Assistir
ao novo Superman é uma experiência curiosa. Para mim, como fã do personagem nos
quadrinhos e nas telas (acho o filme de 1978 uma quase obra-prima, e sou
defensor ferrenho de Superman – O Retorno, de 2006), assistir ao herói voando e
defendendo a Terra é extremamente gratificante, ainda mais com as inteligentes
soluções visuais do diretor Zack Snyder para as demonstrações de poder e as
cenas de batalha. Já como realização cinematográfica, O Homem de Aço vem com a
assinatura de Christopher Nolan, cineasta responsável pela melhor fase do Batman nas telas mas que aqui, nas posições de roteirista e produtor, repete
apenas os seus piores vícios narrativos, comprometendo e muito o resultado.
Escrita
por Nolan (argumento) e David S. Goyer (argumento e roteiro), a trama aborda a história de Clark Kent desde seu
nascimento, no fim de Krypton, quando o personagem ainda era Kal-El. Todo o
primeiro ato, focado no planeta natal do protagonista, é extremamente
interessante, com um Zack Snyder se impondo como uma linguagem interessante
para transmitir a sensação de urgência do momento vivido pelo lugar. Ali, somos
apresentados ao General Zod (intrpretado pelo ótimo Michael Shannon) em sua
tentativa de golpe para tomar o poder à força (e o fim das seqüências que
retratam a decadência da sociedade kryptoniana fará os fãs de Superman II
suspirarem). Como sabemos (e já foi mostrado muitas vezes), Kal-El é mandado
por seus pais biológicos para a Terra, caindo em uma fazenda do Kansas, e sendo
criado e educado por Jonathan e Martha Kent (e a escalação de Kevin Costner e
Diane Lane para viver o casal mostra competência na escolha do elenco).
Existe
aqui a grande qualidade de termos uma história nova. E quando digo nova, é nova
mesmo, pois apesar de respeitar a história original aqui e ali, o longa
geralmente se permite tomar liberdades criativas que os outros filmes sobre o
Super-Homem nunca tomaram. Sendo mais uma história de origem na tradição de
Batman Begins (que também havia sido escrito por Nolan e Goyer), as relações
entre o protagonista e alguns personagens-chave dos quadrinhos e dos longas
anteriores são modificadas, em uma manobra arriscada, mas que precisa ser
louvada pela coragem. Entre tais mudanças, a participação de Lois Lane na vida
pré-Planeta Diário de Clark é a mais significativa, virando as costas para o
cânone e alterando o curso que os próximos filmes da saga tomarão a partir de
agora.
Outro
ponto que merece destaque são as boas soluções apresentadas pelo roteiro e pela
direção de Snyder para questões que poderiam ser problemas, mas que funcionam
muito bem. Os combates entre Superman e seus inimigos kryptonianos são filmados
com energia e megalomania, na tentativa de dar dimensão aos poderes do último
filho de Krypton. Durante as cenas de pancadaria contra Zod (um grande vilão, vale
apontar), o estilo visual da abordagem do diretor lembrou as batalhas mais
clássicas de Dragonball Z, o que torna os poderes do herói palpáveis como nunca antes nas aventuras do personagem nas telas e (juntamente com outras características
pontuais, como a explicação para a existência do traje e as referências a Margot
Kidder nos figurinos setentistas de Amy Adams, por exemplo) refresca o Superman .
Mas
se tais momentos merecem destaque, o mesmo não pode ser dito sobre o
desenvolvimento problemático de temas cruciais de O Homem de Aço. A excessiva
dramatização da narrativa (desde a fotografia escurecida, ao contrário dos
outros filmes do herói), que transforma o bom ator Henry Cavill em uma
caricatura sisuda e amargurada de Clark, conspira contra o bom andamento da
empreitada. Existe (como sempre nos textos de Nolan) um pensamento de que
trajetória é tragédia que se aplica com homogeneidade à trama, mas que
enfraquece o produto por aproximar o filme da trilogia O Cavaleiro das Trevas.
A narrativa gasta muito tempo investigando a natureza do heroísmo, retratando
atos pré-Super-Homem de Clark, seus questionamentos sobre sua natureza, e sua
revolta adolescente, antes de se deitar sobre o que realmente importa.
Falta
também sutileza ao longa. Assim como a personagem de Ellen Page está em A
Origem apenas para servir de desculpa do roteiro para mastigar a trama, O Homem
de Aço também não parece acreditar na inteligência do espectador. A todo
momento somos obrigados a ouvir do Dr. Emil Hamilton explicações detalhadas do
que está acontecendo, como se as próprias imagens não falassem por si só. A
ausência de cuidado se dá também nas referências ao Cristianismo (que sempre foi
um tema caro às histórias do super-herói), lançadas com insistência por Snyder, Goyer e Nolan. A idade do personagem, o momento em que Superman salta de uma nave com os
braços abertos , e a cena que mostra Clark curando uma personagem
(“Eu posso fazer coisas que as outras não podem”), são citações grosseiras e
que careciam de um tratamento mais redondo.
Temos
aqui um filme de momentos. Quando acerta, ele empolga, enche os olhos, e nos faz
acreditar que estamos diante do filme de super-herói perfeito. Quando derrapa,
nos faz lembrar de como os seus realizadores não são imbatíveis, já tendo feito
filmes problemáticos, e de como O Homem de Aço se beneficiaria de um pouco mais
de classe. Vamos esperar e torcer para que ela dê as caras nas prováveis
continuações, para que Superman estrele uma aventura à sua altura.
Man of Steel, Zack Snyder, 2013
½

4 comments:
Não se se vejo, mas Nolan é um dos criadores da história, mas não é roteirista do filme
e acho que elen page em a origem é fundamental, afinal a trama precisa ser explicada
Na verdade, o criador da história do filme é do Goyer. O Nolan escreveu o argumento e o primeiro tratamento do roteiro, o que (juntamente com os poderes dados a ele pelo estúdio) o transforma no grande responsável criativo por O Homem de Aço.
O filme é muito bom.
Acho toda a parte em Krypton sensacional. E achei chatos os momentos pré-Super-Homem de Clark: quando ele salva o pessoal na plataforma, quando ele tá no bar...
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