Adams, por exemplo) refresca o Superman .

Mas se tais momentos merecem destaque, o mesmo não pode ser dito sobre o desenvolvimento problemático de temas cruciais de O Homem de Aço. A excessiva dramatização da narrativa (desde a fotografia escurecida, ao contrário dos outros filmes do herói), que transforma o bom ator Henry Cavill em uma caricatura sisuda e amargurada de Clark, conspira contra o bom andamento da empreitada. Existe (como sempre nos textos de Nolan) um pensamento de que trajetória é tragédia que se aplica com homogeneidade à trama, mas que enfraquece o produto por aproximar o filme da trilogia O Cavaleiro das Trevas. A narrativa gasta muito tempo investigando a natureza do heroísmo, retratando atos pré-Super-Homem de Clark, seus questionamentos sobre sua natureza, e sua revolta adolescente, antes de se deitar sobre o que realmente importa.

Falta também sutileza ao longa. Assim como a personagem de Ellen Page está em A Origem apenas para servir de desculpa do roteiro para mastigar a trama, O Homem de Aço também não parece acreditar na inteligência do espectador. A todo momento somos obrigados a ouvir do Dr. Emil Hamilton explicações detalhadas do que está acontecendo, como se as próprias imagens não falassem por si só. A ausência de cuidado se dá também nas referências ao Cristianismo (que sempre foi um tema caro às histórias do super-herói), lançadas com insistência por Snyder, Goyer e Nolan. A idade do personagem, o momento em que Superman salta de uma nave com os braços abertos , e a cena que mostra Clark curando uma personagem (“Eu posso fazer coisas que as outras não podem”), são citações grosseiras e que careciam de um tratamento mais redondo.

Temos aqui um filme de momentos. Quando acerta, ele empolga, enche os olhos, e nos faz acreditar que estamos diante do filme de super-herói perfeito. Quando derrapa, nos faz lembrar de como os seus realizadores não são imbatíveis, já tendo feito filmes problemáticos, e de como O Homem de Aço se beneficiaria de um pouco mais de classe. Vamos esperar e torcer para que ela dê as caras nas prováveis continuações, para que Superman estrele uma aventura à sua altura.

Man of Steel, Zack Snyder, 2013 ½

4 comments:

joão said...

Não se se vejo, mas Nolan é um dos criadores da história, mas não é roteirista do filme

e acho que elen page em a origem é fundamental, afinal a trama precisa ser explicada

Vitor said...

Na verdade, o criador da história do filme é do Goyer. O Nolan escreveu o argumento e o primeiro tratamento do roteiro, o que (juntamente com os poderes dados a ele pelo estúdio) o transforma no grande responsável criativo por O Homem de Aço.

Raquel Raposo said...
This comment has been removed by the author.
Raquel Raposo said...

O filme é muito bom.

Acho toda a parte em Krypton sensacional. E achei chatos os momentos pré-Super-Homem de Clark: quando ele salva o pessoal na plataforma, quando ele tá no bar...